Capítulo 22

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As luzes se apagam e, por um momento, estou cega na escuridão. Presa. Morrendo. Na escuridão. Assim como a primeira vez. Mas não quero desistir. Estou cercada de pessoas, e as luzes se acendem novamente. O professor Stark verá o que aconteceu e vai chamar uma ambulância. Se eu tiver certeza de que Romeu não vai colocar as mãos em mim novamente, acho que posso sobreviver. Ariel vai sobreviver. 

Tento me mover, lentamente, com cuidado. Giro o corpo para o lado e começo a engatinhar à procura da ajuda que me espera dentro das asas. Meus dons de Embaixadora estão sumindo, mas ainda consigo me curar mais rápido do que umagarota mortal. Posso sentir os órgãos dilacerados dentro de mim se recompondo. Se eu for a um hospital, se conseguir que alguém me ajude a manter esse corpo vivo, então talvez...

Ouço uma explosão e alguém na plateia grita. Depois outra, e outra, o medo se espalha como se o auditório estivesse pegando fogo. Apesar da escuridão que encobre o palco, acho que eles me viram. A garota ferida que se arrasta pelo chão, deixando um terrível rastro de sangue por onde passa.

Mas então escuto o barulho novamente e descubro o que é. É um tiro. Vindo do outro lado do palco. Alguém está atirando na plateia.

Com um suspiro, olho por cima dos meus ombros. Romeu está de pé atrás do palco, apontando uma arma para o alto, para garantir que ninguém fique ferido no auditório. Ele não está atirando para matar. Ele está atirando para causar tumulto, para ter certeza de que ninguém virá me socorrer. Tlvez assim eu possa morrer de forma trágica, e poética, em suas mãos, como achei que morreria muito tempo atrás.

Mas ele pode atirar em mim se me vir. Ele quer que eu morra. Eu me arrasto mais rápido, rezando para que ele não me veja. Atrás das cortinas eu escuto os dançarinos que acabaram de deixar o palco gritando para todos fugirem.

—Dylan tem uma arma! Vamos morrer! Corram para a porta dos fundos!

A porta dos fundos. Ben. Intervalo. Está na hora. Ele estálá, esperando por mim.

Ele vai perceber rápido que algo errado aconteceu. E então virá me procurar para saber se estou bem. Romeu estará esperando com a sua arma. Ben não terá chance. Se ele colocar os pés nesse teatro, será um homem morto. Mordendo os lábios para não chorar, tento ficar de pé e sigo cambaleando até a porta do palco, apertando a faca que arde em meu estômago, como uma chama que lambe a minha espinha. Meu coração bate lentamente no peito, meus ouvidos e cérebro lutam por sobrevivência. Apesar do que sobrou do meu dom de cura, estarei morta dentro de uma hora se não receber ajuda. Estou perdendo muito sangue e sinto alguma coisa...estranha. Romeu atingiu algum órgão importante.

Importante. Preciso encontrar Ben. Preciso protegê-lo.

Eu passo pelas cortinas e sigo em direção à saída. Todo mundo já se foi. Os bastidores estão desertos e a porta está fechada. Não. Aberta. Abrindo.

O rosto de Ben surge no espaço entre a porta e o prédio, iluminado pela desagradável luz alaranjada. Ele me vê e sinto que fica aliviado, antes de sentir medo. Está muito escuro para ver o sangue, a faca, mas ele percebe que não estou andando normalmente.

— Ariel? O que aconteceu, o que...

— Corra. Dylan tem uma arma — sinto uma tontura ao me aproximar dele e me apoio em seus braços, pedindo que se afaste da porta. Ele não faz outras perguntas, apenas coloca os braços ao redor da minha cintura e me ajuda a ir embora, na noite escura.

Percebo o momento em que ele vê a faca. Sinto o tremor atravessando o seu corpo, despedaçando-me por dentro.

 —Oh, Deus! — não é uma maldição, é uma prece, um apelo para salvar algo que ele acha que está perdido. — Ele fez isso com você.

Julieta Imortal - Stacey JayOnde histórias criam vida. Descubra agora