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Quando o carro parou, Atsushi achou que seu coração iria sair pela boca. Ele ainda estava dentro da casinha, se mantendo distante de Kyōka — que ainda não se sentia a vontade perto dele. O som da porta se abrindo quase fez o gato sair correndo, mas sua parte humana o fez permanecer quieto.

Com suas patas, ele estava segurando a porta da casinha para que não abrisse. E teve que segurar mais forte quando ela foi levantada. O homem começou a andar. Atsushi não conseguia ver muito coisa do lado de fora, mas sabia que eles estavam sendo levados para dentro de algum lugar.

Ao adentrar no local, o cheiro forte de outros animais chamou atenção do gato. Ele não sabia dizer se era um bom sinal ou não. Quando o homem colocou a casinha encima de uma mesa, o gato rapidamente se afastou da porta e tentou se aproximar o máximo possível da coelha.

Não importa o que aconteça, eu vou protegê-la, era o pensamento que fez o gato ficar em posição de ataque. Quando a porta da casinha foi aberta ele atacou, mordendo o pulso do homem que gritou em resposta.

— Eu disse para você ter cuidado com o gato. — a voz de outro homem que estava atrás de Atsushi, o assustou — Por que você não colocou uma luva como eu mandei?

— Eu não achei que ele fosse realmente me atacar.

— Mesmo lidando com gatos há cinco anos, você continua achando que eles são mansos.

— E você continua achando que eles são malvados.

— Eu não acho ele malvados, apenas presunçosos.

A conversa dos homens estava deixando Atsushi confuso, e quando ele observou a parede ao seu lado ele finalmente entendeu. Havia dois diplomas de veterinária. Observando o local, ele viu três portas.

— Você acha que deveríamos colocar cartazes dos dois animais por aí? - perguntou o homem lavando a mordida do gato — Talvez eles sejam de alguém.

—  É uma boa ideia, mas acho melhor fazermos isso amanhã. Agora, temos que dar um jeito de dar uma olhada neles sem o gato nos morder.

A parte felina de Atsushi o mandava sair correndo, mas sua parte humana dizia para relaxar. Claramente, os dois não eram maus. Então decidindo acreditar neles, ele entrou na casinha novamente e tentou se aproximar cuidadosamente da coelha.

Ela estava cada vez mais encostada na parede, calmamente o gato andou em direção a ela. Tentando demonstrar toda a calma possível, e também que ele não iria machuca-lá. Quando estava perto o suficiente, ele começou a ronronar e assim encostou sua cabeça na dela, fazendo um leve carinho. Ela não fez nada de imediato, até que parou de tremer e decidiu retribuir o carinho.

Com a possibilidade de amizade, o gato segurou a coelho pela boca e a levou para fora. Os dois homens pareceram surpresos com tal cena. O gato soltou a coelha, mas ficou próxima o suficiente dela.

Observando os dois homens agora, Atsuhi percebeu meras semelhanças entre eles. Talvez fossem parentes, pensou. O homem que o gato havia morrido era mais alto. Ele tinha cabelos pretos encaracolados, e seus olhos eram de tom verde. O outro tinha bem mais corpo, seus cabelos também pretos, porém lisos e olhos castanhos. E ele também possuia uma barba. Ambos usavam roupas de tom preto, desde a calça a casaco.

— E você chamando o gato de presunçoso. — disse o homem, agora com a mão enfaixada, rindo. — Deveríamos pôr eles juntos.

— E se o gato matar o coelho?

— Eu acho mais fácil ele matar a gente se o separarmos do coelho.

O barbudo o observou, e em seguida olhou para os dois animais. Ele suspirou e cruzou os braços.

— Se algo der errado você resolve. — disse ele

O mais alto sorriu, e calmamente ele se aproximou dos animais. A coelha ficou mais perto do gato, e numa tentativa de acalmar ela, ele começou a ronronar e ela relaxou. O homem sorriu, e pegou ambos com cuidado, os levando para uma sala com várias gaiolas. O chão das casinhas era de madeira, e ao redor tudo era grade. Os animais foram colocados juntos, o homem saiu e depois voltou com dois potes de comida — um com ração de gato, e outro para coelho — e depois saiu novamente, mas dessa vez trouxe água.

— Eu ainda não sei como vou deixar vocês juntos, mas só por essa noite vai ser assim. — o homem sorriu — Eu espero ver os dois amanhã.

Ele apagou a luz do cômodo e saiu. O gato deitou-se no final da gaiola, e a coelha deitou ao lado dele, e assim ambos dormiram.

Duas semanas se passaram, e a coelha estava cada vez mais acostumada com o gato. Eles agora estavam numa gaiola maior, com espaço para água, comida e banheiro para os dois. Atsushi descobriu que ele estava num veterinário-abrigo. Os homens, Thomas e Henrique — irmãos canadenses que se mudaram para o Japão há 7 anos — cuidavam do local. Thomas era o veterinário, ele cuidava de animais domésticos e de rua. Henrique, cuidava da parte da adoção. Animais de ruas abandonados eram cuidados por ele para serem adotados.

Atsushi e Kyōka não estavam na lista de adoção. Como protocolo, eles esperam três meses para confirmar se os animais tem dono, caso não tenham, eles podem ser adotados. Todo dia, Atsushi ficava agoniado. Ele não sabia se seria encontrado, sua vontade era de se transformar e levar Kyōka consigo, mas seu plano não daria muito certo. Então ele esperou, e esperava ser encontrado.

Henrique entrou no cômodo mais animado que o comum. Ele foi até o gato e o coelho e abriu a gaiola.

— Tenho boas notícias! Parece que encontramos seus donos.

O gato já estava de pé e atento. Ele miou, e o homem sorriu. Ele pegou ambos os animais e os colocou numa casinha juntos. A coelha dessa vez estava perto do gato. Quando o homem parou, a casinha foi colocada encima de uma mesa. A porta foi aberta e o gato saiu calmamente, encontrando com os irmãos Akutagawa.

— Gatinho! — disse Gin o pegando em seguida — Eu senti tanto a sua falta. Meu medo era que nunca mais o visse.

Atsushi miou em resposta, e ela beijou sua cabeça. Quando ele olhou para o lado, todo o seu pelo se arrepiou. Ryūnosuke o encarava, e não parecia estar nem um pouco contente.  A coelha estava na porta da casinha observando o gato que tratou de sair do colo de Gin e se aproximar dela. Ele ronronou e fez carinho nela fazendo-a sair em seguida.

— Que gracinha, ela é tão linda! — disse Gin sorrindo — Eu não sabia que você gostava de coelhos — disse olhando para seu irmão.

— Sim, eu gosto, algum problema?

— Nossa que grosso, tomara que morda a língua.

Devagar Gin se aproximou dos animais, e esticou a mão para fazer carinho na coelha. Ela se afastou de primeira, mas calmamente voltou e aceitou o carinho que fora concedido para si.

Ryūnosuke e Henrique saíram da sala, e voltaram alguns minutos depois. Os animais entraram na casinha e Gin a segurou dessa vez. Se despedindo do homem, os irmãos Akutagawa saíram do local e foram para o carro. A casinha ficou no banco de trás. Ryūnosuke sentou-se no banco do motorista, e Gin ao seu lado. O carro foi ligado e o homem começou a dirigir.

— Bom, agora que você parece menos irritado, que tal conversamos?

— Sobre?

— Bom, eu acho que faz duas semanas ou mais, não lembro agora, mas havia uma pessoa dormindo na sua cama com você.

Na mesma hora Ryūnosuke parou o carro, que não havia andando nem 3 centímetros, e Atsushi se aproximou da porta para prestar atenção na conversa.

— Você viu? — perguntou ele encarando Gin.

— Bom, sim. — respondeu ela olhando para sua mão — Eu queria ter te perguntado antes, mas você tem estado essas últimas semanas tão estressado com o seu trabalho que eu não quis incomodar. E aliás se você não quiser falar sobre isso, não precisamos. Mas saiba que, eu estou feliz se você estiver.

Ryūnosuke voltou a olhar para frente, apertou o volante, respirou fundo e começou a dirigir novamente. E sem ninguém dizer mais uma palavra, eles voltaram para casa.

Gray Fur | Shin SoukokuOnde histórias criam vida. Descubra agora