Touya daria um bom atacante

231 30 16
                                    

Ainda estávamos de castigo pelo gás.

Existe algo pior do que realizar tarefas domésticas quando fazem algo errado. Digo, quando um de nós briga com o outro, ambos vão lavar a louça de todo mundo. E isso não é pouco, sabe, é um colégio enorme, e como eu disse, muitos talheres.

Eu trocaria facilmente esse castigo por lavar a louça por um mês. Aqui, ficávamos quietos, imóveis, apenas esperando o horário passar para irmos estudar. Nossa turma era motivo de chacota no colégio inteiro por passar por isso.

Olha, sejamos sinceros, está meio óbvio que o sistema fascista dessa escola está em dia.

Inquieto, olhei os alunos em suas cadeiras de metal nada confortáveis e tentei não sorrir ao ver Touya. Eu ainda não poderia falar com ele, mas nenhum de nós naquela sala poderia, então estava em vantagem.

Ele olhou para mim de relance como se tivesse percebido que eu o encarava. Não fiz nenhum gesto, que chamasse sua atenção e depois de segundos, ele se virou pra frente de novo. Deveria estar bravo por eu saber que o castigo seria aquele. Uma das madames pigarreou quando eu arranquei uma folha de papel do meu caderno.

Percebi que nunca tinha o visto pentear o cabelo quando a bolinha de papel silenciosamente prendeu em seus cabelo. Risadas escaparam dos alunos que prestavam atenção em ambos, e Touya me lançou uma encarada mortal.

Mas ele pegou o papel. E ele leu. E segurou a risada. Consegui ver ele escrevendo e bati os dedos em minha perna ansioso. Quando a Irmã se virou, ele jogou e eu peguei-a no ar antes que fizesse algum ruído.

"Ela vai nos ouvir"

Madame Geovanna, mais conhecida como Orelhas de Abano, tinha orelhas incrivelmente grandes e feias. Ela era responsável por vigiar os alunos em detenção, o que só fazia aquilo ser mais engraçado. Era incrivelmente cega e não conseguia ler sem óculos, aqueles enormes que faziam seus minúsculos olhos aumentarem consideravelmente. Ela deveria ter 1,50 de altura, e suas extremidades eram finas como as de um rato. Ela seria até bonita se talvez se tomasse um banho vez ou outra.

"Mas não vai nos ver." eu respondi, achando engraçado podermos fazer alguma coisa naquela sala. Até mesmo os outros alunos pareciam excitados com a adrenalina de serem pegos trocando bilhetes. Qualquer coisa era melhor do que ficar entediado daquela forma, e acho que até Touya havia se cansado.

Lancei-lhe o papel que grudou mais uma vez em seus fios vermelho vivos, e mais risadas ecoaram baixinho. Vi um garoto tampar a boca pela surpresa, agora prestando atenção também na conversa silenciosa que ambos tinham.

A Irmã parecia atenta ao que fazíamos, mas assim que tirou o óculos, o bilhete estava em minhas mãos de novo. Éramos bons, éramos realmente muito bons naquilo.

O bilhete foi amassado e desdobrado tantas vezes que ele havia rasgado, e colado com cola líquida por Touya. Ele poderia ter pego outro papel, mas resolveu continuar com o mesmo. Ele já tinha uma sequência de frases e piadas, desenhos, jogos da velha, e nenhum outro aluno se atreveu a fazer o mesmo.

Era a primeira vez que Keigo quebrava as regras, e ele se sentia ótimo.

Faltava poucos minutos para a aula acabar e o bilhete estava com o Todoroki. A Irmã não tirava o olho de nós dois, suspeitando de que armávamos alguma coisa. Ela parecia pronta pra levantar se visse algo que comprovasse sua teoria. Estava animado e ansioso ao mesmo tempo que no mal e no bom sentido. Quando espirrou, nem percebi que a bola de papel voava rápido em sua direção. Quando me estiquei para pegar, minha única visão foi ver o teto antes de minhas costas baterem com força no chão, minha cabeça doía.

Sabe, aquela classe não era muito amigável, eles raramente se ajudavam e era por isso que estavam sempre de castigo, mas vi um garoto que estava ao seu lado puxar com o pé a bolinha de papel que estava no chão e esconde-la.

Fiquei verdadeiramente feliz com aquilo, sequer conhecia o garoto de cabelos escuros e olhos grandes que olhava a professora com assombro como se não soubesse o que acontecia.

Me esqueci da professora até que ela, com uma inestimável força, me levantou.

━━ Eu sabia que tinha visto alguma coisa! Vocês muleques não conseguem parar quietos nem quando estão de castigo. Aposto que foi você quem soltou o gás, não foi?

Neguei rápido, me apoiando na mesa do garoto atrás de mim, e tentando me afastar da mulher com a mesma altura que eu.

━━ Eu- Eu cai sem querer- ━━me expliquei, trêmulo, ela segurava seu braço com muita, muita força. Tentei não olhar para Touya, mas simplesmente sabia que ele me encarava, apavorado.

━━ Vai ter que inventar algo pra diretora agora.━━ e depois disso, ela me empurrou para fora da sala. Conforme andava, ela me cercava por trás. Olhou de relance para o ruivo, que parecia pronto para correr em minha direção, ao mesmo tempo que muito arrependido.

Sabia que deveria estar mais preocupado com outras coisas em uma situação como essa mas, eles não iam me expulsar. Eu sabia que não. Estava preocupado se Touya nunca mais trocaria bilhetes e voltaria ao mesmo inferno de semanas atrás. Quando cheguei na diretoria, percebi que não ia precisar se explicar. Eles precisavam botar a culpa em alguém e eu era a pessoa certa pra isso.

Você leu todos os capítulos publicados.

⏰ Última atualização: Dec 13, 2022 ⏰

Adicione esta história à sua Biblioteca e seja notificado quando novos capítulos chegarem!

Sete Talheres Diferentes┊ DABIHAWKSOnde histórias criam vida. Descubra agora