Capítulo 4 - A separação

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Os dias se passavam insossos para a dupla que lá permaneceu, de vez em quando João perguntava sobre Jéssica pra os adultos daquele lugar, e o coração da pobre criança se conformava com a assertiva seca. Mas tarde em um desses dias o portão do local se abriu e duas silhuetas conhecidas entraram no lugar:

-Mano?

O sorriso do menor foi largo enquanto corriam em direção a família que conheciam, Jorge retribuiu com gosto ao singelo abraço dos pequenos no entanto a mente da mais velho já fixa que lá não permaneceriam. Os mais velhos foram encaminhados para o banho, pois as roupas sujas causavam certo desconforto para aqueles que os viam. Depois disso o dia pareceu bem mais colorido, brincaram juntos no pátio por um bom tempo e quando estavam na fila pra se servir os mais velhos refizeram a rota de fuga sem deixar nenhum aviso prévio para João e Júlio que se entristeceram de fato, no entanto os corações desses já estavam tão machucados que uma rachadura a mais parecia não fazer diferença. O portão menor de entrada então abriu e um casal entrou - uma mulher esbelta dos cabelos curtos até os ombros, pele morena e olhar sério o homem ao seu lado parecia mais baixo que sua companheira e sua estrutura gerou o seguinte questionamento nas crianças que o observavam:

"Será que ele é o papai Noel?"

O casal descrito direcionou a secretaria, e uma mulher entrou do campo de visão de João e ela carregava um bebê lindo nos braços:

"Perai... aquela é a Jéssica"

O menino então fixou seu olhar sobre toda aquela situação e viu então que eles apenas conversavam e o "Papai Noel" em questão brincava com a neném que ria deliciosamente já a mulher estava séria e permanecia atenta em tudo que as outras duas falavam. Quando Jéssica foi entregue aos braços da mulher esbelta junto com uma bolsa, João agora estava parado com os olhos esbugalhados e meio marejados:

-Onde vocês vão levar minha irmãzinha?

-Essa família vai cuidar dela agora João! - soltou uma das responsáveis que já era conhecida pelo menino. Os adultos compenetrados no meninos no qual as palavras se transformaram em engasgos e as lágrimas corriam pela face pequena e inocente escutaram o pequeno dizer:

-Posso dar um beijo nela? - a mulher assentiu e baixou a bebê na altura de sua irmão, acariciou ela pelas bochechas fofas:

-Tchau irmãzinha, você ficará bem agora.

As doces palavras do menino, tocaram o coração dos que estavam ali presente tornando aquele momento comevente pois era claro o quanto ele amava a pequena. As mulheres ao fundo tinham os olhos molhados mediante a cena que estava a sua frente foi aí que o homem apoiou a mão pesada sobre o ombro raquitico do menino:

-Em breve você estará em um lar bom também! - afirmou com firmeza fazendo João assentir apenas.

O casal saiu levando a pequena nos braços os olhos do garoto já debulhados em água escorriam sem controle, João guardou na memória a última imagem que teria de sua irmãzinha.

Essa partida foi outro baque para nosso menino dentro daquele ser eu ficava imaginando quanto tempo ele aguentaria tantos momentos como esse, só lembro dele envolver Júlio em um abraço profundo como se já soubesse o que aconteceria posteriormente.

No quarto deitado na sua cama sua mente infantil ficou desenhando a casa que Jéssica agora viveria, que pelo porte do casal, a impressão que dava era que eles tinham uma casa bem grande e que a sua irmãzinha dormiria numa cama quentinha e teria muito amor e cuidado. Ele olhou pra Júlio ao seu lado pensando o que seria deles, será que arrumariam um lugar pra eles ou ficariam ali até se tornarem adultos.

MEMÓRIAS DE UM MENINO SEM INFÂNCIAOnde histórias criam vida. Descubra agora