Capítulo 5 -Agora era minha vez

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Só João, o menino ali permanecia apático a qualquer riso que acontecia em seu torno, me sentia tão fraca em seu peito juvenil - ele não falava, mas eu entendia que a vida para ele era sem sentido. Eu lutava todos os dias pra me manter no coração infantil mas o pobre tornou alvo de altas chacotas pois sabiam que ele partiria pra briga - e o povo gostava de ver o cerco pegar fogo.

-João de novo brigando, não sabemos mais o que fazer com você! - a mulher dizia irritada enquanto encarava o pequeno que carregava o fardo no rosto de permanecer-se indiferente. Ele nunca mais chorou depois da primeira briga, mas o coração estava afundado em raiva.
Então a mulher continuou:

-Você precisa se comportar se permanecer desse jeito será rejeitado pelas famílias de apoio, e ao invez de ter um lar você vai ficar aqui. Ele jogava os ombros sem encarar a dura que estava levando:

-Vá se trocar, você receberá visita daqui a pouco. - o menino mudo foi até seu quarto trocou sua roupa e passou no banheiro para ajeitar seu topete. Quando retornou a sala de reunião já havia lá um casal esperando. João os olhou confusos e a carranca armada:

-Oi João, prazer em te conhecer! Eu sou a Maria. - escutou a mulher de meia idade falar enquanto estendia a mão. Os cabelos meio grisalhos o fez pensar que aquela mulher poderia trata-lo como sua avó. O homem ao seu lado, sorria timidamente e os cabelos ralos todos quase brancos repetiu o movimento da sua esposa:

-Eu sou o Luiz. - o menino pegou na mão dos dois, fazendo a responsável pelo lar respirar aliviada.

-Esses dois levarão você para uma nova casa. - falou Manuela que cuidava do lar de acolhimento.

-É sim,nós moramos numa chácara!

-Chacará? - a criança perguntou curiosa.

-Sim! Lá tem árvores com frutas e um quintal muito grande. - ao ouvir isso o brilho dos olhos retornaram as íris que estavam apagadas.

-Nos vamos agora? - João perguntou ansioso.

-Vá pegar suas coisas enquanto termino de conversar com a senhora Maria e o senhor Luiz. Ele assentiu e saiu em um desparate, o sorriso formou em seu rosto e um sentimento adormecido refloreceu. Ele não se preocupou em como o tratariam e nem se eles fariam ele pedir dinheiro na rua... Ele só pensou que sairia do meio daqueles chatos.

"Será que eles me levariam pra ver meus irmãos?"

Renovado com a possibilidade de novas descobertas voltei a queimar mais forte no coração do menino,enquanto sua mente focava em reencontrar seus caçulas eu aumentava de tamanho aquecendo um coração que parecia esfriar a cada dia. Quando ele pegou uma pelúcia que tinha ganhado em uma das festinhas , ele encarou aquele bicho amarelo e cabeçudo que eu acreditava ser um passarinho e o abraçou com toda força - idealizando que talvez pudesse ser importante para alguém. Queimei tão forte mas tão forte como uma verdadeira ESPERANÇA deve queimar.

Surpreso leitor? Mas não aguentei e tive que me revelar.

Agora vocês sabem como me chamar.

-Cheguei! - entrou afoito na sala com uma sacola na mão e a pelúcia que ele chamava de Piu-Piu na outra.

-João por favor comporte-se. Lembre o que conversamos mais cedo. Ele assentiu sem tirar a alegria que o dominava. Tinha chegado a vez dele:

-Vocês podem me levar pra ver minha irmãzinha?

-Quem sabe João. Vamos levar você pra conhecer nossa casa primeiro tá bom? - falou Luiz.

O casal posionou o menino no meio, o homem pegou a sacola de sua mão e o segurou. Quando o portão foi aberto João vislumbrou o trânsito e de alguma forma lembranças do dia que chegou ali tomaram-lhe a mente. Foi posto no carro para seguirem com seu destino e a medida que se afastar do prédio que foi sua moradia por um tempo que ele não conseguia quantificar o menino foi tomado por uma sensação fria na barriga.

"Mas eu comi."

Eu Esperança tinha encontrado a insegurança dentro de João, e por mais que eu tentasse aquecer a gélida sensação causada por ela, o menino vinha sofrendo muitas desventuras durante esse curto período que é normal ficar temoroso para aquilo que era novo. Mas tínhamos fé que ali ele cresceria e se preocuparia em ser apenas CRIANÇA.

-João vamos passar na casa no meu irmão e depois vamos para casa. - informou o mais velho. O menino só concordou com a cabeça.

Quando chegaram ao local combinada o pequeno ficou vislumbrado com o tamanho do espaço que tinha aquele local, na entrada uma garagem para três carros e ao fundo uma casa central e uma edícula no fundo mais uma varanda coberta. Ele entrou de mãos dadas com seus novos responsáveis quando viu quieta uma menininha que brincava de boneca sentada no chão.

-Cumpadre e Cumade! Quanto tempo vocês não vem aqui! - a voz rouca de outra mais velha foi escutada pelo menino que prestava atenção a garota ao fundo.

-Cumprimente João. - Maria falou áspera fazendo o menino voltar a atenção aos adultos. Ele então estendeu a mão:

-Eu sou o João.

-Mas que menino bunito. - falou a cumadre anfitriã. Eles começaram a conversar depois que recebeu a permissão para explorar o local João se afastou do trio desceu o degrau da escada ficando estático. A menina então encarou o garoto com os seus olhos grandes castanhos, levantou-se devagar e aproximou -se:

-Oi eu sou a Laura, qual é seu nome!

-João.

-Você é neto da Tia Maria?

-Não. Ela cuidaram de mim agora.

-Que legal, quer brincar comigo? - ele apenas concordou e foram sentar perto da caixa de brinquedos que não oferecia muitas opções para um garoto.

-Que brinquedos chatos! - reclamou o novato que levantou andando em entre a casa principal e a edícula do fundo, acendendo e apagando as luzes.

-Pare com isso João! Não é educado. - exclamou Sr. Luiz.

-João eu achei uma bola, venha comigo!

Então ele foi e se divertiram um pouco, chutando a bola. O tempo dessa forma correu mais rápido e quando foi chamado pra ir embora ele sentiu que queria ficar um pouco mais e brincar com Laura.

-Tchau João. - ele escutou a doce menina falar, acenando apenas em forma de resposta. O frio na barriga voltou a invadir seu pequeno ser, e sua nova casa parecia demorar chegar dando tempo até para um pequeno cochilo. As palpitações causadas pela estrada de terra o fizeram despertar, ele então abriu os olhos e se viu cercado por matos altos e canaviais. Seu novo lar parecia ser um pouco longe,    quando pararam o menino abriu a boca num encanto total ao tudo que estava vendo. Uma casa grande com uma varanda em volta, e olhando para o sul sob a luz crespuscular refletiu sobre as orbes castanhas :

"Que coisa mais linda"

O sol descia o morro, e nem mesmo o vento que soprava mais frio daquele momento impediu o calor das novas expectativas queimassem sobre o pequeno.

Agora teria ele a infância?

MEMÓRIAS DE UM MENINO SEM INFÂNCIAOnde histórias criam vida. Descubra agora