Capítulo 2 - Prisão ou Liberdade

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A mulher avistada pelas crianças não conseguia nem manter os olhos abertos, as pernas bambearam e ela caiu no chão. O pequeno assustado saiu correndo até ela com os olhos transbordados em desespero e o mais velho num sinal de compaixão usou suas pernas para dar apoio a cabeça da mãe, já João permaneceu inerte olhando toda aquela situação degradante sem saber o que sentia a respeito daquela mulher que ele mal conhecia.

- Acorda mãe! - falou Jorge enquanto espalmava o rosto da mãe de leve.

Ela abriu os olhos com dificuldade tentando levantar apoiando-se nos braços, a vista dela estava embaçada suas roupas rasgadas e estava tão suja, tão suja que o odor tomou conta daquele pequeno cômodo. A velha olhava para aquela cena a mão apoiada na cintura e os olhos exalavam um desprezo miserável, o desgosto era tão pesado que até mesmo o ar tinha ser tornado tenso.

-Se levante e vá se lavar. Ninguém merece sentir seu fedor. A mulher morena, cabelos ralos amarrados num rabo de cavalo bem mal feito, parou em pé apoiada no mais velho dos filhos que a levou para o banheiro. Ele abriu o chuveiro informando que a água era fria mesmo pois a resistência havia queimado.

Imaginem o constrangimento dessa situação, uma velha que criava os netos por obrigação sem sentir apreço algum pelos pequenos - nem pelas filhas ela sentia algo bom. A morena tão dependente de álcool e drogas tornou-se incapaz de oferecer amor para os pequenos os condenando a viver naquela vida miserável. Me respondam leitores que tipo de adultos uma vida humilhante dessa formaria? Voltando a história...

Nosso menino ainda segurava a irmã pequenas nos braços, vislumbrando aquele bebê indefeso dormir. Até que a porta atrás abriu, agora a mulher qual ele sabia ser sua mãe sem sentir nenhum vínculo afetivo com a mesma, saía do banho com uma aparência melhor. Todavia João permaneceu indiferente e quando ela abriu os braços pedindo pra segurar a menor ele fechou a cara virou as costas e ignorou aquele pedido tomado pelo dever de proteger daquela desconhecida. A "mãe" caiu em prantos inconformada com a indiferença de seu filho que ela jurava que amava...

De certa forma ela os amava mas não conseguia vencer aquele bendito vício que a desqualificava para o papel de mãe, esses quatro que estavam com a vó eram de um homem que sumiu depois do nascimento de Jéssica nunca se ouviram falar dele. João só sabe o nome do pai pois está registrado mas nenhuma lembrança do homem que apenas lhe deixou genética.

-Filho deixe-me segurar a bebê? - falava a mãe oscilando numa voz de choro.

-Ela está dormindo! - disse tão firme. Júlio correu para a mulher agarrando uma de suas pernas.

-Você vai tomar jeito ou vai ficar afundada nesse buraco? - a velha rabugenta soltava as palavras com um ar de total desamor- as palavras amargas eram sentidas por todos. A mãe sem palavras ou iniciativa permaneceu imóvel no lugar sentindo o veneno daqueles dizeres enfraquecerem seus membros tomada pelo sentimento de inutilidade. Um choro puro interrompeu a densidade maléfica daquele momento, João balançava a irmã com tanto amor pedindo para algum ser divino que acalmasse a bebê em seus braços para não ter que entrega-la para nenhuma daquelas figuras, foi quando ele sentiu Jorge a tirar de seus braços a levando em direção a Luíza, que aconchegou a menina em seu peito oferecendo a mamadeira de leite recém preparada, aliviando o choro da menor. O do meio, não gostava daquela cena ele podia muito bem lidar com abandono da mãe mas não suportava a ideia de que sua irmã teria que lidar com isso, a desaprovação clara em seu rosto não permitia nem piscadas rápidas e sua mãe o encarava:

-Venha dar um abraço na mãe João? - que carrancudo negava tal pedido.

A noite fria veio com uma garoa tímida, João deitado sob o colchão velho não conseguia aceitar o fato que Luiza tinha levado Jéssica para dormir com ela no outro cômodo, no quarto da sua irmã que não estava em casa devido ao trabalho. O dia para ele começou mais cedo, antes que os raios aquessecem os corpos miúdos, pois aos berros a loira ecoavam pelo minúsculo lugar:

MEMÓRIAS DE UM MENINO SEM INFÂNCIAOnde histórias criam vida. Descubra agora