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Suzane precisava de qualquer maneira sair daquele ambiente um pouco, pois há de convir que este lhe trazia certo conforto e bem estar, no entanto, também uma inquietação sufocante e um tipo específico de incômodo que lhe envolvia até o pescoço.

Ela ouvia os pássaros a cacarejarem sobre as árvores, cujas copas escondiam abaixo um divino riacho, onde o curso da água era contínuo.

O som borbulhante da queda das águas sobre as pedras e rochas do matagal extenso e lamacento, a imagem do verde folheando toda superfície.

O São Bernardo estava sentado sobre a folhagem rasteira de olhos fechados e de cabeça erguida, com sua língua passando de um lado para o outro, respingando saliva que escorria de sua boca: o membro agitado fazia aquele movimento frenético que os cães normalmente fazem quando sentem muito calor.

Ele notou sua presença ao ouvir seus passos próximos tomando-se de alegria naquele exato momento, latindo para Suzane que só fazia acaricia-lo, alisando da barriga até o pescoço.

Após a retirada de sua coleira, Suzane fora ao mesmo numa estradinha de terra vermelha que levava para uma espécie de floresta local.

Ela poderia adentrar tranquilamente o bosque, pois todo caminho seria seguido por terra estreita, com falhas sobre o solo frisado e ondulado.

Mas o são Bernardo correra em disparada, logo após a retirada da coleira, em direção a mata mais à frente.

__ Volta, Salém. __ gritou, exacerbada, atrás dele.

Algo havia de chamar sua atenção, ou apenas queria brincar com Suzane, fazendo-a de uma mera diversão sua.

Os cães adoram fazer isso.

E de repente, com um salto, o animal conseguiu pular por de cima da grama alta, alguns pés à frente da pessoa que lhe perseguia desvairadamente.

O são Bernardo parou de súbito por um instante, agachando-se em seguida, pondo as patas dianteiras para frente, enquanto as de trás se recolhiam para logo adiante impulsionar o corpo grande, maçudo, e peludo num salto, semelhante aos pulos de um sapo.

Passando pela extensa folhagem, Suzane, com os arranhões e marcas dos galhos, teve de repor sua energia para continuar indo atrás do São Bernardo, desenfreado, pelo campo florido revestido por grama e por imensas árvores que crepitavam, ao balançar seus braços longos de madeira.

"Como pode um São Bernardo correr tanto assim?" se perguntou, recuperando o fôlego, após a breve corrida intensa com o animal.

Ela sabia que animais, ( principalmente cães ), são, em sua essência, mais rápidos, e que dificilmente alcançariam um São Bernardo.

Naquele momento, Suzane notara algo a se movimentar de maneira sorrateira, entre a vegetação próxima e pelos arbustos locais, uma espécie de vulto preto a transitar aquela mata fechada.

E de repente o som de algo úmido e molhado lhe veio na cabeça repentinamente, junto ao balanço das folhas e o estalar dos gravetos postos ao chão de terra, ( fora aqueles ruídos baixos quase imperceptíveis ), mas que lhe causavam certo desconforto.

Eram discretos e brandos, praticamente inaudíveis, talvez fosse esse o motivo, pois não há coisa mais assustadora do que um ruído inexplicável e incompreensível.

É como ter medo do escuro, não se tem medo do escuro em si, mas sim do que há por trás dele e o que ele resguarda em seu interior.

__ Achei você, seu danado! __ retrucou ela, passando pela planície às pressas.

Ela viu logo à frente um lago onde ouvira soar naquela direção o ladrar intenso do cão que parecia se intensificar cada vez mais.

"Deve estar lá." pensou, após ver de relance o que parecia ser a silhueta fosca do animal a mover-se bem rapidamente, de um canto a outro do matagal, entre o mato brenhoso e as ervas rasteiras que cobriam a planície, e o solo local daquela região.

Ele estava parado latindo num tom agressivo e hostil para o nada, visto que só o que havia ali era apenas vegetação e arbustos folheados ao verde que balançavam à medida que o vento quente e oscilante os direcionava.

O são Bernardo parecia latir para algo na encosta do lago, até se achegar para mais próximo das margens.

Não estava nítido ou sequer claro para Suzane, a razão de o animal estar se comportando daquele jeito perante a nada que lhe fosse de certo modo motivo de tanta agitação e de tamanha hostilidade.

Aquele lago não apresentava um aspecto que lhe agradasse muito, não só pelo escuro intenso que impedia de ver seu fundo mais nitidamente, já que toda superfície era banhada por folhas à deriva e um montinho detestável de lama: lodo e terra misturados ao que pareciam ser uma porção de algas marinhas.

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