Juninho

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Ouviram do ipiranga às margens plácidas, ouvi-se um tiro lá da favela, morreu mais um silva e é mais pra conta que ninguém te conta.
Juninho, criança feliz, sapeca, inocente, foi jogar bola na rua do Robertinho e enquanto subia a ladeira seu corpo também subia, mas aos céus, Juninho é mais um que entrou para as estatísticas, caiu no asfalto com mais um tiro que “ninguém sabe de onde veio”, da polícia? Fala baixo nem brinca. Do traficante? Segundo a PM em uma troca de tiro com algum traficante (que nem eles sabem quem) um dos “marginais” acertou Juninho. “ Mas seu polícia, a bala era da sua arma” e todo mundo se cala.

Juninho não foi a primeiro, Ágatha Vitória Sales Félix, não portava arma, não estava com drogas, Ágatha voltava pra casa com sua mãe mas teve seu caminho interrompido com um tiro de fuzil lá na zona norte do Rio. Mesmo com tantas testemunhas a voz da vítima se cala perante a arma do verdadeiro assassino.

João Pedro, 14 anos, mais uma vítima do “desconhecido”, João estava em casa com os primos quando sua voz foi silenciada com um tiro, levaram João mas para onde levaram ninguém ficou sabendo, João foi mais um no meio de tantos Juninhos e tantas Ágathas que morreram pelo acaso, morreram não, foram assassinados e nada nesse caralho é por acaso.

São tantos Juninhos, tantas Ágathas, tantas crianças que se foram sem explicação, investigação, sem que ninguém ao menos desse uma resposta sobre de onde a porra do tiro veio. Quem sabe não conta, quem conta leva o mesmo destino de Juninho.

É na favela onde 80 tiros em um carro vira acidente, onde a vida não importa e é só mais uma estatística, onde o guarda chuva é um fuzil, o uniforme da escola vira um alvo, onde ninguém está protegido nem mesmo na sua própria casa, eu não quero o nome de mais um irmão com uma vírgula e a palavra presente, não quero que eu seja reconhecido por ser mais uma estatística, eu quero viver. João Pedro, Juninho, Ágatha, Amarildo, Rodrigo, são provas de que cada vez mais a carne mais barata do mercado é a carne negra.

Nós não somos números.

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