Memórias do meu Ensino Médio

Capítulo I

Já fazia 10 minutos que eu estava em frente à minha casa esperando a carona chegar. Minha melhor amiga Mariana disse que o irmão dela nos levaria hoje até o colégio, o que eu concordei sem pensar duas vezes.

Eles chegaram, abri a porta e joguei minha mochila na Mari, que reclamou, enquanto o Felipe, irmão dela, dizia que ela tinha merecido por ter feito a gente se atrasar.

- Estamos adiantadas ainda, não precisa se preocupar. – Eu disse, entrando no carro.

- Mas é bom chegar mais cedo no primeiro dia de aula, pegar os melhores lugares... Aliás, que saudades do meu ensino médio...

A Mariana nem esperou o Felipe terminar a frase e disse o que eu já esperava:

- Pois eu estou dando graças a Deus que já estamos no terceiro ano.

- Mas você não perde por esperar, a faculdade é pior ainda. – O irmão dela retrucou no mesmo segundo.

Então eles começaram um debate sobre colégio e universidade, prós e contras, era sempre assim, toda vez que eu pegava carona com eles indo para o colégio, alguma discussão acontecia. Eu, que já estava achando que era invisível naquele carro, apenas fiquei reparando no novo corte de cabelo do Felipe. Eu gostava do cabelo dele mais comprido, mas aquele corte tinha, com certeza, deixado ele mais lindo ainda. Eu estava tão concentrada nos meus pensamentos que nem reparei que já estávamos chegando.

- Beatriz! Você está me ouvindo? Quer que meu irmão leve você para casa depois?

- Eu... Eu não sei... Você não se importa, Fê? – Perguntei, ainda meio distraída.

Então o Felipe, enquanto estacionava o carro, disse:

- Imagina, Bia, eu levo você para casa, não é incômodo nenhum.

Eu amava quando ele me chamava de Bia, mas disfarcei, como sempre, agradeci a carona e desci do carro.

- Bom primeiro dia de aula para vocês, meninas, se cuidem e até depois. – Disse o Felipe, arrancando o carro. Então eu e a Mari atravessamos a rua em direção a entrada dos alunos.

- Nossa, você estava viajando ali, posso adivinhar no que você estava pensando?

Eu apenas revirei os olhos e respondi:

- Já disse que sou apaixonada pelo seu irmão?

Agora foi a vez da Mari de revirar os olhos.

- Você diz isso todos os dias, há uns dois anos já, e ainda fala que ele é lindo e simpático, o que eu discordo, eu acho que ele é mais irritante do que todas essas qualidades que você vê nele.

Nós duas rimos.

- Você é irmã dele, não tem moral para opinar. – Eu disse.

- Quem não tem moral é você que gosta dele. – A Mari retrucou.

Eu já ia começar a discutir com ela, quando o garoto, que tanto eu quanto ela menos sentimos saudades nessas férias, veio nos cumprimentar:

- Bom dia! Como estão as garotas mais lindas do Terceirão? Tenho boas notícias...

Eu e a Mari apenas respiramos fundo e esperamos ele dizer a tal novidade.

- Já que vocês não vão perguntar qual é, eu vou dizer... As turmas do terceiro ano vão ser as mesmas do segundo, então ficamos na mesma sala, meninas. – O Lucas disse no maior tom de empolgação possível.

Eu e a Mariana ignoramos o fato de que teríamos que aguentar ele por mais um ano e nos abraçamos, comemorando que íamos poder passar bilhetinhos uma para a outra no terceiro ano também. O Lucas, vendo nossa animação, aproveitou para entrar junto no abraço, o que a Mariana odiou, no mesmo segundo se desvencilhou e disse:

- Obrigada, Lucas, por nos informar, mas agora desinfeta, vai lá no portão ver se outras meninas da nossa sala não estão chegando pra você chamar de "as mais lindas" também.

O Lucas reclamou do mau-humor da Mari e se despediu: "até depois, lindas", olhando fixamente para ela, que o encarou de cara fechada até ele sair da nossa frente e ir em direção ao portão. Então nós duas seguimos para as salas do terceiro ano, cumprimentando no caminho os amigos que há semanas não víamos.