Capítulo 2 - A duquesa e eu

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Primavera, início do ano letivo na faculdade.

Líbell Angel Slattery

  Desperto de mais um pesadelo. O alarme irritante me salva novamente de uma agonia entorpecida de memórias perturbadoras.
Sento-me na cama e respiro fundo colocando a mão no peito, tentando acalmar meus batimentos cardíacos.

No sonho, Gadreel estava parado à minha frente. Ele tinha um sorriso perverso nos lábios.

— Bem vinda de volta, garotinha tola.

— Pelo o visto, você não cansa de me importunar diariamente, não é, Gadreel? — Eu havia falado, ignorando suas palavras nocivas e o atacando com todo o meu sarcasmo.

— É você quem vem me ver, e eu que te importuno? — Ele ri e se senta no chão. Aquela visão o fez parecer tão frágil e indefeso. Ele me olha de baixo à cima e sorri descaradamente. — Se você não fosse brinquedo de Abadon, eu te faria a humana mais privilegiada agora, e saciaria seus desejos carnais.

— Eu tenho nojo de você. — Revirei os olhos. — Já faz quinze anos Gadreel, pare de aparecer nos meus sonhos e me deixe em paz!

— Ah, eu adoraria me livrar de você, garotinha tola. — Ele cruza os braços, e seus lábios quase formam um "bico", demonstrando sua frustração. — Mas Abadon vive dizendo para eu esperar, pois logo você estará pronta para ele usar no plano mirabolante dele.

— Quem é Abadon? — Pergunto curiosa. Por todos esses anos o ouvi comentar esse nome, mas sempre que eu acordo, nunca consigo me lembrar.

A face de Gadreel se reveste em pura ira. Seus olhos antes negros, se transformam em órbitas vermelhas feito sangue. Ele se levanta tão rápido quanto eu julguei ser possível e, em uma fração de microssegundos, sinto o calor efervescente de seu corpo à centímetros do meu.

— Nunca. Mais. Pergunte. Isso. — Ele ruge.

Olho em seus olhos assustada. Nas órbitas vermelhas, há algo mais do que apenas uma cor ensanguentada. Como se eu fosse hipnotizada, observo imagens cruéis invadindo meu campo de visão. Seus olhos me fizeram ver coisas impronunciáveis. Pessoas sendo torturadas, desmembradas, amarradas e jogadas em rios de óleo fervente.

— Pare! — Gritei em clemência, fechei os olhos, mas as imagens insistiam em aparecer. — Pare, por favor! Pare! Não me mostre isso! Faça parar!

— Hora de ir. — Senti Gadreel sussurrar no meu ouvido com a voz rouca. — Até logo, garotinha tola...

Levanto da cama sem fôlego, há suor escorrendo no meu rosto e meu pescoço está molhado, me trazendo agonia. Corro para o banheiro e encaro meu reflexo pálido no espelho.
As imagens insistem em me perseguir e eu forço minha mente à apagar àquelas lembranças. Eu precisava de um padre ou algo do tipo. Ter esses pesadelos com um demônio não era nada normal. Na época de Salém, eu provavelmente seria queimada pela a igreja.

Observo meu reflexo, a imagem refletida está abatida. Olheiras marcam noites mal dormidas, meus olhos verdes, herança de meu pai, estão apagados, sem vida, sem brilho. Meus pulmões soltam um suspiro cansado, na esperança de que meus problemas se resolvam e minha vida faça um pouco mais de sentido.

Deslizo as alcinhas de minha blusa pelos ombros preguiçosamente. Em seguida, o shorts, e sinto meu corpo nu se arrepiar ao ser exposto.

Debaixo do chuveiro, sinto as gotas de água morna escorrer pelo o meu corpo. Gadreel ainda insiste em encontrar brechas na minha mente conturbada. Eu balanço a cabeça para os lados tentando afastar os pensamentos ruins. Pense em outra coisa, Líbell.

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