Imagem do Desafio:
Sobre encontros e partidas.
Que o momento seja eterno enquanto dure.
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Alfie:
O garoto erroneamente pensava que na água, seria mais feliz. Erroneamente tinha fé que suas pernas voltariam a se mexer. Que os profundos mares fariam milagres curativos e lhe trariam vida e movimento da cintura para baixo.
Antes que piscassem os pais distraídos, o moreno de cabelos ondulados furtou um cilindro de oxigênio do compartimento de mergulho e vestiu, como uma mochila, e tratou de fixar bem ao nariz e boca o respirador complicado. Travou as rodas da cadeira, apoiou os braços na parte lateral e levantou o corpo, deixando a bunda sobre a borda do barco.
Olhou, inspirou, expirou, contou até três, e por fim, se jogou no azul sem fim.
Apanhou do próprio organismo enquanto tentava respirar pelo aparelho de oxigênio. Deixou-se afundar um bom tanto antes de mover-se. Não soube ao certo quanto, mas estava fundo, pois a luz do sol já era difícil de ver.
Então moveu-se. Agitou os braços como hélices de um helicóptero. De forma circular e desajeitadamente.
Tentou mover as pernas;
Nada.
Tentou novamente. E nada aconteceu. Agitava os braços feito uma galinha manca, enquanto caia mais na escuridão. Agitado, nervoso e perdendo o ritmo da respiração, continuou caindo, enquanto a visão ia ficando cada vez mais turva.
Fechou os olhos em uma prece a um deus que nem sabia se existia, se apegando a esperança de um milagre: "Por favor, por favor, eu não quero morrer, não assim..."
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Lyr:
Estava acostumada com o caminho, tanto que o fazia sem reparar em para onde nadava. Sua calda a levava praticamente sozinha, como se os músculos tivessem memória e lembrassem o caminho de casa.
Até que algo que não devia estar lá, estava.
Um garoto, magro e pálido amarrado a um cilindro que parecida uma daquelas munições do navio que habitava.
As... aquilo, magro e tão frágil, como chamavam?
– Pernas! – Disse em voz alta sem se conter.
Nadou, e tomou-o em seus braços: Frio, frio demais, quase como figura inanimada.
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Alfie:
Abriu os olhos.
E viu a moça mais linda de toda a sua curta vida. Os traços tão delicados e os cabelos pareciam tão sedosos emoldurando o rosto como nuvens em baixo d'água.
Tão bela, que só a abraçou, sem pensar, sem cogitar. Esqueceu que quase não tinha mais oxigênio. Esqueceu que não conseguia nadar. Esqueceu que estava a profunda distância de todos que um dia amou. Só confortou-se abraçando e sentindo o peito dela batendo de encontro ao seu próprio coração.
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Sobre encontros e partidas.
Mini-conto participante do Projeto Writing.
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Paint It, Red.
Historia CortaMini-contos do desafios das imagens. Projeto Writing. Um mini-conto não tem necessariamente ligação com o anterior, pois depende da imagem escolhida no projeto.