Capítulo 11- Adeus

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Alguns anos atrás...

P.O.V FINN

O vazio; o nada do próprio nada. O túnel interminável em que meu ser percorreu fugindo da escuridão em que minha alma se apagava. Ela veio avassaladora. Veroz. E então me consumiu.

Por minutos. Por horas. Por anos.

Era difícil conviver com um homem repulsivo e não poder fazer nada para ajudar minha mãe. Eu me sentia incapaz; impotente. E quando fui embora, tive que me esforçar bastante para seguir em frente sem me sentir culpado por deixá-la para trás. Mesmo sabendo que eu não tinha escolha, foi árduo.

E quando me vi no topo do mundo do crime; sem mais nada a temer, procurei por ela. Voltei para a cidade em que nasci, caminhei até a velha casinha no final do quarteirão e quando me aproximei do gramado meu coração ardeu em angústia.

Eu bati na porta muitas vezes e não ouve nem um sequer sinal de vida. E quando eu segui uma intuição boba de girar a maçaneta sugerindo que a porta estivesse destrancada, meus pés avançaram para dentro da casa.

E lá estava ele. Não havia nada além dele. Sentado em uma cadeira no meio de um cômodo inteiramente vazio, preenchido apenas pelo seu olhar desesperado e culposo. Eu pude ver a sua expressão cabisbaixa e as lágrimas escorrerem pelo canto das suas bochechas e então eu soube. Naquele instante eu soube, que era tarde demais.

- Como? - Junto ao sussurro da minha voz o questionando meus olhos marejaram em lágrimas doloridas.

- Eu fui longe demais dessa vez, não consegui parar. - Alfred abaixou ainda mais sua cabeça e recolheu seu corpo sobre a cadeira.

Eu tive que ser mais forte do que jamais fui, pois a única vontade que eu tinha naquele momento era acabar com a raça daquele cretino. Mas eu precisava vê-la pela última vez; precisava ter a oportunidade de me despedir antes de matá-lo.

- Onde ela está? - Pedi.

- Eu te levarei ao enterro meu filho. - Ele levantou então, revelando o terno preto em que estava trajado.

- Nunca mais me chame assim, seu bêbado nojento. - Falei em um tom amargurado. - Agora vamos.

..............

Nós nos aproximamos do cemitério onde acontecia o enterro. E quanto mais eu andava, mais minhas pernas fraquejavam e meu corpo suava frio. Eu sentia meu sangue ferver em tamanho ódio pelo homem ao meu lado e por ele tê-la condenado a esse trágico fim.

De vislumbre eu podia ver um pequeno aglomerado de pessoas e suas expressões chorosas sobre o seu caixão. E enquanto o padre recitava algumas palavras bonitas afim de confortar o coração daquelas poucas almas que se importaram com a partida da minha mãe eu finalmente pude vê-la. Realmente nunca imaginei que depois de tantos anos eu encontraria ela assim, pálida; gélida e sem vida. Era visível os hematomas e cortes recentes espalhados por todos os cantos do seu corpo miúdo. Certamente ele a espancou até a morte depois de uma de suas noites de bebedeira e pensar na dor que ela teve que suportar até desistir destrói o meu coração.

- Você pode ir em paz agora minha mãe, o paraíso espera por você. Eu te amo e sempre vou te amar! - Eu sussurrei permitindo que as últimas lágrimas caíssem.

Aquela era a minha despedida; não havia mais nada que eu pudesse fazer ali. Eu girei meus calcanhares afim de fugir daquela cena e então caminhei até uma grande árvore de Carvalho que sombreava grande parte do cemitério. E quando eu acendi o meu último cigarro, vi Alfred se aproximando com o mesmo olhar de antes; desesperado e culposo.

TentaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora