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    ENCERRO A CHAMADA DE VÍDEO assim que Lys diz tchau, não tenho muito tempo então dessa vez não posso implorar para que ela me conte mais sobre as coisas que acontecem lá em casa. Saio da cabine do banheiro e dou uma última olhada no meu cabelo, o salão do restaurante já está arrumado, eu nunca chego cedo como todo mundo, pelo menos não na semana, na parte da manhã eu faço faculdade de moda na Academia de Moda e Design, foi um surto todo quando consegui uma bolsa, eu surtei ainda mais por ser na Itália, eu sempre quis morar aqui.

    Pego alguns planfetos e vou para a parte exterior do local, vejo algumas pessoas passando, todas conversam animadas e a grande maioria não nota minha presença, encaro a praia e me perco nos meus pensamentos. Na semana passada Lys me contou que minha mãe teve um encontro, o primeiro desde que meus pais se separaram, eu fiquei realmente feliz com a novidade, ela também me disse que as coisas entre ela e seu namorado estão indo bem também, e isso é realmente uma loucura, eu pensei que com toda a agitação da carreia dele isso poderia causar um distanciamento dos dois, mas isso não aconteceu, eles se encontram sempre que podem e parecem ainda mais apaixonados, tenho certeza que quando ela terminar sua pós, eles ficaram juntos o tempo todo.

    Dahlia é a única casada e até agora não deu um neto para minha mãe que fica muito triste com isso, eu não queria carregar esse fardo e ainda bem que sou a mais nova, vai demorar de chegar minha vez, não receberei essa pressão tão cedo.

    Sinto um cutucão no meu braço e demoro um pouco para assimilar que estou no trabalho.

— Silèneeeee. — Toni me chama, ele é o sub chefe do restaurante.

— O que aconteceu? — faço referência ao grito desnecessário.

— Já tem clientes lá dentro, vá atendê-los. — concordo e tento afastar meus pensamentos.

(...)

    O dia nunca passa rápido quando a gente quer muito que ele acabe e hoje não foi diferente, depois do almoço a movimentação é sempre baixa, algumas pessoas aparecem para tomar café e outras para comprar um gelato, e é só isso, não precisei sair nenhuma vez de perto do balcão, imagino que tudo melhore daqui a duas semanas, as férias de verão vão trazer todos os turistas empolgados e os italianos que querem um pouco de descanso e pela primeira vez nesses quase 4 anos trabalhando aqui, eu tirarei férias também, o que é magnífico. Vou estar em casa e vou conseguir matar a saudade da minha família, só preciso me manter positiva.

— Hora de fechar. — nossa gerente grita e eu vou em direção a porta, olho de um lado para o outro, está tudo vazio, tranco e viro a plaquinha anunciando que agora só vamos abrir para o jantar.

    Nós fechamos por apenas duas horas mas é o tempo necessário para que a galera da cozinha se organize para o restante da noite, que é quando isso aqui enche, todos querem um happy hour depois de um dia cheio.

    Limpo todas as mesas que já estavam limpas porque preciso reforçar que faço um bom trabalho antes de ir terminar meus trabalhos.

    Eu estou louca com essa matéria mas preciso me esforçar, não tem como eu ficar de recuperação, não quando tenho planos para as férias.

    Meu celular vibra no bolso traseiro da calça e eu me permito espiar o que é, reviro os olhos quando vejo que é um email da turma do ensino médio, a maioria das escolas organizam encontros de dez anos apósa formatura, mas algum colega desocupado organizou por conta própria um encontro apenas cinco anos após, digo desocupado e rico, sei que o encontro foi marcado aqui na Itália porque o tal aluno tem uma casa aqui e ofereceu hospedagem para todos. Eu não confirmei minha presença porque não tenho intenção alguma de ir, encontrei Joanne e Harriet no natal passado e não quero correr o risco de encontrar Owen. Não quero mesmo!

    Volto minha atenção para o que realmente importa e tenho sucesso nisso, consigo terminar um trabalho e adiantar uma atividade antes da reabertura do restaurante.

— Silèneeeee. — corro até a cozinha assustada, as pessoas estão gritando demais o meu nome hoje.

— Oi. — todos estão encostados ou apoiados em algum lugar e comem com bastante vontade.

— Você já comeu? — Lorenzo, o nosso chefe de cozinha pergunta.

— Ainda não. — ele vai até o fogão e pega uma pequena panela.

— Separei um pouco para você. — pego a panela da sua mão e como todos já imaginam faço minha refeição nela mesmo.

    Macarrão com pesto, um dos meus favoritos e sei que ele sabe disso.

    Após lavar minha panela, mesmo com Riccardo brigando comigo enquanto dizia que esse era o trabalho dele, deixo a cozinha, abro as portas para o salão e não demora muito para lotar.

    Equilibro bandejas e mais bandejas enquanto giro pelo salão, em alguns momentos me sinto confusa quando encontro grupos falando em outra língua e tento me sair bem.

    Estou para ir embora depois de ajudar a gerente a fechar o caixa e conferir se tudo foi trancado da forma certa quando mais uma vez o meu nome é chamado.

— Silèneeeee! — outra vez? Me viro com curiosidade, o que será agora? Um sorriso aparece no meu rosto quando noto que é a Anna.

— Estava bebendo naquela bar. — ela aponta para o mar e eu percebo que ela já bebeu demais. — E pensei, será que minha amiga Silène que trabalha aqui perto pode me hospedar em sua casa para que eu não morra em um acidente de trânsito. — seu tom de voz me faz rir, ela fala como criança.

— Tudo bem. — ela me entrega a chave do carro e me viro para me despedir de Carlota com um aceno. — Você deixou algumas roupas lá em casa, pode ir pra faculdade comigo, sem ter que passar na sua casa. — ela bate palminhas animada.

— Estou sentindo que amanhã vai ser um dia incrível. — será?

Flowers | SilèneOnde histórias criam vida. Descubra agora