Touya cheira o gás estranho

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As vezes, se perguntava de que serviam tantas regras.

"Para serem quebradas" o mais teimoso sempre respondia quando a professora perguntava. Ele era terrível, um ano mais velho que nós e ainda insistia naquilo. Nunca soube seu nome, só sabia que ele não tinha sido expulso. Mas também nunca mais o vi.

Na verdade, ainda havia aquela sombra em sua carteira que fazia os alunos se perguntarem o que diabos poderiam ter feito com aquele cara? Com aquela criança? Poderiam fazer isso conosco também?

Eram alimentados por medo, enquanto ainda enfiavam ordens e padrões para tudo e todas as coisas por nossa guela abaixo. Me senti frouxo perto daqueles caras que não pensavam duas vezes antes de insistir no erro até ele não ser mais um. Era como se fosse possível que a mágica acontecesse até nos lugares mais podres do mundo e eu era o único que não sabia executa-la.

Ainda.

Com isso em mente, foram direcionados a biblioteca. Fora alguns outros raros momentos, pra compensar, era incrivelmente uma das aulas mais descontraídas que tinham. Tudo estava em silêncio, então qualquer sussurro seria notado, como dizia Madame McKenzie. Mal sabia ela que tinham outras maneiras de se comunicar.

Ainda assim, se arriscou, se virando a Touya e estralando os dedos em frente ao livro que ele parecia querer queimar e jogar fora.

Ele o encarou como se eu fosse seu livro.

ㅡ O que?ㅡ perguntou, entre dentes.

Se perguntou se era seu plano parecer ameaçador, porque não estava dando certo. Felizmente, ter medo de várias velinhas não te faz ter medo de um pirralho com cara feia.

ㅡ O que você tá lendo?ㅡ perguntou, me aproximando para espiar alguma coisa.

Ele o afastou, do jeito mais sutil que poderia. Suas mãos estavam rígidas. Provavelmente estaria com um olho roxo caso não estivessem sendo vigiados.

ㅡ Não é da sua conta.ㅡ ele disse, baixo, olhando de canto de olho para a supervisora.ㅡ E não estou lendo.

ㅡ Ah, isso eu sei. Você não virou a página nenhuma vez desde que chegamos. As velhas prestam atenção nisso.

Touya pareceu prestar um pouco mais de atenção, embora tivesse voltado a encarar o livro. Assim que ele virou a página, sorriu por saber que havia o escutado.

Minutos depois, a sala se encheu de gás.

Talvez isso não seja comum em todos os lugares, mas é por coisas assim que as madames sempre desconfiam de todas as crianças daquele lugar. Todos tiveram que sair às pressas do cômodo. Os olhos claros do loiro estavam vermelhos e coçando como os de todo mundo, e o responsável, obviamente, não se assumiu.

ㅡ Acho que é a quarta vez essa semana.ㅡ disse Madame Evans, segurando um chilique. De repente, Keigo se lembrou do porque nunca fazia nada como aquilo. Ela parecia prestes a prender todos em uma sala e se esquecer de onde põs a chave.

Ficamos em fileira, na porta de fora da biblioteca, esperando a punição que estava pra vir em todos por não descobrirem o culpado.

Touya parecia sereno, embora seu rosto estivesse mais vermelho que seu cabelo. Acho que não fui o único a notar visto que mais garotos agora riam de sua situação. Quase poderia apostar que os culpados. Ele nem se mexeu.

Me perguntei se Touya tinha o mesmo medo que eu, ou se ele era apenas sensato.

Sete Talheres Diferentes┊ DABIHAWKSOnde histórias criam vida. Descubra agora