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                           NESTHA

11 meses antes...

— Nessie?

Nestha Archeron desviou os olhos do livro para a porta e deu de cara com sua irmã mais nova abraçando com toda sua força um travesseiro.

— Posso ficar aqui com você? Não consigo dormir, a música tá muito alta.

— Por que você não fica com Elain?

Feyre revirou os olhos.

— Quem você acha que disse para eu vir para cá?

Ela suspirou ao olhar para o relógio da escrivaninha. Duas da manhã. E, agora que Feyre tinha dito, Nestha não conseguia deixar de perceber o quão alto estava o barulho da festa lá embaixo.

Então voltou a olhar para irmã mais nova, que se esforçava muito para não parecer nervosa.

— Só deixo se você prometer não me atrapalhar, estou lendo.

Feyre entrou no quarto tão rápido e tão feliz que foi difícil para Nestha reprimir um sorriso.

— Prometo, prometo, prometo. Você nem vai saber que eu estou aqui.

Nestha duvidava muito da veracidade daquelas palavras, mas abriu espaço para a irmã em sua cama mesmo assim.

E Feyre conseguiu se manter imperceptível por cinco incríveis minutos. O que, para o padrão de garotas de treze anos, era de fato muita coisa.

— Nessie?

— Hum?

Mas a Archeron mais nova não prosseguiu, o que fez com que a mais velha tirasse os olhos do livro – novamente – para poder encara-la.

— O que foi?

Porque Feyre permanecia deitada, parecendo triste enquanto olhava para o teto como se pudesse encontrar todas as respostas no gesso branco

— Por que ele dá tantas festas? — Ela finalmente perguntou, baixinho — Antes não era assim.

Tudo dentro em Nestha se afundou com aquela pergunta. Com a dor que ouviu em cada palavra. Era um espelho de tudo que contorcia seu coração desde que a vida de sua família desandou. Desde que a mãe tinha adoecido, desde que seu pai não fez – e ainda não fazia – nada para tentar cura-la.

Nestha pensou naquele antes de qual Feyre falava com tanto carinho, aquela época em que a casa era cheia de flores e vida e em que a mãe delas estava sempre andando de um lado para o outro, rindo. Na época em que o pai ainda não era alguém desprezível. Na época em que ela não era tão rígida como hoje.

Por que ele dá tantas festas?

— Porque ele é triste.

— O que?

Feyre parecia não se lembrar de que de fato tinha feito uma pergunta e Nestha olhou bem no fundo dos olhos da irmã. Os mesmos olhos dela. Os mesmos olhos da mãe das duas.

— Ele faz isso porque é triste, Feyre. Existem pessoas que são tão miseráveis por dentro que precisam se cercar de outras e festejar, precisam desesperadamente se cercar de vida para tentar descobrir como se vive uma.

— E funciona?

— Não. — respondeu, baixinho — Eu acredito que não.

As duas ficaram em silêncio por um momento. As palavras pesando e, de alguma forma, fazendo delas mais velhas e mais calejadas em relação ao mundo.

Admirável Mundo NovoOnde histórias criam vida. Descubra agora