Paint It, Red.

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Paint It, Red.

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A inocência pode ser bipartida em duas vértices, a ignorância e a pureza.

Alicia, dona de lindos caninos brilhantes, estava com fome. Fome de sangue e carne fresca. Andava pela mata, tranquilamente, sorrateiramente, buscando um transeunte qualquer para alimentar o demônio que era.
Escutou passos a noroeste, posição 24h. Virou, sorrindo loucamente.

"Hoje Alicia vai jantar, hoje Alicia vai jantar".

Cantarolou na própria mente, insana, falando de si mesma na terceira pessoa.

Os passos ficaram mais altos, chegando perto. Se preparou, abaixando-se no mato alto, os cabelos engrenhando nas folhas, totalmente camuflada.

Ele se aproximava, um guerreiro, trajando todo o uniforme brilhante de aço escovado, uma espada na bainha, e um machado preso no cinto. Sangue escorrendo de uma ferida aberta no bíceps. Ela não via, mas sentia o cheiro, e se fechasse os olhos e se concentra-se um pouco, conseguiria sentir o sangue dele, doce, quente, grosso, passando por seus lábios, boca e garganta. Puta merda.

Não pensou, não hesitou.

Pulou nas costas dele, abraçando-o com as pernas, tirando lhe parte da mobilidade, arrancou a espada ainda encapada na bainha, e jogou longe.

Ele lhe puxou pelos cabelos, tirando-a de suas costas, jogando a no chão a sua frente, e sacou o machado.

Alicia grunhiu, mostrando as presas afiadas e as unhas compridas, já banhadas em sangue havia arranhado o pescoço por baixo da armadura. Podia ver escorrer, por entre o brilho do aço escovado. Escorrendo em larga escala. Salivou, querendo pôr os lábios ali.

Levantou e atacou de novo, cega de fome e vontade, ignorando qualquer outra coisa em volta. Arrancou parte da armadura, expondo o peito ofegante.

Ele levantou o machado, a arma que lhe sobrara, cortando o olho esquerdo dela, que gritou de dor. E depois ela riu, riu tão alto que os passaram voaram pra longe, fugindo do perigo que ela era.

– Alicia vai lanchar...

Sussurrou a criatura em formato de mulher, baixinho, como o silvo de uma cobra.

– Alicia? – O Homem perguntou.

A resposta que obteve foi um novo ataque, dessa vez, rápido e mortal. A mulher torceu seu punho, fazendo cair a arma, o empurrou com força sobrenatural, fazendo-o cair. Já com o guerreiro deitado, subiu sobre o seu peito, enquanto ele ainda gritava de dor, transtornado.

Ergueu a cabeça do homem, acima dos ombros, e torceu para o lado.

"Crec"

Pobre criatura ignorante.

Levantou o elmo, o suficiente para aparecer o pescoço arranhado, e afundar os dentes na pele sedosa e macia. Sorveu cada gota com gosto e gula. Tragando a vida dele para si, saciando sua sede de sangue, enquanto o corpo esfriava em suas mãos, as veias ficavam vazias, e os órgãos deixavam de ser funcionais.

A mulher levantou o rosto, recuperando a consciência, agora sã de seus atos e controlada durante mais algum tempo, até a fome lhe assolar novamente.

Lambeu os lábios, sorvendo as últimas gotas da vida do guerreiro.

Os olhos voltavam ao mel tradicional, as feições voltaram a ser bonitas, a criatura não era mais um monstro, e sim mulher novamente, pensando no homem deitado inerte... ele deveria ser importante para alguém...

Terminou de levantar o elmo.

Inferno. Maldição.

Tharles?

Olhou para os cabelos loiros, os olhos azuis sem vida, como vidro sujo, o queixo forte destacado.
Inferno. Berrou a plenos pulmões. Guturalmente.

Não acreditava, olhou novamente, não tendo mais dúvidas sobre a besteira que fizera. Sentiu água caindo nas mãos, escorrendo pelo rosto, estava chovendo? Olhou pra cima, procurando nuvens carregadas, mas o céu estava limpo, de onde vinha a água?

Olhou para o machado ao lado do corpo do amado, esticou a mão tremula e o pegou. Olhou novamente para Tharles, se odiando tanto, odiando tanto a besta incontrolável que tinha se tornado.

Fechou os olhos. Levantou o machado, alto. E o baixou com força, bem no centro do peito, atingindo o coração em duas partes. Caindo em cima dele, como uma amante.

Alicia não mataria mais ninguém.

Pobre criatura inocente.

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Paint It, Red. - Pinte de Vermelho.
Mini-conto participante do Projeto Writing.

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