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O quarto de Suzane estava em perfeitas condições, a única coisa que a incomodava eram os estranhos latidos do são Bernardo do lado de fora da casa.

No quarto havia uma única janela, permitindo-a ver o que deixava o animal tão agitado.

Suzane tentava se manter calma diante do que vira olhando atentamente pela janela, após ter a certeza de que algo havia de se movimentar rapidamente pela extensa boscagem do cerrado, provocando sons de galhos quebrando, e uma série de ruídos intensos, semelhantes a murmúrios baixos e um grunhido horripilante, causando-lhe arrepios nos braços.

"Deve ser algum bicho, nada de mais."

A luz radiante da lua refletia nas águas daquele rio logo abaixo e suas ondas lhe eram semelhantes às dunas do Saara que, por sua vez, exibia uma abundante concentração de plantas anexas as rochas e pedras com musgo, fora as raízes e a relva verde por toda a beirada.

Suzane acordara no dia seguinte com o sol erguendo-se em meio à uma legião de pássaros que juntos sobrevoavam sobre grandes nuvens que pairavam solenemente naquele céu só de azul.

Ela levantou da cama de súbito meio zonza, pondo as mãos sobre os olhos que ardiam e lacrimejavam devido a forte luz solar que havia de passar pela janela de seu quarto.

Seus olhos estavam pesados, quase se fechando, podendo enxergar apenas uma fresta ao todo.

Então, Suzane logo pegou o celular que estava encostado ao pé da cama, estendendo-lhe a mão para apanhá-lo com precisão.

Após isto, foi ao banheiro lavar o rosto e logo em seguida tomar um banho quente antes de fazer qualquer coisa naquele dia.

Depois de seu banho fora indo rapidamente ao armário onde colocara a bagagem junto as roupas dela.

Haviam uma série de cabides na parte de cima de um suporte, embaixo as malas e suas demais vestimentas.

Enquanto se vestia, Suzane pensara no que iria de fazer durante a maior parte do dia, pois lhe parecia que tudo se resumia a pequenas e irrelevantes ações do dia a dia, isto é, os hábitos costumeiros do cotidiano muitas das vezes lhe soavam, no mínimo, monótono ou deveras enfadonho.

Fora então que ela notara uma mensagem do irmão recebida á uma hora atrás:

- Fui até a cidade, preciso resolver alguns assuntos pendentes com o meu editor. Te vejo depois -

Suzane foi logo em seguida até o quarto de Pietro, confirmando sua ausência.

A cama estava feita e as cobertas todas estavam dobradas dentro de seu guarda-roupa.

Ela desceu os degraus de mármore da escada junto ao barulho irritante de suas sapatilhas, um baque atrás do outro.

Fora em direção a cozinha onde estavam sobre a mesa uma garrafa de café e uma sacola de pães.

Suzane ainda estava pensativa com relação ao que iria de fazer para se manter ao máximo entretida e alheia ao momento absorto de realidade absoluta, tomando pra si como sendo está sua primeira atividade, pois isto seria sua nova vida de agora em diante, sem se ater as amargas lembranças de sua vida passada e de quem um dia fora.

Seu pensamento imediato foi tomar café na sala de estar, passando de um ponto a outro.

Havia um quadro grande posto na parede sobre o sofá vermelho vinho, ilustrando uma bela paisagem entre um bosque entre as copas das árvores grandes, cujo caminho era traçado na tela de uma estradinha de terra.

O quadro em questão era em suma muito bonito, retratando uma paisagem deveras calorosa.

Mas Suzane percebeu como se fosse um homem na tela, homem esse que olhando mais de perto, prestando bem atenção, se parecia com.... com seu... com seu marido!

Ela estremeceu e lhe pareceu que o coração iria se despedaçar dentro do peito de tanto bater com tanta força, e tanta velocidade.

Ela ficara naquele momento estarrecida ao notar que o homem pintado no quadro se assemelhava com seu ex-marido, devido a aparência idêntica do mesmo, exibindo a mesma vestimenta da calça e dos sapatos pretos.

Ele compartilhava do mesmo sorriso largo e lunático em seu semblante que lhe fazia parecer os dentes, dentes assustadoramente alinhados formando uma fileira completa.

Suzane desviou o olhar por um instante do quadro tentando se desvencilhar do que havia visto de relance, e logo os direcionando novamente tendo como surpresa não haver homem algum na tela.

"Coisa minha mesmo."

Logo após isso ela decide então explorar a mata ao redor da casa numa calma e rápida caminhada, junto ao são Bernardo, para esquecer o que havia ocorrido, ( mais por um motivo verossímil do que propriamente isto ).

BICHO PAPÃO ✓Onde histórias criam vida. Descubra agora