Domingo, 18:00 horas, o jovem João guardava delicadamente o seu violão dentro da capa, pegava sua Bíblia, colocava sua bela camisa social azul marinho com um blazer cinza e aguardava sua doce mãe, a adorável senhora Fátima terminar de se arrumar. Seu pai, o Presbítero Alberto esperava os dois dentro do carro, era um obreiro atento aos anseios da Igreja e gostava de chegar cedíssimo ao culto.
Ao entrarem no carro o presbítero Alberto perguntou:
- João, onde está a sua gravata? sabe que vai cantar hoje!
- Eu sei, pai. Mas prefiro me vestir assim, as gravatas me deixam muito formal. - Respondeu João.
- Mas é o que usamos desde sempre, você sabe. - Retrucou Alberto.
A amável Fátima entrou em cena:
- Você está lindo como sempre, meu filho! Qual louvor irá cantar hoje? - Perguntou a irmã Fátima.
- Obrigado, mãe. Irei louvar um dos meus preferidos, sinto que preciso mostrar as pessoas a grandeza de Deus, por isso irei declarar com minha voz que "Ninguém explica Deus" da banda Preto no Branco. - Respondeu João.
- É um belo louvor. A mãe vai interceder para que o Espírito Santo toque as pessoas através dessa canção. - Acrescentou a mãe do jovem.
- Amém. - Concluiu João.
O domingo da extrovertida jovem Anna Fernandez sempre foi muito agitado, passava praticamente o dia inteiro na Igreja, mas este dia seria diferente. Era o primeiro culto na sua antiga Igreja do qual Anna iria participar após oito anos morando com os avós maternos na bela cidade de Garanhuns, interior do estado de Pernambuco.
A moça estava animada, pensava se os seus grandes amigos de infância ainda frequentavam o mesmo templo, refletia como seria o momento de entrar no lugar onde teve uma infância tão feliz, mas difícil ao mesmo tempo.
Anna olhava-se no espelho, era uma bela morena, estatura mediana, cabelo liso até a cintura e gostava muito de usar sapatos altos, mas esse culto seria especial, ela iria reencontrar grandes amigos, mas também poderia relembrar tristes episódios. Destemida como sempre foi, não temeu, pegou sua Bíblia rosa, chamou sua mãe, Maria das Graças Fernandez e foram de ônibus para a congregação que ficava há 15 minutos de sua casa.
João e seus pais chegaram cedo à igreja, logo o músico atenciosamente tirou seu violão da capa e conectou ao caixa da banda, alguns rapazes também já tinham chegado, pois o Presbítero Alberto era bastante exigente e queria os músicos prontos já para o início do culto. A banda estava quase pronta, João auxiliava outros componentes à afinarem seus instrumentos, as vocalistas já estavam na posição, o coral estava quase repleto e os jovens e adolescentes conversavam alegremente antes do início do culto.
A irmã Graça e sua adorável filha chegaram faltando 10 minutos para o início do culto, Anna parou por alguns instantes antes de entrar na Igreja, reflexiva, parecia que um filme passava em sua mente.
- Mãe, mudou pouca coisa desde o dia em que saí daqui pela última vez. - Falou Anna.
- O prédio está praticamente intacto, minha filha, mas adentre, você verá que nada está como na época em que você foi embora. - Concluiu a mãe da moça.
A destemida jovem ficou impactada com as lembranças, recordou também que era o momento de prestar culto ao seu nobre Deus. Entrou no templo depressa e ajoelhou-se no último banco, enquanto sua mãe dirigiu-se para o coral de irmãs.
Em oração, a dedicada jovem foi sincera com seu Deus:
- Querido Jesus, primeiramente muito obrigada por mais uma oportunidade de estar diante de sua presença, confesso que não foi fácil chegar aqui, meu desejo era continuar te servindo com meus avós, no interior, mas... - Lacrimejando confessou: - Quem sou eu para questionar a sua vontade? Se o Senhor me disse que era tempo de retornar, aqui estou. Mas Jesus, por favor, cuide de mim neste lugar, e ajude-me a não sofrer tanto com o passado e a te amar independente de tudo.
Anna encerrou a oração pedindo para Jesus receber desde já a sua adoração e para dar livramento e guiar seu pai, André Fernandez, que era caminhoneiro e estava em mais uma viagem.
Neste momento o Diácono José fez a oração inicial e ordenou, sob orientação do pai de João que o ministério de louvor cantasse os hinos congregacionais. Rapidamente os jovens, rapazes e moças pegaram seus instrumentos, as vocalistas posicionaram-se em seus microfones e o hinário começou a ser entoado.
Anna começou a olhar discretamente para a Igreja. Contente com o retorno da filha, a irmã Graça contava alegremente as companheiras do coral que sua adorável e única menina estava presente, algumas irmãs a conheciam desde criança e sorriam e acenavam para ela, as mais próximas levantaram-se e foram abraçá-la afetuosamente, como fez a irmã Antônia, uma velhinha muita admirada por toda congregação, ela estava ali a mais de 35 anos.
- Anna? Meu Deus! Como você está linda, que moça bonita você se tornou. - Disse a bondosa senhora Antônia demonstrando muito carinho pela jovem. E acrescentou: Você veio para ficar, minha filha?
Anna abaixou levemente a cabeça, seu coração desejava estar no interior, mas rapidamente sua memória resgatou a ordem de Cristo para retorno dela as sua origens e falou:
- Sim, irmã Antônia. Jesus ordenou, vivo para obedecê-lo. A senhora está tão linda, nem parece que o tempo passou. - Falou Anna, demonstrando afeto.
- Bondade sua, minha filha. Estou só esperando a hora em que Cristo irá me chamar. - Falou a irmã Antônia.
- Ah, agora que voltei espero que demore bastante, quero aproveitar sua companhia e ouvir aquelas belas histórias de sua juventude que a senhora me contava. - Acrescentou Anna.
- Você ainda lembra daquelas histórias, Aninha? - Perguntou a adorável irmã Antônia.
- Claro, seria impossível esquecer. - Respondeu Anna.
- Tá bom, depois conversamos melhor. Vamos cultuar. Que o Deus de Israel seja sua proteção e seu amparo nessa nova fase, minha filha. - Conclui a irmã Antônia.
Anna ficou feliz por ver a irmã Antônia bem e com saúde, neste momento os hinos congregacionais acabaram e o coral de irmãs recebeu a oportunidade para louvar. A jovem continuou sua observação em busca de suas amigas e amigos de infância, mas infelizmente não encontrou muita gente. Quando estava quase convencida de que não havia nenhum jovem que fez parte de sua infância ela viu por trás do teclado a talentosa tecladista Camille, com o contrabaixo a simpática Mirian e na bateria o despojado, porém muitíssimo ágil Thiago.
Ela ficou felicíssima em saber que alguns dos seus amigos estavam ativos na obra do Senhor, quando olhou para trás do baterista viu um rapaz alto, branco, franzino, estiloso, porém discreto, com o seu nobre instrumento na mão. Era João, com seu inseparável violão. Anna e João foram grandes amigos de infância, os dois compartilhavam inocência e brincadeiras, corriam na Igreja para desespero do presbítero Alberto e do pai de Anna, o então maestro do coral, senhor André Fernandez. Alguns especularam que Aninha e Joãozinho iriam namorar quando crescessem. De fato, aquelas duas crianças eram livres, espertas, faziam festa por tudo e amavam a companhia um do outro.
Anna pensou: "Meu Deus! Como o Joãozinho está diferente. Não sabia que ele tocava violão. Será que ele ainda lembra de mim? já faz tanto tempo que não nos vemos."
A moça deu um leve sorriso lembrando que o Joãozinho era sempre medroso e muitas traquinagens que faziam juntos era por iniciativa dela. Em seguida o Diácono José expressou:
- Vamos ouvir o jovem João.
Anna ficou entusiasmada, desejava muito ouvir o seu amigo de infância louvar. João subiu rapidamente ao altar, pegou a Bíblia, abriu em seu versículo preferido:
- Cumprimento à Igreja com a Paz do Senhor. Quero deixar um salmos para meditação dos irmãos, que se encontra no livro dos Salmos 138:01 que diz... - Neste momento ele olhou para o fundo da Igreja e viu Anna sentada no último banco. Pensou: Meu Deus, é Anna.
João reconheceu sua antiga amiga no primeiro olhar, demorou alguns instantes para completar as frases de seu versículo preferido, seu pai, preocupado o olhou fixamente tentando entender o que havia acontecido com o filho, o porquê da pausa.
O jovem rapidamente falou o Salmo, Anna percebeu que ele a reconheceu, os dois continuavam conectados. Então o adorador João entrou em ação, começou a dedilhar seu violão e a ministrar louvores ao seu Deus.
Anna admirava-o, encantada.
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Crê, Espera e Suporta
RomanceCrê, Espera e Suporta é um romance cristão que narra a história de um tímido jovem, músico e estudante de administração que se apaixona por uma extrovertida estudante de psicologia. O amor desses dois idênticos, mas diferentes jovens é provado a fe...