João e Maria

Prólogo

Era o dia mais triste da vida de João. Nunca em seus 17 anos chorara tanto quanto naquela manhã, nem mesmo nos dois dias que precederam aquele funeral.

Maria, sua irmã gêmea, sua companheira de traquinagens desde que ele se entendia por gente e que sempre fez de tudo para proteger, havia sido assassinada durante um arrastão no Shopping da cidade.

João, claro, se sentia culpado por não estar lá para, se não morrer por ela, mas para morrer com ela, porque ele sabia que se fosse uma situação contrária, sua adorada irmã também desejaria o mesmo. Para João, a vida dele havia acabado no instante em que recebeu a notícia da morte da irmã. Se sua companheira, sua parceira de aventuras não estava mais lá, não havia um porquê de ele continuar.

Sua mãe, ao lado de seu pai, chorava descontroladamente em cima do caixão, onde a filha fora posta como um anjo. Sim, Maria havia vivido como um anjo e João nunca conheceu uma garota com as qualidades da irmã. Nem com a beleza, nem com a doçura, embora houvesse uma garota, Tainá, que beirava esses atributos aos olhos de João.

No cemitério, o jovem se recusou a sair do local enquanto a última pá de terra não fosse jogada. Quando isso aconteceu e todos os presentes já haviam se retirado, ele se abaixou, colocou delicadamente uma rosa branca sobre o amontoado, se ajoelhou, pôs a cabeça no chão e chorou.

Chorou como nunca havia chorado antes. Seu coração parecia ter sido arrancado do peito e a única coisa que ele queria era estar morto com ela. Ele chorou e gritou, amassou a rosa, pois não havia deixado de segurar a flor, suas mãos e rosto estavam sujos com aquela terra que em pouco tempo comeriam os restos mortais de sua amada irmã.

Não havia mais nada que fazer. Sua alma estava despedaçada, seu mundo não tinha mais cor e sua visão ficou turva conforme a emoção foi se intensificando e penetrando em todo o seu corpo, até o jovem rapaz não ver mais nada, caindo ali, naquela terra de cemitério com uma rosa na mão sobre o corpo recém-sepultado de sua irmã adorada.