4

4 1 0
                                    

    SINTO UMA DOR DE CABEÇA infernal assim que abro os olhos, a luz no quarto é forte demais, puxo o lençol até minha cabeça e cubro o rosto. Resmungo baixo enquanto passo a mão pelo colchão em busca do meu celular, fico novamente irritada com a luminosidade quando desbloqueio o aparelho, vejo algumas mensagens das meninas e fico realmente preocupada quando uma delas pergunta aonde estou, estou em casa certo?
    Respiro fundo antes de descobrir meu rosto, olho para o lado e um grito escapa da minha boca, o que o Owen tá fazendo aqui? Ou o que estou fazendo em um quarto com ele? Sinto meu coração parar quando percebo que estou nua.

— Silène. — ele me chama com os olhos ainda fechados, ignoro.

    Me jogo para fora da cama e me arrasto pelo quarto em busca da minha roupa, eu nem me olho no espelho antes de sair correndo pela porta.

— SILÈNE! — ele chama alto, mas é tarde demais.

    Pego o primeiro táxi que aparece e passo metade do caminho me auto criticando por ter provavelmente transado com meu ex. As garotas estão dormindo quando entro em casa, tomo um banho rápido e me arrumo mais rápido ainda, tenho certeza que só vou chegar a tempo para a terceira aula, quem marca uma festa no meio da semana?
    Deixo um bilhete na mesa, explicando que estou viva já que meu celular descarregou na metade do caminho.

— O que aconteceu com você? — Anna pergunta assim que vê.

— Noite ruim.

    Me afundo da cadeira e fico acordada apenas para responder a chamada, minutos depois já estou dormindo. Acordo no final da última aula, esse foi um dia de aula perdido, só cheguei a tempo para a terceira aula e dormi por mais duas.

— Eu não sei o que aconteceu com você hoje. — minha professora começa. — Mas vou manter a presença nas últimas aulas, mesmo sabendo que você não estava completamente presente.

— Obrigada. — ela sorri, queria retribuir, só não consigo, sinto que posso vomitar a qualquer momento.

    Observo enquanto ela se afasta, penso em arrumar meu material, o mesmo material que nem saiu da minha bolsa hoje. Tomo outro remédio para dor de cabeça, ignorando todas as recomendações e sinto que estou pronta para ir trabalhar.

— Você não me escapa. — Anna segura meu braço assim que passo pela porta da sala. — O que você aprontou?

— Resumidamente? — pergunto olhando no relógio em meu pulso. — Fui para uma festa ontem a noite, bebi demais e acordei pelada na mesma cama que meu ex namorado.

— Silène! — ela está chamando minha atenção? — Não esperava isso de você, você nunca bebe quando saímos juntas.

— Alguém precisa cuidar de você né.

    Passamos pelo pátio e já posso ver o ponto cheio de alunos, não tenho chance de sentar se quero chegar no restaurante na hora certa.

— E o seu ex, é gato? — sinto um forte enjôo e me seguro muito para não vomitar no meu pé.

— Ele é legal. — minha resposta parece desistimular ela, que muda de assunto.

    Algumas conversas banais, Anna tenta me manter acordada até a chegada do ônibus e ela consegue, me sinto grata por conseguir um lugar e aproveito para dormir mais um pouco.

    Trinta minutos depois o celular vibra, esse é o tempo médio que demoro para chegar no restaurante, então sempre uso um cronômetro para me acordar e evitar que eu perca a parada certa.
    Me sinto incrivelmente melhor depois de vomitar por dez minutos seguidos, escovo os dentes umas duas vezes antes de ir até a cozinha, Lorenzo deixou uma porção gigantesca de arancini para mim, como tudo sem reclamar, comida boa quando se está com fome melhora tudo.
    Três comprimidos depois e me sinto como nova e bom, eu não teria outra opção, ruim ou não, eu tenho um dia inteiro de trabalho pela frente.

(...)

    Quando volto para casa as meninas ainda estão lá, nada como o privilégio de Harriet em trabalhar na empresa da família, Joanne é autônoma então escolhe seus horários.

— Boa noite. — minha voz sai quase como um sussurro, me sinto muito cansada.

    Me sento no tapete, perto delas, meu sofá é minúsculo, roubo uma almofada e faço de travesseiro antes de me deitar.

— Eu trouxe pizza. — aponto para a caixa que deixei na bancada da cozinha.

— Você está horrível. — a loira diz arrancando uma risada de Joanne. — Vai tomar banho, nós vamos arrumar as coisas para comermos.

— Ótima ideia. — concordo com um joinha. — Vai querer uma taça de vinho? — sinto meu estômago embrulhar.

— Please, no. — a risada delas me irrita.

    Com alguma dificuldade me levanto e caminho até o quarto, enquanto pego minha roupa posso escutar as duas conversando, fico com saudade da França, de ter esses momentos todas as semanas.
    Meu banho é rápido porque minha barriga está gritando de fome e eu também acho que não tenho forças suficientes para ficar muito tempo em pé.

— Você vai nos dizer como foi a sua noite depois que te deixamos na festa? — a pergunta é feita assim que me sento na cadeira, a tv está ligada e finjo me concentrar em Sexy and the City.

— Silène! — levo um cutucão no braço.

— Quando vocês saíram eu continuei bebendo e bebendo. — respiro fundo. — E aparentemente eu dormi com o Owen.

    Se não fosse pelos meus reflexos eu teria levado uma chuva de vinho, Joanne cospe toda bebida e agora tosse engasgada, fico em silêncio, eu teria a mesma reação se fosse ela, Harriet está em choque mas dá alguns tapinhas nas costas da amiga.

— Eu sei, eu sei.

— E como foi? — elas perguntaram em uníssono, seria engraçado se não fosse trágico.

— Eu acordei na mesma cama que ele, os dois sem roupa, eu bebi tanto ontem que não duvidei. — pausa. — Aí eu me lembrei, de termos nos beijado em um táxi, acho que isso confirma né? — queria que elas falassem que não, mas as duas concordam com a cabeça.

— Que fase amiga, que fase.

Flowers | SilèneOnde histórias criam vida. Descubra agora