Mini-contos do desafios das imagens. Projeto Writing.
Um mini-conto não tem necessariamente ligação com o anterior, pois depende da imagem escolhida no projeto.
Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.
EQM .
Terra.
Terra na boca, nos cabelos e olhos. Bloqueando a visão e sujando. Mas estranhamente sem falta de ar, como se não precisasse respirar. Inalou fundo por capricho, para testar o pensamento involuntário. Tossiu. Afogou.
"Nem tão morta assim". Pensou
Por uma eternidade de segundo, entrou em desespero, gritando e cuspindo a terra, escavando para desatolar.
Tão frio. Gelando os ossos. O vento batendo diretamente na alma, queimando glacialmente.
–Helena?
O grito morreu no fundo de sua garganta. Sobrando um berro mudo de surpresa.
–Mamãe?
Arregalou os olhos. Abrindo mais que o necessário. Sorvendo cada detalhe da mulher parada a frente: Cabelos brancos. Olhos cansados. Dentes amarelos enfileirados formando um sorriso caloroso. Quase capaz de aquecer.
Correu.
Correu muito. Esticou os braços tentando alcançar. Inútil. Continuava longe.
Até que a mulher sumiu. Afastando como se flutuasse em uma nuvem de poeira. E Helena nada pode fazer.
Escutou latidos. Não muito longe. Latidos que ficavam mais próximos... olhou para o lado, procurando, ainda um pouco zonza. Quando sofreu impacto do cachorro peludo se chocando contra si.
–Doc!
Gritou o nome do cão morto atropelado a 3 anos, feliz por vê-lo e conseguir toca-lo, sem se importar com o barulho. Fez carinho, mas ao invés do cão ficar parado, como de costume, ele lhe abocanhou a manga da camisa, puxando na direção leste. Contra o vento.
– Doc? O quê foi garoto?
Ele continuou puxando, com mais força, movendo a moça.
–Helena?!
Outra voz lhe chama. Desta vez, voz de homem, encorpada, nervosa, quase rancorosa. Mais perto. Chamou mais perto. Passos rápidos. Não conseguia lembrar do nome dele. Mas sabia que o conhecia.
O cachorro puxou de novo. Com mais força, quase com... pressa? Olhou nos olhos do animal e soube que ele queria falar. Falar alguma coisa. Alertar?
Um bilhão de sons e luzes cintilou a oeste. Tiros: Um. Dois. Três. Quatro. Dois no braço, dois no tórax. Molhando de vermelho suas roupas.
Então o cachorro parou de puxar. Um olhar desapontado no animal. E ficou olhando esse mesmo olhar se afastar, ficando cada vez mais baixo, menor. O peludo parecida encolher enquanto o céu ficava mais claro e uma sensação de paz profunda a invadia. Transbordando calma e tranquilidade.
Fechou os olhos.
– Carrega em duzentos. 1, 2, 3, AFASTA!
Impacto.
– Ela não está reagindo, doutora.
– Novamente. Duzentos, AFASTA.
Impacto. Como um soco no peito.
– Nada ainda, doutora.
A luz era tão gostosinha, tão calorosa, calma e aconchegante, como um cobertor em dia de chuva e frio.
– Aumenta para trezentos. Afasta.
Impacto. Como um trem batendo contra seu corpo, empurrando Helena novamente no buraco na terra de onde saiu. O choque em um barulho oco.
Abriu os olhos e não via nada além de luz, muita luz. Mas a luz doía os olhos e ofuscava. E dor, como ferro quente queimando as entranhas, os músculos e as vísceras do corpo.
Fechou os olhos e lembrou dos tiros. Dois no peito e dois no braço. Alguém mexeu com ela. Pegando, medindo, como uma boneca de pano.
– Temos pulso, doutora. Fraco, porém constante.
. . . . . . . .
EQM - Experiência de quase morte. Mini-conto participante do Projeto Writing.