CAPITULO 6 - Transformação

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- Então, só ontem você desmaiou por causa de sangue, foi torturada por causa de sangue e quase foi atacada por um lobisomem? - Viney olhava para os galhos das árvores, tirando o cigarro da boca quando perguntou
Assenti
- Não esqueça do karaokê que voce me enfiou - Apontei o dedo para o seu rosto, mostrando que não estava contente por sua ideia
Ela deu de ombros e colocou o cigarro de volta na boca, voltando a falar depois que a fumaça branca saiu de sua boca
- Eu vou jantar na sua casa hoje, temos que organizar o dia da transformação, está chegando perto - A olhei nos olhos, como ela pode falar sobre isso como algo tão simples?
- Ainda voto não
- Eu estou pouco me fudendo para isso - Ela riu consigo mesma - Por que você votou não?
Suspirei
Ela não entenderia
- Eu conheço esse olhar, eu vou entender sim Amity, sua vida não é um quebra cabeça tão difícil assim de montar - Bufei
- Eu estou vendo a mesma história de novo - Olhei para os meus dedos e brinquei com o anel preto em minha mão - Eu escolhi virar vampira, havia cura para mim mas eu escolhi a morte - Ri, aquilo era tão idiota, um pequeno erro - Agora estou vendo você, você tem uma vida humana, razões para deixar seu coração continuar á bater, e quer deixar tudo de lado para apenas ter a eternidade em seu poder
Coloquei de volta o anel no meu dedo e a olhei, os olhos verdes encarando o anel ainda em meu dedo, por um segundo achei que ela estava repensando sua escolha
Mas era Viney
- Minha vida é nada sem Emira - Ela sorriu e colocou o cigarro de volta na boca - Ela é o meu oxigênio particular - Senti o cheiro da fumaça inundar o ambiente - Não tem nada que eu queria a não ser ela
- Mas quando você se transformar você vai querer - Ela me olhou, os olhos cheios de curiosidade, ela era muito apaixonada, e isso a cegava
- Oque? Oque eu vou querer mais doque ficar com Emira para o resto da eternidade? Filhos? Envelhecer? Família? Sol? Amity sinceramente...-
- Sangue - A cortei e vi sua expressão mudar - Depois de tudo a única coisa que você vai desejar, a única coisa que você mataria por seria por uma gota de sangue - Ela não respondeu
Ela sabia que eu estava certa
- Sabe a sensação de estar viva? Felicidade? Tudo isso acaba em questão de segundos em que o veneno corre por suas veias - Ela balançava a cabeça negativamente, tentando não acreditar em minhas palavras
- Minha felicidade está onde Emira está - Ela jogou o cigarro em minha direção, o peguei em um reflexo perfeito e o joguei para o chão de 7 metros de distância - Amity eu vejo você naquele canto , sentada com seus irmãos, sem trocar uma palavra se quer com qualquer outro ser humano, as vezes eu me perguntava oque estaria passando em sua mente para você sempre estar navegando em seus pensamentos, mas cheguei na conclusão que é apenas o vazio - Ela juntou as pernas para perto de si, abraçando os joelhos - Eu me pergunto se eu irei ficar assim, tão vazia
Outro cigarro saiu da caixinha azul em seu colo, segundos depois acendido
Concentrei meu olhar em um galho quase prestes a cair ao nosso lado – Eu conseguia ouvir os estalinhos. Voei em pensamentos e vi aquela criatura bela em que eu olhava no espelho e a imaginei sentada no canto do refeitório, olhando para a janela, as vezes brincando com as pontas verdes escuras de seu cabelo, oque as pessoas dariam para saber oque aquela garota pensava tão imensamente
- Os seus olhos - Ela murmurou, olhei de volta em seus olhos verdes - Não tem vida, são tão escuros e não expressão nenhuma emoção - Involuntariamente levei minha mão a minha bochecha, sentindo o toque frio e congelante da ponta de meu delicados dedos - É isso que a te faz parecer vazia
Assenti tirando a mão de meu rosto em um movimento extremamente não humano
- Por que você é assim? - Ela perguntou, senti a curiosidade subliminarmente - Por que você não é como Emira ou Edric? Até Lilith, eu não consigo entender oque te faz tão...triste - Eu conseguia visualizar as duas linhas se formando em minha testa
- Depois dos primeiros meses o sangue não é mais um problema - o cigarro voltou ao seus lábios - Os olhos começam á amarelar, voce já se acostumou com a imagem que vê no espelho, a velocidade e o jeito de ver o mundo não é mais tão novo para você, as lentes não incomodam mais, os gritos dos animais que morrem não ecoam mais na sua cabeça, tudo começa a ficar...normal - Levantei um pouco o canto direito da boca - Mas aí você percebe o quanto aquilo parece ser tão normal, como aquilo já faz parte de sua rotina. Você tem toda a eternidade para repeti-la quantas vezes quiser, nunca vai acabar
Ela riu, uma risada baixa e pequena
- Como um livro inacabado, posso viver com isso - Discordei com a cabeça, Viney gostava mesmo de tentar adivinhar oque eu diria
- Sua vida vira um jogo de videogame que nunca sai da fase um, você tem que ver o tutorial várias e várias vezes até conseguir fazer direito, e quando você finalmente consegue fazer direito, o jogo vira entediante e é substituído, assim nunca vemos oque tem adiante - Saiu um som de frustração pelos seus lábios - Então você começa a desejar á desistir do video game, tirar o cd do console e guarda-lo dentro de uma caixa e nunca mais ve-lo, mas você não pode, porque tem pessoas jogando esse video game com você, e se você desistir não pode impedir que o resto também faça o mesmo
- Um jogo de videogame...em um mês - Vi a dor em seus olhos, o desejo por ela, ela queria aquilo e nada poderia impedi-lá
Eu fiz a minha parte
- Você devia soltar esse cabelo, é estranho ver a marca dos dentes em azul perto de seu pescoço - Ri e desamarrei o pequeno rabo de cavalo que apenas segurava pequena parte de meu cabelo, joguei o cabelo para frente para esconder a cicatriz
Escutei um pequeno bipe apitar, tentei concentrar em descobrir quantas horas são
Não precisei de um segundo inteiro
- Aula da Sra. Click - Respondemos juntas ao relógio irritante pendurado na mochila de Viney
- Em uma escala de 1 á 10, quanto você acha que ela ficaria irritada por sua aluna perfeita e exemplar ter faltado aula? - Perguntei sarcasticamente, sem tirar o sorriso brincalhão do rosto
- Ela arrancaria os cabelos brancos dos cabelos - Ri e peguei minha mochila - Onde você vai? Ainda tem mais um cigarro se você quiser experimentar - Revirei os olhos, apenas Viney para oferecer droga para uma vampira
- Um, é a última aula do dia então eu preciso estar na escola e fingir nunca ter saido. Segundo, eu já experimentei e sou uma vampira - Pulei do galho para o chão cheio de folhas alaranjadas pelo outono – Em um raio de 6 metros – E acenei um thau para Viney, em quanto ela gritava perguntando sobre o segundo fator
Em mais ou menos dois minutos eu cheguei na janelinha do banheiro feminino da parte de trás da escola, escalei e pulei para dentro de alguma cabine – Que por sorte não estava ocupada. Ouvi os passos vindo do corredor e percebi que ainda tinha tempo para chegar na sala de Gramática á tempo
Me sentei na carteira e repousei o queixo na palma de minha mão, sem me mover até que o sinal tocasse
Eu não precisava me mover nem piscar, eu estava admirando a maior obra de arte que já pisou na Terra – Além de vários vampiros que já conheci.
Luz Noceda
Pela grande janela que dava de frente para a sala quase ao lado da minha, eu pude ver ela escrevendo algo com muita concentração – eu sabia porque ela deixava a ponta da língua para fora quando se concentrava
Ela era adorável

Young Blood - LumityOnde histórias criam vida. Descubra agora