• 03

387 50 140
                                    


                     NESTHA

Inverno de 2013

Nestha odiava neve. Odiava tanto que  poderia até escrever um TCC sobre o quanto odiava o caos que se instalava nas ruas quando nevava. Poderia fazer um maldito Power Point sobre quanto aquele evento climático era simplesmente inconveniente.

Tudo parava. Ficava mais devagar. E, sabe se lá porque, ela tinha que lidar com crianças e idiotas que achavam divertido sair tacando água congelada um nos outros, esculpindo isso e aquilo no meio das ruas interditadas.

Neve era sinônimo de desperdício de tempo. E Nestha odiava.

Por isso, quando abriu as cortinas naquela manhã e viu a rua brilhando em um branco vibrante, ela soubera que seu dia seria péssimo.

O que, a propósito, estava se mostrando verdade.

Nestha bufou com força ao fechar seu armário. Suas botas estavam arruinadas, seus lábios rachados e ela tinha quase certeza de que pegara um resfriado do demônio.

— Archeron!

Ela fechou os olhos, encostando a cabeça no metal frio do armário e se questionando o porquê de ter sequer se levantado da cama.

Aquele vestiário minúsculo parecia a engolir, parecia a levar de volta para aquele dia horrendo de sua formatura, quando havia deliberadamente desistido da faculdade. Parecia a lembrar constantemente que aquela renúncia significava precisar do emprego.

E Nestha odiava aquele emprego. Odiava o fato de precisar dele. Odiava seu chefe idiota. Odiava até a si mesma por ter tomado as escolhas que a levaram até ali.

— Estou indo! — gritou de volta, irritada.

E resmungando, colocou o uniforme amarelo e amarrou os cabelos.

Tudo que podia fazer era torcer para que Lenny tivesse arrumado o aquecedor da lanchonete. Enquanto respirava fundo, ela ia em direção a mais um dia insuportável em seu trabalho insuportável.

De sua vida insuportável.

— Mesa cinco, Archeron

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

— Mesa cinco, Archeron.

— Meu turno acabou dois minutos atrás — Ela lembrou, já tirando o avental.

Lenny a encarou com aqueles olhos pretos, cheios de raiva.

— Ianthe ainda não chegou para o turno dela.

E Nestha definitivamente não queria estar ali quando aquela mocreia chegasse.

— E o que eu tenho a ver com isso?

— Tem uma mesa precisando de atendimento e você trabalha para mim.

— Sim, das oito às quatro. Agora são... — Nestha olhou para o relógio na parede — Quatro e cinco. Estou indo embora. Meu turno acabou.

Admirável Mundo NovoOnde histórias criam vida. Descubra agora