Sete Talheres Diferentes┊ DABIHAWKS

Sete talheres diferentes

ㅡ Você é o garoto novo, não é?

Sem resposta. Talvez fosse mais fácil que Keigo simplesmente batesse papo sozinho do que tentasse arrancar sequer uma palavra do novo rapaz. Ele deveria tentar, era o que pensava constantemente, concluindo também que assim, o ruivo o acharia maluco, e talvez dissesse algo.

Isso, ruivo. Muito diferente de Keigo, uma criança consideravelmente normal, com os olhos claros que fugiam daquele padrão e o cabelo tão claro quanto, o recém chegado tinha uma aparência muito mais do que peculiar. Usava o uniforme do colégio, nada mais que roupas formais escuras, pretas e de veludo. Ainda assim, por detrás da manga comprida, a pele de tal estava avermelhada, mas não parecia recente. Na verdade, parecia, mas sabia que não era. Era como se tivesse sido consecutivo, como se ele tivesse se machucado diversas vezes ali, pelo menos no pulso, onde era visível. O mesmo se repetia no pescoço e em estranhas olheiras. Era bizarro ver um garoto de no máximo 13 anos com olheiras. Quase como ver um gato tragando um cigarro. Os dois tinham o mesmo gosto.

Apesar de tudo isso, o que mais lhe chamava atenção com certeza não era o fato de que; com toda certeza, na mente de Keigo, ele era briguento. Fazia sentido. As marcas, a aparência no geral, a falta de comunicação, e principalmente estarem em um colégio de boas maneiras. Tudo indicava que hora ou outra, ambos estariam zarpando a caminho da diretoria.

Talvez, mais cedo do que imaginava.

Não, não era as cicatrizes que olhava atentamente. Definitivamente, o cabelo desgranhento havia conquistado sua atenção tanto quanto os olhos turquesa, tão calmos que maresia parecia seu nome. Seu nome.

ㅡ Hm... Perdão, mas você não me disse seu nome.

Sem resposta de novo, dessa vez, aquilo fazendo o loiro, mais baixo que o esguio ruivo, torcer o nariz.

ㅡ É sério, como vou te chamar se acontecer alguma coisa? Sabe que eu vou descobrir uma hora ou outra, certo?

Só faltou o mais alto revirar os olhos. Estava curvado sobre a própria cama, a direita da de Keigo, que era mais próxima da janela. Arrumava suas roupas, dobrando e guardando todas elas como um robô. Fingia não ouvir nada, e nem olhar para o colega, que se perguntava se aquela peça de teatro ainda duraria por mais tempo.

ㅡ Vem cá, você sabe falar?ㅡ se levantou, em cima de sua cama, tento dificuldade de manter o equilíbrio, e então pulando para a cama do ruivo, amassando algumas roupas no processo e fazendo o mesmo parar, respirar fundo, erguer a coluna e encara-lo como se finalmente lhe desse permissão para falar, estaria ali ouvindo.ㅡ Qual o seu nome?

ㅡ Touya.ㅡ respondeu de imediato, como se tivesse sido configurado para fazer aquilo.

ㅡ E o sobrenome?

Ele estralou a mandíbula e virou o rosto.

ㅡ Tudo bem, posso sobreviver só com seu nome.ㅡ ergueu as mãos em rendição, ainda em cima das roupas do outro e sem equilíbrio.ㅡ Qual sua idade?

ㅡ Tenho catorze.

ㅡ Catorze?ㅡ arregalou os olhos, o olhando de cima a baixo, arrancando mais uma expressão severa da parte do mais alto, agora também mais velho.ㅡ É que você parece mais novo, tipo, uns dois anos mais novo. Eu tenho treze.

ㅡ Bom pra você.

Finalizou, puxando as vestes por debaixo do loiro e as empilhando conforme o que eram. O mais novo, agora sentado na cama, cerrou os olhos e se levantou pouco depois, não bravo, Keigo nunca ficava bravo.

ㅡ Você é bem estranho, né?

ㅡ Você se surpreenderia.

Franziu o cenho, mais por não esperar que ele respondesse do que pela resposta em si. Testou outra vez, ardiloso como era.

ㅡ Como veio parar aqui?

ㅡ Não é da sua conta.

Sorriu, contente por fazer progresso e entender parcialmente como a mente de Touya funcionava, ao que ele reagia e como reagia. Bom, parcialmente. Ainda havia um enorme ponto de interrogação em sua testa que contradizia o que pensava do rapaz, pegando os vestígios de suas ações e falas e dando formas a ela, a forma de Touya. Não sabia e nem entendia quando isso havia se tornado tão atrativo, descobrir sobre seu colega de quarto. Mas o que mais poderia fazer, certo? Aprender a se servir com sete talheres diferentes?

Eram sete mesmo?