Em um piscar de olhos | Versão Joalina

Capítulo 16

Sabina não sabia o que lhe havia levado até onde estava no momento. Depois da quarta cerveja ela havia ficado mais solta, rindo animada enquanto conversava com todos. Suas constantes mudanças de lugar ao longo do dia se deveram à aproximação de Savannah o tempo inteiro, esbarrando em sua mãe propositalmente, acariciando suas coxas, se deitando em seu colo. Isso definitivamente tirava a paciência de Sabina.

Ela não soube quantas cervejas havia tomado ao total, mas se lembra de que houve um momento onde se sentiu cansada. Se despediu de todos e subiu as escadas; um banho rápido foi tomado e ela entrou dentro de seu pijama, se enfiando embaixo das cobertas, porém o sono não vinha.

Constantemente a imagem dos olhos azuis aparecia em sua mente, foi então que, de supetão, se levantou, se trocou, se agasalhado bem, e saiu. Nem trinta minutos depois ela se via na recepção do hospital, esperando a autorização de Johanna para poder entrar.

Não era permitido mais de uma pessoa passar a noite, mas a quantidade de dinheiro que Johanna tinha deixava todo o hospital bastante receptivo aos seus pedidos.

-- Desculpe vir a esta hora. -- Sabina sussurrou para Johanna, não querendo acordar Joalin. -- Mas o barulho em casa não me deixou dormir e resolvi vir. Trouxe café. -- Ela disse, estendendo o copo de café para a mulher, que aceitou de bom grado.

-- Abriu mão de uma cama confortável? -- Johanna perguntou rindo e Sabina assentiu. -- Fique à vontade. Vou aproveitar que veio e ir em casa tomar um banho rápido, se importa?

-- Se quiser pode dormir por lá. Eu passo a noite aqui. -- Sabina disse e Johanna sorriu.

-- Minha filha escolheu a voz certa para ouvir quando decidiu abrir os olhos. -- Johanna disse gentilmente, vendo Sabina sorrir de canto. -- Então eu vou mesmo. Pela manhã eu venho, tudo bem?

-- Certo. Boa noite, Johanna.

-- Boa noite, norinha. -- Johanna disse, vendo Sabina corar. -- Ops, quis dizer Sabina. -- Johanna disse rindo. A mulher deixou um beijo na têmpora de Sabina antes de pegar sua bolsa e se retirar do recinto.

-- O que foi isso? -- Sabina perguntou para si mesma, rindo e negando com a cabeça.

Sem protelar, a garota simplesmente retirou seus sapatos e subiu na cama, se emaranhando entre os braços de Joalin e caindo no sono em poucos minutos.

[...]

Algo macio, porém que tinha locomoção acordou Sabina, fazendo ela abrir um olho, já que o outro estava impossibilitado de ser aberto.

-- Dói? -- A voz rouca de Joalin enquanto um dedo estava cutucando o olho fechado de Sabina fez a menina rir.

-- Não, Jo. -- Sabina disse, vendo-a colocar a mão completa sobre seu rosto.

-- Você consegue me ver assim? -- Sabina riu e negou. -- E agora? -- Perguntou, abrindo uma fresta em seus dedos, deixando a visão de Sabina levemente aberta.

-- Agora sim, mas ainda estou em dúvida.

-- Dúvida de quê? -- Joalin indagou.

-- Se eu estou vendo a Joalin ou um anjo. -- Sabina disse. -- Ah, não, espera! Ambos são sinônimos. -- Disse, vendo Joalin apertar seu nariz.

-- Consegue respirar assim? -- Joalin perguntou e Sabina mordeu o próprio lábio, tamanha fofura que Joalin transmitia.

-- Só pela boca. -- Ela disse, vendo Joalin tapar sua boca.

-- Consegue falar? -- Sabina abriu a boca e arrastou seus dentes pela pele da mão de Joalin, fazendo a maior rir.

-- Não conseguia, mas conseguia morder. -- Ela disse, vendo Joalin sorrir de forma doce enquanto admirava seus olhos.

-- Eu achei que estava sonhando. -- Joalin disse após suspirar. -- Acordei e não vi a mamãe, mas aí eu vi você.

-- Sua mãe foi dormir na sua casa. -- Sabina disse. -- E eu vim dormir com você. Se importa?

-- Não. Eu gosto. -- Joalin revelou, se virando de lado e percorrendo seu dedo pela sobrancelha de Sabina. -- Por que quis vir?

-- Eu não estava conseguindo dormir. -- Sabina disse, vendo as orbes azuis atentas no contorno de sua outra sobrancelha.

-- Sentiu saudades do meu cheirinho? -- Sabina sorriu embasbacada ao ouvir tal pergunta.

-- Muita saudade. -- Ela confessou em um sussurro.

-- Por que nasce florzinhas quando eu te vejo? -- Joalin perguntou, deslizando seu dedo vagarosamente ao longo do rosto de Sabina.

-- Nasce florzinhas onde? -- Sabina perguntou confusa.

-- Aqui. -- Joalin apontou para o próprio coração. -- Nasce tanta florzinha que eu sinto que mal consigo respirar. Por quê?

Sabina sentiu seu estômago se revolver ao ouvir aquilo. Joalin conseguia se explicar facilmente, apesar de seu jeitinho doce e inocente.

-- Desculpe por isso. -- Sabina sussurrou.

-- Quando você está pertinho assim aumenta. -- Joalin murmurou. -- E eu queria te dar as florzinhas, mas eu não sei como.

-- Eu também sinto essas florzinhas quando eu te vejo. -- Sabina confessou.

-- Mas elas não param de crescer, Bina. -- Joalin disse. -- Elas cresceram muito quando eu acordei e te vi aqui comigo.

-- Oh, meu Deus. -- Sabina sussurrou para si mesma, não acreditando que aquilo realmente estava sendo dito. -- Você podia ficar grandinha logo. -- Sabina pensou alto sem nem perceber.

-- Não gosta de mim assim? -- Joalin perguntou confusa e Sabina afundou seu rosto na curva do pescoço de Joalin e enlaçou seus braços ao redor do corpo da menina.

-- Sabe por que eu vim? -- Sabina perguntou.

-- Porque estava sem sono. -- Joalin disse e Sabina riu abafado, já que seu rosto estava contra a pele de Joalin.

-- Eu vim porque você vai sair logo do hospital e eu não vou mais poder dormir com você. -- Confessou. -- Então vim ficar com você pela noite.

-- Eu peço para a mamãe deixar você dormir comigo lá na minha casa, Bina. -- Joalin disse como se tivesse achado a solução para seus problemas.

-- Eu aposto que sim, princesinha, mas vai ser mais complicado.

-- Eu tenho uma coberta rosa fofinha que a mamãe disse que comprou para mim. Eu divido ela com você.

-- Depois discutimos isso, tudo bem? Agora dorme porque amanhã cedo você tem consulta com a Sofya.

-- Eu estou com frio. -- Joalin sussurrou como se fosse um segredo e então Sabina retirou seu moletom e o colocou em Joalin com cuidado, puxando a menina para seus braços a enlaçando os mesmos ao redor dela.

-- Obrigada por me manter quentinha. -- Joalin disse, erguendo o rosto e se inclinando ligeiramente, depositando um beijo no rosto de Sabina. As orbes azuis fitaram demoradamente as castanhas e, sem perceber, Joalin começou a piscar quando olhou para os lábios de Sabina, fazendo a menor prender a respiração.

-- De nada. -- Sabina murmurou em um fio de voz. Joalin se inclinou e deu mais um beijo no rosto de Camila; e depois outro. Não se contentando com isso ela se inclinou uma última vez e deixou um beijo no canto dos lábios de Sabina, para logo se deitar sobre o peito da menina.

-- Desculpe. -- Joalin sussurrou, piscando não tão rápido, porém de um jeito fora do normal. -- Eu queria saber como era. Eu vi na TV.

-- Só fez isso porque viu na TV? -- Sabina perguntou curiosa. Joalin começou a piscar muito mais rápido antes de suspirar.

-- Boa noite, Bina. -- Disse, afundando seu rosto contra o peito da menor.

-- Boa noite, Jo. -- Sabina disse, mordendo seu lábio inferior e respirando fundo. Joalin havia piscado, pensou sorrindo.

Talvez ela... Não! Pensou Sabina. Não crie expectativas; não crie ilusões, repetia em seu interior.

Porém, foi inevitável sorrir com aquilo, sobretudo pela ação ter partido de Joalin. Naquela noite Sabina foi dormir com seu coração cheia de florzinhas.