Suzane soube pela primeira vez o que a palavra pânico significava na prática, visto que aquela sensação antes distante considerada como apenas algo ruim, agora se tornou verdadeiramente real.__ Quanto tempo, achei que nunca iríamos nos ver novamente. __ brandou a coisa.
Ela estava paralisada pelo medo, com os músculos de seu corpo duros e rígidos, num estado catatônico, tão branca que parecia estar vazia de sangue.
__ Como é bom. __ murmurou o bicho papão, passando as enormes garras entre suas pernas.
__ Eu estava atrás de você por tanto tempo, Suzane. __ afirmou o maldito, ainda mais próximo dela.
Ela, naquela situação, estava impotente, incapaz de se mexer ou fazer algo, pois suas forças estavam completamente esgotadas, devido a paralisia do corpo.
Estava com os membros imóveis e a voz sufocada sem poder gritar o irmão.
"Maldito!" disse, sua consciência.
Ele gesticulou com as mãos sujas, enlameadas de terra, dizendo num tom grave e hostil, como se sua boca estivesse coberta por algas.
__ Vamos terminar isso logo, eu e você. __
Suzane ficou amedrontada e ao mesmo tempo aterrada, sabendo que o ser, de certo, daria lhe fim ao teu sofrimento eterno.
Ele avançou, sussurrando em seu ouvido:
__ Seu medo me alimenta. __ aquilo se pareceu com um grunhido hediondo de um bicho, uma voz quase humana.
Aqueles eram seus últimos suspiros, sua última hora, pois o coração no peito não batia ou ousava bater.
Com um grito intenso, Suzane sentiu que sua vida estava se acabando.
A visão embaçada, o ar restante de seus pulmões se acabando pouco a pouco.
A força diabólica nas mãos da coisa que exibia um sorriso disforme e lunático no rosto.
Ela se debateu na cama, mas logo veio a cãibra em seus braços e pernas, deixando-a sem forças para continuar a se defender dele que se mantinha ali, ligeiramente posto em cima de seu corpo.
O bicho papão neutralizou seus movimentos por completo, com seu peso todo sobre ela.
E de repente sentiu uma pontada nas costas, uma pequena incisão feita por garras que haviam de perfurar sua coluna como se o tecido da pele, carne e músculos se separassem num rasgo.
Como se suas costas se abrissem de dentro pra fora.
__ Por favor ..... não ..... você não ..... __
Penetrando, perfurando, rasgando, afundando, rompendo veias, fibras, artérias, músculos e vasos sanguíneos, todos cobertos por uma fina camada de membrana, dilacerando por dentro, e então o sangue jorra....
Pietro subiu a escada numa velocidade nunca antes vista, pulando um degrau para chegar mais depressa até o quarto da irmã, onde ouviu gritar histérica.
__ SUZANE! __ exclamou, desesperado, faltando-lhe apenas dois degraus.
__ SUZANE! __ gritou, novamente, ainda mais alto, elevando sua entonação de voz, sentindo lá no fundo da garganta as cordas vocais se agitando como se fossem estourar, mas só o que teve como resposta fora a calmaria, um silêncio ininterrupto, causando nele aquela sensação de outrora.
A porta estava aberta e de lá vinha o cheiro do ar sombrio de raízes mortas.
Claf! Claf! faziam as tábuas do assoalho diante de seus passos direcionados ao piso de madeira recém encerado.
Ele ouviu o ruflar de águas e terra, muita terra, por todo o quarto de Suzane.
Havia sangue no chão, nas paredes, o teto fora pintado de rubro até as extremidades, a substância ríspida e viscosa parecia brotar de ambos os lugares.
Um rastro viscoso da cama indo em direção a janela aberta, fora as pegadas de um líquido preto e escuro.
Entre o vão da janela marcas de dedos junto com sangue coagulado e pedaços de relva verde.
Os olhos vazios e vítreos da moça morta, grandes e arregalados, vidrados, olhando diretamente para frente, num estado de choque, referente a paralisia ou o pânico estampado em seu semblante hediondo e cadavérico.
Estava imóvel, com os músculos da face brancos e pálidos, como de um cadáver.
O corpo acinzentado parecia um boneco inflável vazio, sem ar, cuja pele murcha e flácida, pela ausência do sangue, parecia com plástico.
Pietro viu o que pareciam ser dois olhos brancos que cintilavam em meio a escuridão do quarto o encarando.
Ele paralisou de imediato, sentindo escorrer um líquido quente entre as pernas ao esvaziar a bexiga involuntariamente, urinando em suas calças.
E a última coisa que seus olhos viram antes de cair absorto e disperso fora um vulto escuro magro, curvado e esguio, detentor daqueles dois globos oculares de giz, brancos e vazios, atirando se ligeiramente para trás, se movendo até o guarda-roupa, abrindo a porta do roupeiro, entrando e fechando logo em seguida.
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BICHO PAPÃO ✓
Short StorySuzane tenta recomeçar uma nova vida ao lado de seu irmão Pietro, que juntos se mudam para uma casa isolada na floresta, afastada do grande centro da cidade. Ela afim de esquecer um relacionamento traumático e ele afim de curar seu bloqueio criativo...