Prólogo

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Violetta achava que não tinha mais salvação. Anos aguentando a mesma situação, os mesmos xingamentos, o mesmo homem. Vivia cada dia apenas esperando o dia em que tudo voltaria como antes, quando Tomás ainda a amava e eram apenas crianças apaixonadas. Mas sua fé se esgotava aos poucos, no fundo ela sabia que nada iria mudar e que Tomás não voltaria a ser como antes...só não queria acreditar.

- Ele era uma das melhores pessoas que eu já conheci, sempre tentava ajudar os outros, era carinhoso, atencioso... - A mulher começou a chorar desesperada.

Violetta respirou fundo e se levantou da cadeira para se afastar de todos, não gostava de funerais. Quando estava longe o suficiente parou de andar, encostando em uma árvore para observar Tomás de longe, todo o choro que estava segurando agora decidiu sair, tentou cobrir a boca com a mão para esconder o soluço mas foi em vão.

- Também não gosta de funerais?

Ela deu um pulo, olhou para os lados e não encontrou ninguém, então se virou e olhou o outro lado da árvore. Ali estava ele, o olhar fixo no caixão que estava longe deles.

- Deixei tão óbvio assim? - Violetta tentou brincar para animar o homem, mas a voz de choro dela não colaborou.

Ele sorriu de lado sem mostrar os dentes e encostou a cabeça na árvore fechando os olhos.

- Você se segurou para não chorar a todo momento. - Ele abriu os olhos para observá-la. - É normal chorar em enterros sabia?

- Eu sei, mas ele pediu para que ninguém chorasse em seu enterro.

- E você levou a serio? - O homem soltou uma risada fraca enquanto Violetta balançava a cabeça concordando. - Eu também, por isso vim até aqui, não aguentava ver todos chorando e você era a única que não estava chorando.

Ele se desencostou da árvore ficando de frente para Violetta e esticou a mão.

- León Vargas, a seus serviços.

Ela olhou ele de cima abaixo, por estar usando uma farda igual a de seu marido, ela supôs que ele também era um militar, hesitou um pouco em segurar a mão dele e León percebeu mas continuou com a mão esticada.

- Prazer.

Ela segurou a mão dele e ele levou até os lábios para dar um beijo que fez Violetta rir, mas puxou a mão rapidamente. León estava tão encantado com a beleza da garota que sequer percebeu que ela não havia dito seu nome.

- Mas sabe quem mais não derramou uma lágrima hoje? - Ela soltou um "hum?". - Ele.

Violetta seguiu o olhar de León e encontrou Tomás, ele passou o tempo inteiro flertando com todas as garotas possíveis e nesse momento flertava com uma, Violetta suspirou, deveria dizer que aquele era seu marido?

- Vai ver é o jeito dele de lidar com o luto. - Ela disse mais para si mesma do que para León.

- Mas...eu nunca vi você, é de outra cidade? Parente do capitão?

Violetta negou com a cabeça.

- Meu pai trabalhava com o capitão... - Ela cruzou os braços suspirando. - Ele cuidou bastante de mim e você? Também nunca te vi.

León forçou a memória para tentar se lembrar de alguém que tinha trabalhado com seu antigo capitão, mas não se lembrava de ninguém.

- Eu trabalhava para ele e como você, ele também cuidou de mim. - Ele se encostou na árvore ao lado de Violetta que se afastou rapidamente, León estranhou o ato mas continuou a conversa. - Quem é seu pai?

- Ninguém importante.

Violetta falou em tom de brincadeira deixando León pensativo. O funeral havia acabado e as pessoas agora estavam indo embora aos poucos.

- Tenho que ir. - Ela abriu um singelo sorriso que fez León sorrir também.

- Te vejo por aí? - Perguntou enquanto Violetta já se afastava.

- Te vejo por aí León.

Teria Violetta, sem saber, encontrado sua salvação?

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