Capítulo seis

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Naomi caminhava despreocupadamente pelos corredores da escola, subiu as escadas calmamente e abriu as portas duplas do terraço, estava em busca da sua amiga Keiko que, provavelmente, estava naquele lugar. Keiko Fukuda estava sentado sobre o banco de madeira gelado, desenhava algo no seu caderno especial de maneira concentrada, com um sorriso pequeno, saudou a amiga.

—Bom dia —disse sentando-se ao seu lado. —O que está desenhando hoje?

Naomi se inclinou um pouco sobre a amiga.

—Estou desenhando o céu —respondeu sem muito animo, o silêncio prevaleceu durante alguns minutos até Keiko se pronunciar. —Ei, Naomi?

—O que foi? —Indagou com os olhos fechados enquanto sentia a brisa fria da manhã bater em seu rosto.

—Você gosta da Mahina? —Questionou sem rodeios e timidamente.

Naomi quase engasgou com a pergunta, abriu os olhos, incrédula.

—Claro que não! Nos conhecemos a pouco tempo, e eu não sinto atração por mulheres —respondeu por fim.

O clima estranho se instalou entre as duas meninas, Keiko olhava a esmo para seu caderno, já que nem ao menos voltara a desenhar, apenas procurava um motivo para não encarar Naomi, já a outra continha um sorriso de canto, lembrou-se na sua conversa anterior com Takashi, as peças do quebra-cabeça estavam se encaixando.

—Entendo —começou chamando a atenção de Keiko. —Você gosta dela, você gosta da Mahina.

Keiko estava com as bochechas vermelhas de vergonha com o que Naomi acabara de declarar, ela estava certa afinal, tinha medo de que a outra pudesse ouvir seu coração batendo rápida e fortemente dentro de seu peito. Em um ato para tentar se acalmar, puxou o ar para dentro dos pulmões e soltou o oxigênio pela boca.

—Eu sou... Lésbica.

Naomi não estava surpresa com a confirmação.

—Agora faz sentido, quando Takashi e Igarashi vieram no outro dia para conversarmos sobre o trabalho, você ficou bem tensa assim que a viu —soltou um riso nasal. —Além de que, você me falou no mesmo dia que eu tinha sorte de fazer dupla com Igarashi.

—Sim, é verdade —sorriu timidamente, entretanto sua expressão mudou drasticamente para uma de culpa. —Sinto muito por não ter de contado, estava com medo.

—Não se preocupe com isso —disse fazendo um movimento com a mão como se não se importasse. —Não deve ter sido fácil para você.

—Foi muito difícil, Inoue se preocupou comigo, minhas notas estavam caindo demais e não prestava mais atenção nas aulas —Keiko abaixou a cabeça. —Isso tudo aconteceu depois que eu contei para os meus pais sobre a minha orientação sexual.

Keiko não pôde conter as lágrimas, lembrar-se de seu passado a machucava, Naomi puxou-a para um abraço reconfortante, fazendo um leve afago nas costas pequenas da amiga.

—Eles me disseram coisas horríveis, me expulsaram de casa e eu vim parar aqui em Tóquio, meus avós e Takashi que me acolheram aqui —contou com a voz embargada.

—De onde você é? —Perguntou enxugando as lágrimas de Keiko.

—Sou de Kagawa, no Takamatsu —respondeu com um fio de voz. —Você também não é daqui Naomi, de onde é?

—Sou de Shirakawa-Gou, no distrito de Ōno —deu de ombros.

—Você realmente veio de muito longe.

Sim —riu Naomi.

As duas continuaram sentadas no terraço, observando o céu com nuvens branquinhas, quando o ar começou a ficar incômodo, voltaram para a sala de aula onde encontraram Mahina e Takashi, Inoue sorriu as ver as duas juntas. Assim que a professora entrou, começou a escrever alguns tópicos na lousa enquanto os alunos copiavam, Naomi batucava com a lapiseira no caderno enquanto olhava para seu fio vermelho.

Akai ItoOnde histórias criam vida. Descubra agora