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PENSO EM DAR MEIA VOLTA E CORRER a procura de um taxi, mas as mãos de Joanne me agarram rapidamente, tento escapar só que é impossível.

— Nada disso mocinha, vamos entrar. — reviro os olhos e começo a andar em direção ao interior da casa.

Tem algumas pessoas na parte de fora, aceno apenas por educação, o jardim é grande e bonito, Harriet está nos esperando na entrada, ela tem uma taça de vinho na mão e parece feliz quando me vê, sorrio.

— Achei que você não viria. — esse era o plano.

— Vocês são muito boas na arte da persuasão. — Joanne fica feliz ao ouvir isso, reviro os olhos.

Eu não reconheço metade das pessoas e eu não sei como isso é possível, se passaram apenas cinco anos, eu deveria me lembrar de todo mundo.

— Só eu que não reconheço ninguém? — pergunto enquanto passamos pela sala, chegando enfim na cozinha.

— Ele convidou alguns youtubers. — socorro, agora preciso tomar cuidado para não passar vergonha, não quero viralizar na internet.

— Por que? — minhas amigas me olham como se eu fosse um ET.

— Porque ele é um youtuber.

Passo os minutos seguintes na internet, atrás de cada rede social do nosso anfitrião, fico espantada com a quantidade de seguidores, agora entendo o motivo dessa reunião, ele quer se autopromover.

— O que está fazendo escondida aí? — não acredito que alguém me achou, estou encostada em uma pilastra na parte de trás da casa, viro o rosto e encontro Jaheem me encarando.

— Descobrindo como o Francis ficou tão rico. — ele leva o dedo a minha boca e faz "shiu"

— Se ele ouvir você chamando ele pelo nome real ele surta. — meu colega ri e eu o acompanho, sua risada é ótima.

— Mil perdões. — levando as mãos em sinal de rendição.

— Não sei se deveria falar isso mas o Owen está te procurando. — ignoro seu comentário e ele continua. — Eu não deveria falar isso, só que desde aquele dia ele não parou de falar em você.

— Legal. — é a única coisa que consigo dizer, sua expressão é de decepção.

— Eu não sei o que aconteceu entre vocês, mas ele gosta de você, eu sei disso. — continuo em silêncio. — Agora vamos mudar de assunto. — agradeço mentalmente. — O que você faz aqui na Itália?

Acho que ele se arrepende da pergunta quando percebe que esse assunto me deixa animada, falo sobre como me senti quando ganhei a bolsa, a dificuldade no italiano e todas as coisas malucas que me aconteceram quando sai de Toulouse, ele me conta sobre seu trabalho na empresa do pai e o bico como modelo, o assunto só acaba quando entramos, porque fico apertada demais e não consigo mais segurar.

— Caramba vocês sumiram! — Harriet fala alto demais e percebo que ela está bêbada.

— Colocamos o papo em dia. — o moreno responde e eu concordo.

— É só comigo que você não fala? — a voz de Owen chama a atenção de todos no corredor, meus colegas riem.

— É.

(...)

Joanne tenta controlar minha amiga que insiste em dançar em cima da mesa, meu ex me encara o tempo todo, ele estava sentado do outro lado do cômodo bebendo um líquido azul que tenho certeza que é álcool 70% com corante.

Descobri a pouco que nosso amigo youtuber contratou um bartender, mas nesse curto periodo já bebi mais drinks que qualquer pessoa na festa.

Uma garota loira que reconheço depois de um tempo, empurra Harriet de cima da mesa e puxa o móvel para o canto, ela some e depois volta com uma garrafa na mão, sei o que vai acontecer e fico nervosa.

— Verdade ou desafio, estão todos convocados. — seu olhar mortal me assusta, na verdade eu acho que ela assustou todo mundo, em minutos todos que estavam nos cômodos próximos aparecem e começam a se ajustar em uma roda.

Saio ileza nas primeiras rodadas da brincadeira, gastei minhas três verdades disponíveis mas todas as perguntas eram fáceis, porém vi os seios de uma garota e descobri algo vergonhoso do nerd da sala, a garota loira, que se chama Sophie gira a garrafa mais uma vez, observo enquanto ela perde velocidade, sei que me ferrei quando ela para em mim e no Owen.

— Verdade ou desafio? — ele pergunta com um sorriso cínico.

— Verdade. — torço muito para que ninguém tenha contado.

— Seu limite de verdade acabou. — aí legal, o youtuber contou.

— Desafio então. — tento parecer relaxada mas não estou.

— Desafio você a ficar cinco minutos comigo em um dos quartos lá em cima.

Gritos e risadas, minhas amigas estão comemorando e eu só queria enfiar um murro nelas.

— Tudo bem. — viro o copo e termino de beber o vigésimo drink da noite, não me sinto intimidada por ele, talvez seja todo o álcool correndo meu corpo.

Me levanto e subo na frente, ele parece surpreso e demora um pouco para reagir, mais gritos, reviro os olhos.
Tranco a porta assim que ele entra no quarto.

— Devo me preocupar?

— Eu não vou te matar, só não quero ser surpreendida.

— Uffa.

Me sento na cama e ele faz o mesmo, coloco o cronômetro no meu celular e aponto na sua direção, início e deixo o aparelho de lado.

— O que você queria fazer nesses cinco minutos? — pergunto, garantindo que estou olhando bem nos olhos dele, esses olhos azuis que sempre me fizeram perder a cabeça.

Pulo na cama quando percebo o que estou pensando e Owen se assusta.

— Eu... eu queria fazer isso aqui. — sua mão vai até o meu pescoço e me puxa na sua direção, eu sei o que ele vai fazer mas não tento parar, segundos depois estamos nos beijando, parece que esperei muito por isso, porque fico desesperada toda vez que paramos para respirar.

O alarme apita, escuto um gemido de frustração e eu agradeço, as coisas evoluíram muito rápido em pouco tempo e tenho medo do que poderia acontecer se não tivéssemos um tempo limite.

Tento me convencer de que só beijei ele para provar que encaro desafios. Vou direto para o bar ignorando a enorme roda no meio da sala, o loiro aparece alguns minutos depois e se junta a eles, queria entender porque ele demorou tanto.

Levo algum tempo para notar que Harriet também não está na roda, depois que as pessoas enjoam da brincadeira acho minha amiga vomitando no jardim, mando uma mensagem para Joanne que aparece logo depois.

— Vou chamar um Uber pra vocês. — entrego a chave do meu apartamento.

— Por que não vai com a gente?

— Quero ficar sozinha. — ela parece desconfiada, torço para que um interrogatório não comece.

— Tudo bem, deixo a reserva no tapete. — sussurro um "ok". — Ainda fica dentro da gaveta da cozinha? — concordo.

Espero o carro sumir para ir atrás de mais drinks, Jaheem está discutindo com alguém no telefone e para quando me vê, a ligação é encerrada, com um aceno ele me chama para perto.

— Pensei que tinha ido embora. — falamos juntos, acho engraçado, ele não.

— Tá tudo bem? — pergunto.

— Uhum.

— Legal.

Peço mais quatro drinks ao bartender quando ele aparece, tomo todos de uma vez, eu não lembro se tenho que trabalhar amanhã, eu realmente espero que não.

Flowers | SilèneOnde histórias criam vida. Descubra agora