Colocando nos trilhos

830 129 105
                                    

Comer junto do pássaro metido enquanto uma atrevida os interrogava foi uma merda, mas não é nem perto do que tá sendo a volta para a escola no trem. Katsuki jurou pra si mesmo que ia ficar na maciota nessa porra de estágio, que não deixaria a Uraraka com a atitude de candidata a Miss Universo afetá-lo, mas não tem como, é irritante pra caralho, ainda mais sabendo que ela não é daquele jeito de verdade. Eles podem nem ter conversado muito ao longo desses três anos, mas das vezes que lembra de interagir com ela, a Cara de Lua consegue falar umas verdades na cara dos outros sem ficar de sorrisinho falso e respostas calculadas.

O pássaro só a elogiou porque age do mesmo jeito, Katsuki não acredita em nada que sai da boca dele, por mais que se finja de sincerão e gente boa. A jornalista doida que ele trouxe junto pode até ser uma enxerida metida a esperta, mas no momento em que apontou a falta de naturalidade da Uraraka, ele foi obrigado a concordar e expor o quanto tá de saco cheio disso, aí a máscara de menina boazinha rachou um pouco e ela revidou, e agora tão os dois com cara de merda num trem que, pra melhorar ainda mais, tinha que estar lotado, o que os forçou a se espremerem um contra o outro, de modo que não dá pra olhar pra outra coisa que não seja essas bochechas enormes.

O trem dá uma chacoalhada, o que acaba fazendo com que eles se encostem ainda mais, e sabe-se lá porquê, ele fica incomodado quando ela o empurra um pouco depois que seu peitoral esbarra na cabeça dela.

— Tsk, não é culpa minha que essa merda tá lotada, Cara de Lua.

— Ninguém falou que era. — ela resmunga baixinho, virando o rosto e se recusando a olhá-lo — Não tem ninguém te atacando ou dizendo qualquer coisa sobre você, então pode se acalmar.

— Se isso é sobre o que rolou no restaurante, eu não vou pedir desculpa, falou? Não tô errado.

— Claro que não está. — ela revira os olhos — Só posso pedir que, caso você tenha algo pra me dizer, me diz diretamente ao invés de fazer isso na frente do nosso mentor?

— Não fui eu que falei, foi a namorada descabelada dele. — o olhar incisivo dela o deixa com a estranha necessidade de se explicar — Tenho certeza que você também acha um pé no saco o jeito que eu ajo e não fala nada pra ficar fazendo média.

— Eu só entendo que esse é seu jeito, Bakugou-kun, se a gente vai ser parceiro nesse estágio, eu vou tentar ter paciência com seu jeito, mesmo sendo diferente do meu, e não te criticar na primeira oportunidade que aparecer. — agora ela nem parece puta, só parece meio... magoada.

— Não sei se seu jeito é tão diferente assim do meu. — ele murmura — Por isso que irrita você se fazendo de boazinha.

— Mas eu- — ela não tem chance de terminar de falar, o trem chacoalha novamente, só que dessa vez de maneira muito mais violenta.

De repente tudo fica escuro, e Katsuki é jogado junto com as outras pessoas no trem, que faz um barulho de ferro arranhando. Ele nunca ouviu algo parecido, mas sabe o que é isso: o veículo está descarrilando.

— Pessoal, fiquem calmos! — ele ouve a voz da Uraraka vindo de algum lugar de cima, ela deve ter ativado sua individualidade em si mesma pra se afastar da muvuca — É só apertar o botão de emergência e o trem vai parar!

Os botões de emergência são os únicos pontos de luz visíveis, e Katsuki aciona o que está mais próximo prontamente. Nada acontece. Ele aperta com mais força, e o veículo continua se movimentando de maneira turbulenta. Que porra é essa?

— Uraraka, vai pra fora! — ele grita, estendendo as mãos e criando uma explosão controlada contra o teto de emergência para facilitar a saída dela, não dá pra ver direito, mas ele consegue inferir a movimentação dela, notando uma silhueta passar pelo teto — Aí, fica todo mundo calmo! A gente tem licença provisória de herói e tâmo resolvendo isso, sem gritaria ou pânico!

Sob suas asasOnde histórias criam vida. Descubra agora