Capítulo 1 - Tormenta

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21 anos depois...

  Líbell Angel Slattery

  As pessoas dizem que sonhos são a imaginação do nosso subconsciente - e ouso dizer que odeio saber o quão fértil a minha imaginação pode ser, principalmente em pesadelos.

   Tudo começou há cerca de quinze anos, minha vida era normal, como de qualquer outra criança. Eu brincava com os meus amigos, estudava, fazia lição de casa, assistia filmes com meus pais, dormia antes das dez e no dia seguinte, tudo acontecia novamente. Era uma vida feliz. Eu era estonteantemente feliz. 

    Mas em uma noite, tudo virou do avesso. Lembro-me claramente dos detalhes desse dia. Era verão, o Sol estava quente, eu particularmente sempre odiei essa época do ano, calor, pessoas grudando umas nas outras...
   
    Enfim, eu brinquei na escola, minha mãe me buscou, passamos numa loja de ervas e fomos para casa. Lembro de ter tomado um banho gelado e depois de ter baixado a temperatura do ar-condicionado. Minha mãe havia reclamado: "Líbell, tenha moderação!" Com certo incômodo por ela não entender minha necessidade de frio, aumentei a temperatura.

   Eu não esperava que a noite escura daquele dia me trouxesse tanta dor, mas ela chegou. A lua brilhando com todo o seu esplendor, olhei através da janela do meu quarto cor-de-rosa e tentei contar as estrelas. Não preciso dizer que foi sem sucesso. Elas eram inúmeras.

   "1... 2...." Meus dedinhos gordos apontavam para cada uma. "Poxa, essa eu já havia contado" e começava do início. Diversas vezes.

   Batidas violentas e desesperadas na porta da casa me chamaram a atenção.

   "Ah, não me atrapalhe." Eu sussurrei para mim mesma tentando não perder a contagem e me esforçando para manter a concentração.
  
   Várias vezes, mais batidas.

  Uma criança furiosa aos seis anos, quer guerra com todo mundo. Desisti de contar as estrelas e desci impaciente as escadas indo em direção à sala de estar. Minha mãe estava parada encarando a porta.
  
   "Mamãe... por que..." tentei dizer, mas ela tampou minha boca rapidamente. Olhei em seus olhos confusa e assustada.
   E ela sussurrou: "Não diga nada".
   Lembro nitidamente de ver o terror em seus olhos castanhos.

   "Líbell?" Reconheci a voz que vinha do lado de fora. "Líbell, querida, é o papai".

   Olhei para minha mãe, e lágrimas estavam começando à brotar de seus olhos. O que estava acontecendo? Por que ela não havia aberto a porta?

   "GRACE EU SEI QUE ESTÁ AÍ, ABRE A PORTA AGORA!" Meu pai gritou para minha mãe e esmurrou a porta novamente. Meu coração acelerou ao ver minha mãe se levantando com uma expressão nervosa e indo ao encontro da porta. Ela estava com medo...  do papai.

   Puxei a manga de sua blusa antes que ela chegasse à chave. "Deixa que eu abro mamãe" Sorri para ela. "Eu protejo você". Ela me olhou surpresa, e sem esperar uma resposta peguei a chave de sua mão. "Deixa eu abrir". Pedi e ela em choque, cedeu.

    Encaixei a chave e meus pequenos dedinhos fizeram com que ela girasse, destrancando a porta.

    Meu pai a abriu impetuosamente, e eu dei passos rápidos para trás fugindo de sua fúria descontrolada. Ele estava bêbado.

   Seus olhos capturaram a presença de minha mãe, e eu a vi se encolher. Meu pequeno e frágil corpo começou à tremer. Ele foi em direção à ela e gritou: "POR QUE NÃO ABRIU A PORCARIA DA PORTA QUANDO EU MANDEI?"

   "E-EU ESTAVA NO BANHEIRO" Grace gaguejou.

   "MENTIROSA!" Meu pai ergueu a mão para a minha mãe e eu gritei:

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