Poesias que vivi

Pesadelo

!!!ALERTA DE GATILHO!!!!

O poema a seguir contém relatos de um caso de estupro, se você for sensível a este assunto peço que passe para o próximo capítulo.

Na primeira vez que fui ao psicólogo ele me mostrou uma boneca e pediu para que eu apontasse onde foi que me tocaram, eu não sabia o que dizer, não sabia como reagir naquela situação, mas apontei na parte que sentia dor.

Eu tinha 5 anos quando tudo aconteceu, eu não estava na rua tarde da noite, não estava bêbada, não usava short curto, eu não sabia que era errado, não sabia o que fazer e quando soube não acreditaram.

12 anos se passaram e ninguém nunca havia acreditado em mim, perdi as contas de quantas vezes minha mãe me acusou de provoca-lo ou apenas dizer que eu estava mentindo, eu me calei por 12 anos por que eu era a única pessoa que acreditava em mim, me calei por medo de voltar a apanhar, esperei 12 anos por isso depois que já tinha chegado no meu limite, mas parou por aí, não foi o fim da minha angústia mas foi o fim de toda essa história, não foi o final que eu queria ou precisava (que eu achava que precisava) mas acabou ali naquele consultório 12 anos de medo, dor, angústia, pesadelos. 12 anos era tempo demais pra que alguém voltasse a acreditar em mim, era tempo demais pra que eu pudesse fazer algo, eu só consegui pensar no quanto minha mãe iria ficar com raiva e destruída ao mesmo tempo com tudo isso, no quanto minha família me odiaria mais ainda, então eu me calei novamente, por medo, por sentir que eu só causaria mais problemas se contasse, me calei pra evitar toda essa confusão porque prisão nenhuma vai apagar toda essa dor.

Os anos se passaram, a dor continua, a culpa me consome, a raiva é um sentimento constante, tanto tempo se passou e em toda reunião de família eu sou obrigada a me sentar na mesma mesa que o meu pesadelo de 14 anos atrás.