O sol clareava trazendo a luz uma nova aventura, João abria os olhos meio preguiçosos levantando o corpo devagar e então jogou as pernas para fora da cama e apoiou seus pés no chão indo meio arrastado para o banheiro antes que ouvisse os gritos da Dona Maria, um som que ele queria ouvir, não de novo. A pequena escova de dentes passeava pelo sorriso que agora era constante, e enquanto fazia sua higiene diária a imaginação infantil já planejava o que faria de divertido na escola naquela manhã. As mãozinhas pequenas saíram debaixo da torneira e foram direto para os cabelos arrepiados o fazendo brigar com aqueles fios rebeldes que teimavam em ficar do jeito que ele queria, depois de muita briga o topetinho ajeitado se tornou seu charme, ele piscou para o espelho satisfeito com o resultado e saiu já com a mochila nas costas em direção a cozinha para tomar seu desjejum.
- Vamos João se não chegaremos atrasados! - a dona Maria falava aflita observando o menino beber o leite num gole só. Quando ele acabou se levantou rápido para o colocar na pia, virou para a cuidadora que percebeu o bigode de leite desenhado em cima dos lábios.
- Limpe a boca menino. - alertou dona Maria. - ele assentiu e limpou a boca com um papel guardanapo que estava na mesa, e depois disso saiu.
Caro leitores, se vocês imaginavam que nosso menino seria arredio a escola. Se enganaram. Chegar nesse local ser cercado por outras crianças e pela primeira vez se sentir igual a eles deu a João uma confiança primorosa. Não subestimem o poder de um topetinho charmoso, cada vez que ele ajeita o cabelo com as mãos sinto a chama da alegria queimar forte do seu peito e fazendo com que eu ESPERANÇA, torne-se mais forte e prevalecente no peito desse menino que já viveu tantas desventuras, com as mãos dadas com Dona Maria o coração palpitava de tanta felicidade ao se aproximar de seus pares.O menino era sucesso.
A aula passou tão rápida, ele estava bem feliz por estava aprendendo a desvendar como era o nome das letras e quais compunham seus breve nome, estava chegando o dia das mães e a professora de João pintou as mãos dele com um tinta roxa e carimbou sobre um tecido branco avisando que aquele seria um presente. João revirou os olhos estranhando, pois ele nem sabia onde a mãe dele estava com confusão nos olhos encarou a professora e disse:
- Como vou dar isso para minha mãe? Nem sei onde ela está! - a docente já ciente da situação respondeu:
- Vamos dar de presente para a pessoa que cuida de você, tá bom?
- Olha tia, tem muitas pessoas que cuida de mim. Tem a dona Maria e a Eva. Mas também tem a Sandra que é mãe da Melissa que me busca na escola e cuida de mim até dona Maria chegar!
- Nossa! Você é mesmo especial, olha quantas pessoas cuidam de você. - o menino que nunca havia pensado nessa perspectiva sorriu sincero e alegre por seu novo mundo.
- Mas professora, para qual eu vou dar?
- Bom terá que ser para a dona Maria.
- Tá bom. - conformado com a resposta, ele saiu para lavar suas mãos e o sinal bateu bem na hora o fazendo ser o primeiro na fila da merenda. Seu dia estava excepcional. Assim que saiu com o pão na mão, sentou-se para merendar guardando lugar para sua trupe que chegou rapidinho para deixar aquela manhã mais completa. João voltou para fila para o repeteco, mas seus colegas resolveram começar a brincar frisando bem o lugar onde estariam para que João os encontrasse logo. O portão que de grades dava visibilidade tanto para os que estavam de fora, quanto os que estavam de dentro, um dos coleguinhas se aproximou do garoto e disse:
- João sua mãe está te esperando lá fora! - o cenho se formou entre os olhos demonstrando ao seu amigo como aquela colocação era estranha em sua vida do avesso, curioso e inocente o menino tuchou o resto do pão na boca e caminhou até o portão da escola. Antes que chegasse mais perto, ele viu um homem desconhecido segurando seu bichinho favorito e uma mulher de semblante conhecido começou a gritar seu nome:
- João! JOÃOOOOO....a mamãe está aqui, eu vim te buscar meu filho. - ver aquela mulher o deixou estático enquanto a confusão causava mais aglomeração no portão do que de costume. As inspetoras que olhavam as crianças naquele momento estranharam a movimentação atípica, andaram até lá e viram uma senhora abatida e prejudicada pelo seus vícios chamar a todo pulmão o menino João. Rapidamente pegaram o menino pelo braço e arrastaram ele para dentro da secretária, nesse misero tempo tudo ficou branco e o garoto apenas se desligou interrompendo um dia magnifico.
Os balburdio de crianças correndo, sinal tocando, mulheres andando para lá e para cá. Nosso menino ficou apagado, murcho, sem reação. Seus olhos sem foco admiravam um total nada e enquanto seu peito um disparate causado pela grande confusão. Na sua mente infantil ele voltaria para sua mãe pois não entendia todos termos técnicos que o fizeram sair de lá. Mas ele não queria, ele não queria. Poderia ele gritar? Poderia. Mas a voz sumiu num engasgo ...
- João? João? Você tá bem meu fiô? - os olhos lacrimejados o fizeram abraçar Eva.
- Eu quero ficar Eva. Não quero voltar pra lá eu não quero.
- Fica calmo menino. Vai tudo dar certo.
Uma parte desconhecida pelo nosso menino, meus caros leitores, é que enquanto Maria e Eva chegavam na escola para atender o chamado a mãe biológica de João as observou com ódio, e o homem que a acompanha gritou:
- Devolvam o menino ou nois vai atrás docêis. Sabemos onde moram e voltaremos para buscar ele.
Da escola foram direto pra uma delegacia próxima onde todo o ocorrido foi relatado e registrado, o garoto amedrontado com seu futuro incerto olhava os adultos atendo a todas as palavras que eles diziam :
- É um caso grave minha senhora. Vocês devem se proteger, pelo perfil do miliante boa coisa não vai fazer não.
- Vamos dar um jeito de nos proteger seu guarda, mas se caso acharem eles nos avise por favor.
- Você não conhece mesmo aquele homem? - Perguntou o homem mastigava um palito de dentes vestido de farda. O garoto ainda assustado balançou a cabeça negando, e se escondeu entre as pernas de dona Maria. O caminho até em casa foi um silêncio arrepiante, os adultos mandaram o garoto para o banho e o menino sem demora pegou sua toalha e correu para o banheiro, quando saiu rumo a cozinha escutou de longe a frase:
- Não podemos ficar com ele, não depois disso.
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MEMÓRIAS DE UM MENINO SEM INFÂNCIA
Short StoryPara ter sucesso em algo, envolver-se por amor é essencial. DayDias Memórias de um menino sem infância relata a história de João um menino que vivia como pedinte junto com seu primo Hélio e seus irmão Jorge, Júlio e Jéssica. 🏅13° - #menino 🏅16 °...