AS MENINAS VOLTARAM PARA CASA no fim de semana, ter elas aqui comigo até o fim do meu semestre ia ser de grande ajuda, mas até as burguesas precisam trabalhar.
Estou tentando não surtar com esses últimos dias de aula, já fiz três provas e preciso me preparar para mais duas, ao mesmo tempo que quero saber logo os resultados para ter o prazer de comprar minhas passagens para a França não sei como vou reagir se tirar notas baixas.
Suspiro pela milésima vez e posso sentir Toni me encarando, viro o rosto bem rápido e comprovo minha suspeita, ele desvia o olhar no mesmo instante.— Queria comer bacon. — Lorenzo tosse e metade da água que ele estava bebendo vai parar no chão.
— Você tá bem? — ele se aproxima colocando a mão na minha testa.
Minha gerente parece confusa, os outros funcionários me encaram surpresos, agora que refleti preciso dizer que estou surpresa também.
— O que foi gente? — Carlota insiste.
— Ela é vegetariana. — o sub chefe carrancudo responde.
— Será que estou morrendo? — questiono, ninguém me leva a sério. — Vai saber meu corpo quer aproveitar de tudo antes de cair dura por aí.
— Pare de falar besteira e experimenta isso aqui. — nosso chef coloca um prato na minha frente e eu observo, parece muito bom. — Ravioli recheado de portobello.
Uma garfada e sinto que cheguei no céu, sua atenção está em mim, mas sei que não posso falar até que termine, não quero quebrar essa sensação. Os minutos seguintes são como o paraíso e tenho certeza que para Lorenzo foi a eternidade.
— Tem azeite trufado? — pergunto e ele responde com a cabeça. — É a melhor coisa que já comi.
— Você sempre diz isso Silène.
— Isso só prova que você se supera a cada dia. — ele ri de um jeito legal e fala palavras em italiano que eu ainda não sei a tradução.
— Vai entrar no menu do próximo semestre. — agora ele está falando com Carlota que concorda.
Olho para o relógio na parede e me apresso para lavar meu prato, Riccardo tenta me impedir e não consegue.
Os dois chefes principais estão conversando agora, Lorenzo é um homem baixinho e robusto, se eu não soubesse sua data de nascimento diria até que ele é muitos anos mais novo, ele tem uma energia jovial contagiante, já Toni é o oposto, ele é apenas três anos mais velho que eu e parece ter muito mais idade, não sei se é o fato dele nunca rir ou a mania que ele tem de me encarar. A gerente está conferindo o estoque com a ajuda do outro cozinheiro, enquanto os outros dois garçons já saíram da cozinha, preciso fazer o mesmo, em breve o restaurante vai abrir para o último turno e preciso me preparar para isso.
Limpo cada mesa bem devagar e quando estou perto de ir para a terceira os primeiros clientes entram, meu colega de função vai discretamente até a cozinha avisar o pessoal, eles estão se acomodando quando o sininho da porta indica mais clientes, é minha vez de ir atendê-los.(...)
— Você é tão legal sabia? — Anna aperta meu rosto, minha boca forma um biquinho. — Tão fofa.
Tento me desvencilhar das suas mãos de polvo e me afasto rapidamente antes que ela me agarre de novo. Estamos finalizando o último trabalho do semestre, ele não é algo obrigatório mas nosso professor nos deu um privilégio de salvarmos nossa média caso nossa nota da prova decepcione.
O som do alarme se espalha pelo apartamento e eu me levanto para conferir se as madeleines estão assadas, abro o forno e fico contente com o que vejo, giro o botão para desligar e em seguida tiro a bandeja deixando ela repousando em cima de um pano de prato na bancada.
Quando volto para a sala minha amiga já está deitada chão, seus cabelos ruivos estão espalhados pelo tapete.— Estão prontas?
— Sim, deixei elas esfriando. — um som de reprovação escapa da sua boca, reviro os olhos. — Me deixe revisar sua parte.
Pego os papéis que ela deixou na mesinha de centro e me encosto no braço do sofá para ler, Anna é realmente preguiçosa na maior parte do tempo, mas quando o assunto é história da moda, ela manda muito bem, agora eu só preciso juntar isso com as pesquisas que fiz durante meu intervalo no restaurante e teremos o trabalho concluído.
— Podemos comer? — ela pergunta seguido de um chorinho.
— Vem logo. — estendo a mão e ela se apoia em mim para levantar. — Você já decidiu a cobertura?
— Todas possíveis? — nego com a cabeça e empurro seu corpo até a cozinha.
— Minha mãe tinha o costume de mergulhar elas no chocolate branco e jogar raspas de limão depois. — ela fica pensativa e depois concorda.
— Você faz algumas assim e eu vou fazer o restante.
— Certo.
Enquanto corto o chocolate branco o máximo que consigo, observando enquanto ela pega rum, laranja e um pote com gotas de chocolate da geladeira, eu nem comi mas já sei que vai ser bom. Brigamos pelo microondas e mesmo sendo a dona da casa eu perco, quando finalmente consigo derreter o chocolate, misturo rapidamente com os raspas de limão, criei uma espécie de competição mental e sinto que preciso terminar primeiro que ela.
— Tá tudo bem garota? — Anna pergunta e eu começo a rir.
— Eu vou ganhar de você!
— Aí Silène para de ser competitiva.
— Terminei. — passo a última madeleine no chocolate branco e coloco no prato cor de rosa na minha frente.
— Me ajuda então, quero comer logo.
Passo meu dedo na cobertura dela e fico com inveja da combinação, ficou perfeito.
— Ficou bom né? — respondo com a boca fechada. — Sou mais legal que suas amigas francesas né? — concordo com a cabeça e já me apresso para fazer sinal de segredo com a mão.
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Flowers | Silène
Fanfiction"Eu reconheceria essa voz em qualquer lugar e isso me assusta" Silène se vê perdida quando um amor do passado volta a perturbar seu coração.