Caio

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27 - 09 - 2020

Hoje faz 4 anos que o Caio se foi, me lembro bem daquela terça, o dia parecia meio triste desde a hora que acordei, chegamos na sala e Caio não estava lá, o que não era tão estranho porque ele costumava chegar no segundo horário como se nada tivesse acontecido e com aquele sorriso que dizia " eu sei professora, mas deixa eu entrar aí por favor, eu só quis dormir mais um pouco", era a desculpa que ele usava de vez em quando, nós nunca pensamos em qual era o real motivo de tantas faltas, tantos horários atrasados etc.

Naquela terça o segundo horário bateu, mas ele não apareceu, me lembro de que as 08:00 nossas amigas ligaram e pediram que ele fosse. ele não quis ir. conversamos por alguns minutos e desligamos, ele disse um até mais, mas, às 09:00 ele se foi, as 09:00 a depressão levou o Caio, as 18:00 seu irmão o achou e as 19:00 nosso mundo desmoronou. Por alguns minutos eu não consegui ouvir nada, tudo parecia ter ficado paralisado dentro de mim, meu coração batia acelerado e na minha cabeça a única coisa que eu pensava era que tudo podia ser só mais uma brincadeira dele, igual a do dia em que ele disse que estava com câncer e depois mandou um "cancer lado" com vários emojis sorrindo, eu não queria acreditar que ele tivesse ido embora desse jeito, no dia anterior estávamos falando sobre cortes de cabelo e festas, ele disse que um dia eu ainda iria cortar o meu do mesmo jeito que o dele.

Nós fomos ao cemitério e eu vi todos nossos amigos ali, menos o Caio, por vezes eu me segurei pra não gritar, eu ouvi histórias dos seus amigos de infância, ouvi que ele disse que nós do IF éramos uma das melhores coisas que já tinham acontecido na vida dele, essas palavras ainda ecoam na minha cabeça de vez em quando, ele se sentia feliz quando estava com a gente, se eu ao menos soubesse o que estava acontecendo com ele, talvez, só talvez, pudesse ter tentando impedi-lo de fazer aquilo.

Caio não participou da ocupação naquele ano, nao me viu cortar o cabelo em 2017, Caio não fez mais piadas com o professor, uma semana depois que ele se foi pegamos sua prova de matemática e ele tirou 10/10, Caio não se vangloriou por ter tirado essa nota, ele não fez mais perguntas "idiotas" pro professor de filosofia, nao fez piada sobre gravidade com o de matérias de construção, Caio não zombou da minha cara por jogar basquete ou por ter sido levantada junto com a bola pela adversária, ele não jogou no jifenmg, não viu o teto do anfiteatro cair, não reclamou mais do horário de aula, Caio não chegou mais atrasado, depois de um tempo eu tive que me acostumar com a ideia de que ele não iria mais chegar, Caio não viu os fogos no ano novo, não fomos pra ibiaí no seu aniversário, ele não viu Bolsonaro ser presidente, não viu a pandemia, não teve que usar máscara e reclamar do quanto elas são ruins pra respirar.

Os anos se passaram e eu consegui entender, entendi toda sua dor e tudo que ela estava passando, eu fico feliz por ter dividido uma parte da minha vida com uma pessoa tão incrível quanto ele era (é), compartilhamos piadas idiotas, desabafos sobre a vida, brigas. Nós perdemos o Caio, mas nunca o esqueceremos, ele estava escrevendo um livro e certa vez eu disse a ele que um dia eu também criaria coragem para postar meus poemas, e é por isso que por onde eu for te levarei comigo, no meu livro, nas minhas memórias e no meu coração.

Te amo, migo.

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