Capítulo 10

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  Corro, esperando chegar à sala ou à cozinha antes que ele me pegue. É difícil passar pelo corredor. Não há lugar para me esconder. Entrarei no carro novamente e dessa vez não devo sair inteira dele.

 — Espera! Julieta, espera!

 Não espero. Corro mais rápido, salto sobre a cadeira vermelha perto da televisão e corro para a porta da frente. Quando coloco a mão na maçaneta, ele me agarra por trás e me vira para a sala. Caio de joelhos, gemendo de dor ao sentir a ponta afiada da mesa de centro em meu estômago. Ainda sentindo dor, fico em pé,dobro os joelhos e fecho as mãos, preparando-me para o ataque inevitável. 

— Não vim para brigar — grita Romeu, erguendo os braços em uma atitude de defesa. — Quero conversar. É tudo que eutentei fazer hoje.

 — Conversar.

 — Sim, conversar. Conversar? Manter uma... interação verbal? — ele pisca os olhos e eu me seguro para não falar o que penso dele com o meu dedo do meio.— Não quero conversar.

 — Ah, mas você vai. Tenho de contar um segredo.

 — Não me importa — viro o rosto em direção à porta. —Saia. Não estou interessada nas suas mentiras. 

— Mentiras? Eu menti quando? — ele coloca as mãos no bolso e continua com um olhar desconfiado. Se eu o atacar, ele estará pronto. Preciso esperar, aguardar o momento em que ele não esteja na defensiva. — Nunca menti. 

— E nós nos matamos para provar nosso amor perfeito,eterno — separo as palavras com tanto veneno que poderia matar uma centena de amantes, mas depois me culpo por isso. Não deveria deixá-lo perceber como essa história falsa ainda me incomoda. Não deveria deixá-lo vencer tão facilmente. 

Ele abaixa o queixo, mas posso ver o sorriso em seus lábios.

 — Bem, talvez eu tenha mentido... mas só aquela vez.

 — Saia daqui — falo entre os dentes.Seus olhos encontram os meus.

 — Mas, na verdade, nunca pensei que a obra de Shakespeare seria tão conhecida — ele se aproxima da mesa ao lado da porta e pega uma moeda, jogando-apara cima e apanhando-a de volta rapidamente. — Gostei muito dos seus versos, é claro, mas a tragédia de Romeu e Julieta em si é um pouco imatura, lembrando mais uma comédia do que... 

— Saia. Agora — meus músculos se enrijecem. O que ele está planejando fazer com aquela moeda? Jogá-la na minha cara na esperança de arrancar um dos meus olhos? Para Romeu, tudo pode se tornar uma arma: amor, confiança... moedas.

— E agora? — pergunta ele. — Você vai me dar uma surra?Você sabe que adoro quando coloca as suas mãos em mim, Juli, seja qual for o motivo — ele gira a moeda entre os dedos enquanto tento me controlar. — E sabendo como esses corpos foram íntimos antes de possuí-los, estou louco para... 

Perco a paciência. 

Procuro a arma mais próxima e agarro a base de um abajur,arrancando o fio enquanto jogo a cúpula no chão. 

— Saia daqui ou acerto você. E não vou usar as mãos.

— Espere! — Romeu derruba a moeda e dá um sorriso. —Por favor... me escute. Não menti sobre nada importante. Sempre fui honesto. Mais do que honesto. No seu coração, você sabe disso.

Mexo os olhos.

— Por favor, eu só quero acabar com isso — diz. — Podemos fazer isso sem sacrificar uma alma. Mas só aqui, só se for agora.Essa é a única chance que temos de recuperar o que perdemos.

Julieta Imortal - Stacey JayOnde histórias criam vida. Descubra agora