Capítulo 12

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  — Abaixem-se, vocês dois! Debaixo do cobertor! — sussurra Gema do banco da frente enquanto chegamos ao imponente portão dos fundos da residência da família Sloop na tarde seguinte.

O terreno é tão grande que quase não conseguimos ver a mansão daqui. Teríamos de ir de carro até a casa no alto do morro,passando por vinhedos e pomares de árvores frutíferas com as folhas murchas por causa da chuva excessiva. Parece que o mundo vai acabar em água. Ou pelo menos o Estado da Califórnia.

— Precisamos fazer isso? — Ben olha o cobertor mexicano marrom que Gema joga no banco de trás. — Eu não me escondi debaixo de um cobertor da última vez.

Gema evita olhar em meus olhos. Ela não disse a ele que não podia mais vê-lo. Não sei se é um bom ou mau sinal.

— Da última vez não invadimos o jardim do meu pai — diz ela. — Se alguém perceber que estamos nas adegas, não quero que meu pai saiba que vocês estavam comigo.

— Uma câmera registra a entrada das pessoas por esse portão — digo, forçando um sorriso enquanto levanto o cobertor.— O pai da Gema é obcecado por segurança. 

Ben ergue a sobrancelha.

 — Tudo bem, mas se ele vai ficar zangado, então...

— Ele não vai ficar zangado porque não seremos vistos —diz Gema.— Mas...

— Ben, você sabe brincar de espião secreto? Ou terei de encostar o carro para mostrar minhas habilidades de ninja?

— Não a faça mostrar — tento acalmar a situação. — Vai ser pavoroso e acho que já basta eu ter traumatizado a todos com minha apresentação de canto hoje.

Gema concorda.Minha voz não melhorou muito durante o ensaio de hoje à tarde. O professor Stark me passou todas as falas e pediu para eu praticar tudo sozinha. Por sorte, meus pés se mostraram mais ágeis do que a minha língua. Consegui lembrar toda a coreografia que havia ensaiado com Gema e coloquei tanta emoção na cena da briga com Tony que até a Hannah concordou que farei uma boa Bernadette. Pelo menos por uma noite.

É claro, Romeu aproveitou a oportunidade para apunhalar me com uma faca cenográfica e me observar fingindo que estava morrendo no chão, aos seus pés. Apesar de ter insistido, na noite passada, que queria o meu amor e o meu perdão, percebi o brilho em seus olhos ao empurrar a arma de plástico. Uma parte dele,talvez a maior, ainda sente prazer em ver o meu sangue derramado. É bom eu me lembrar disso da próxima vez que ele vier todo meloso, querendo "trabalhar em conjunto".

— Acho que você fez um ótimo trabalho, Sereia — diz Ben.— Considerando que foi o seu primeiro ensaio.

— Não, não fiz. Não sei cantar. 

Ben sorri.

 — Você sabe, sim. Só não é tão boa como na pintura.

Dou um sorriso de volta. 

— Muito diplomático.

— Talvez Ben possa concorrer ao Senado em vez do meu pai. Ou quem sabe ele também não consiga diferenciar as notas como você, Ri.

Ergo a cabeça sobre o banco e mostro a língua para ela,ganhando uma risada. Gema chega mais perto, despenteando o meu cabelo. A gente está se entendendo melhor hoje. Realmente acho que estou começando a gostar dela. Um pouco.

Pena que isso não faz com que seja mais fácil imaginar Ben passando a vida com ela. Eu só quero... mais para ele.

— Agora entra debaixo do cobertor, Benjamin — diz Gema.— Ou vai ficar sem vinho.

Julieta Imortal - Stacey JayOnde histórias criam vida. Descubra agora