Dominic adentrou no salão, já absurdamente entediado.
Cassandra bebericava audivelmente sua taça de Louise Brison, olhando em volta como se estivesse em um mundo as avessas. Realmente para ela, era algo novo.
A verdade era que a maioria esmagadora das pessoas não tinham acesso áquele mundo de vitrais coloridos e espumantes caros. Mas Dominic era um Montanari, e ele conhecia de cor toda esta palhaçada desde que nasceu.
Cassandra, apesar de estar indo somente como secretária e saber que o contato era quase inapropriado dada as circunstâncias, permanecia grudada ao braço de Dominic, o carregando para onde queria ir, falando até com quem não deveria falar.
Melhor que qualquer um, ela sabia do protocolo implícito deste tipo de evento, mas escolhera não o seguir e o fazia com maestria, empurrando Dominic, que já estava irado, para a borda.
-Vamos cumprimentar os Cauton, chefe?- Disse ela, jogando os cabelos ruivos para trás do ombro e já o puxando em direção a família mau encarada no canto do salão, anti-sociais. Dominic forçou seus pés no chão, impondo limites.
-Não falamos com eles, Cassandra. Agora controle-se por favor. Já rodou o salão inteiro...
Cassandra fez biquinho e suspirou, deixando o braço leve e o controle mudar para Dominic novamente.
Ela estava claramente confundindo as coisas. Era isto.
Estava esquecendo de que fora seu cargo que lhe deu direito a um convite naquela festa, e não porque ficava por baixo dele (as vezes, por cima) ocasionalmente. Cassandra sempre o confundia, com o fogo violento e o carinho passional que queria lhe empurrar pela goela logo após. Ele não reclamava da primeira, mas o segundo lhe irritava, e ele já havia deixado claro que não se envolveria daquela forma. "Eu não me envolvo, eu sou envolvente, bambino", ela dizia. A única coisa que a ruiva fazia naquele momento era incomoda-lo profundamente. Fazendo-o lutar com os nervos e trincar os dentes para não ser grosso com a mulher.
-Nick!-Uma voz masculina o assustou, o resgatando de um papo tediante sobre finanças com Cass -que aparentava estar alta com o champanhe- e um asiático extremamente animado.
-Leon! -Disse, com um agradecimento extremamente explícito. Ele se desvencilhou do braço de Cassandra para apertar a mão do moreno com firmeza, o puxando para um abraço. -Amico! Por onde andou?
-Eu estava nos Estados Unidos, cara. Voltei assim que soube...-O tom de voz se abaixou para falar sobre a última parte.
-Infelices....-Praguejou, olhando de esgrelha pra Alessio e lembrando do ataque raivoso e da proposta indecente de Giovanni. -Terei que casar por culpa deste merda...
A cara de espanto de Leon obrigou a Dominic a dedicar os próximos minutos explicando sobre o idiota do Ferraz. Não foi uma grande surpresa, no mundo em que vivam, seria surpreendente se Dominic tivesse escolhido a mulher. Casamentos eram, nada mais do que jogadas políticas e cartadas utilizadas na hora certa.
- Oh...tá ferrado.-Disse ele, rindo da feição desolada do amigo.- Vai deixar de ser puto.
-Você não está sendo um bom amigo, Leon. Talvez eu devesse falar com o Fabricci...-Ameaçou. Ele sabia que Leon e Fabriccio possuíam uma rixa infantil.
-Pare de graça, Dominic! -Disse rindo.-Eu já vi a filha de Giovanni, e se for ela, é uma cosa belíssima, seu velho ranzinza!
Dominic riu, duvidando do "belíssima" de Leon já que o histórico de mulheres dele beirava o cômico.
-Tudo bem... A sorte tem que sorrir para mim pelo menos uma vez na vida...
-Falando na sorte, que puta azar esses ratos estarem aqui logo quando eu ia ver Kelsey...-Ele começou, falando sobre seu caso americano. Kelsey tinha a beleza única da indiana e pescava o coração (E talvez outra parte do corpo) de Leon todas as vezes que ele sequer pensava em ir para a América. Os rapazes adoravam importunar Leon dizendo que Kelsey fora a única menina bonita que ele já conseguira...Oque não era de tudo uma mentira.
-Então, você e a secretária ...-Começou, com uma cara maliciosa. Não torce esse nariz não cara. Eu sei que vocês têm sexo...
-Temos. E é somente isso. -Disse, se lembrando de todas as vezes que disse a mesma coisa para a ruiva, depois de transar. Ele não podia negar a química ótima que tinham, faziam um bom sexo, um que não se jogava fora... mas Cassandra estava monopolizando tudo. Teria de terminar seu rolo, oque não seria problema algum, já que Cass não era a última ruiva da Itália.
-Ela não tá agindo assim...- Isso estava óbvio. Dominic virou o restante da taça aguardando ansiosamente o outro garçom o alcançar para que se entregasse ao álcool novamente. Ou aquele tedio o mataria ou ele mataria alguém.
Respirou fundo, sentindo a leve vontade de fumar provocar um comichão na borda da garganta.
- Eu sei. Eu já falei com ela sobre isto. Diz que não quer ter algo sério, como se realmente pudessemos. Concorda quando eu digo que é só foda casual mas me exibe como se eu fosse me casar com ela ao invés de com...Nem sei o nome todo da porra da minha noiva.
-Se fosse se casar com a secretária, teria que aguentar a miniatura de Giovanni deitada no meio de vocês na cama.- A imagem de um Giovanni pequenino atrapalhando sua noite irrompeu seus pensamentos antes que fosse capaz de barrar, causando uma careta de asco e um soco no ombro do amigo.
- Literalmente um amigo filho da puta.- Eles riram por um momento, sondando o salão lotado de gente chique.
- Parece que sua donna está a caminho, Montanari.- Dominic moveu o olhar para a silhueta avermelhada vindo em direção a eles. Engoliu em seco e engoliu o riso.
- Porca miseria ...-Praguejou. Não se sentia bem fugindo de uma mulher bonita como Cassandra, mas não era só por ela. Se ele não saísse para tomar um ar ele acabaria arrumando briga e Alessio não permitiria aquilo.
-Fale para Cassandra preparar o relatorio pra reunião...Já volto.
Ele andou, rapidamente até o lado de fora da mansão. A mão vazia já ia para o maço de cigarros no fundo do blazer e a ocupada segurava o celular caro e respondia algumas mensagens de Jhonny, que não pôde estar lá.
A escada lateral para o térreo aberto ou o heliporto eram um lugar conhecido por ele a muito. Os degraus levemente irregulares de pedra polida, o corrimão fino de metal retorcido em arabescos e o cheiro de terra... Tudo era familiar a ele.
Os pés faziam um som seco no chão a medida que subia com os olhos no telefone, se guiando apenas pela familiaridade da escada, e quase não notou o vulto ajoelhado no último degrau. Infelizmente o corpo chocou-se com o "vulto", que se levantou ao mesmo tempo que ele se aproximou.
-Porra!- Exclamou o rapaz, com o susto. A mão voou na semi automática escondida no terno.
-Ai!- Disse uma voz polida. Dominic piscou, vendo que se havia tropeçando em uma mulher. -Que tal olhar por onde anda?-Disse, estressada. Era uma voz tão entoada que Dominic quase sentia vibrar nos ouvidos. Havia algum sotaque também, se misturava ao italiano que falava...Talvez americano? Não...a única mulher americana presente hoje era a esposa de Rosalio, e ele já havia escutado a voz esganiçada da mulher.
-Que tal usar a educação, ein?-Inqueriu, usando o mesmo tom irritado da garota. Ela só podia desconhecer quem era para tratá-lo daquela forma. Abaixou a vista, afim de encarar o rosto da abusada. Em meio a penumbra, forçou os olhos.
O cabelo mal se distinguia da escuridão a sua volta, como um manto mais escuro ainda tomando seus ombros até a cintura. A pele tocada pelas sombras dificultava para ver o tom, e a única coisa que parecia cintilar mesmo no escuro eram suas orbes cor de tempestade de verão e o vestido pálido cincundava um corpo curvilíneo e pequeno. Bonita, mas não do tipo das outras moças que estavam no andar de baixo.
Ele ainda não havia visto em nenhum dos eventos, e a pergunta pairou na ponta dr sua lingua, mas foi interrompido.
-Eu estava bem ciente onde esravam meus pés!-Disse, tentando soar ultrajada em seu sotaque afinado. Ele percebeu que ela se monitorava. Certamente, não era italiana. Dominic quase gargalhou com a ousadia daquela. Afinal, apesar da beleza -que parecia ter bastante- quem era aquela?
-E eu não costumo ficar de quatro em escadas, querida.-Ele pode observar a sombra de um rubor aparecer no rosto e a testa se incrispar. Agora sim, uma reação natural. Não parecia vergonha, mas sim, raiva.
-Eu estava arrumando meu salto. E não sou tua querida.-Disse, irritada e virando as costas para subir no heliporto. Era um disco sem laterais de proteção, com o chão gritando em vermelho e verde mesmo a noite. E lá se vai o recanto sozinho...
- Não deveria estar aqui sozinha, coisinha.- Disse Dominic, seguindo-a pelos degraus. Uma moça não deveria estar sozinha por aí com outros rapazes que não fossem de sua família, principalmente dada as circunstâncias do evento. Se Dominic fosse algum outro, a garota poderia nem ver o próximo nascer do sol, e ninguém faria qualquer coisa para mudar isso.
- Eu cheguei primeiro. Saia você.
Dominic estava realmente surpreso com a ousadia daquela, curioso demais. Deveria ser uma menina, pela altura. Ela com certeza estava perdida ali e não sabia oque era aquele evento ou quem eram os Montanari. Isso acontecia as vezes, dos pais trazerem jovens desavisada...Não costumava terminar bem nesses casos, algo com lágrimas e anéis de noivado forçado em dedos jovens de mais. Aquilo acabava acontecendo com uma frequência entediante.
-Não quer saber oque vim fazer aqui? Afinal, esse espaço é meu.-Disse, debochando da menina e catando um cigarro de menta do maço. O acendedor prata já estava entre seus dedos e o cigarro entre seus lábios quando ela se dignou a olha-lo de volta. Ele sacudiu a embalagem preto-fosca do cigarro para a garota, que negou.
- Nem preciso perguntar...Terno caro, boca suja...Seu pai te colocou pra fora antes que arruinasse algum de seus negocios com os velhos ricos.- Dominic riu. É...ela realmente não sabia. Tragou o cigarro. Dominic não era um fumante assíduo, mas foi inevitavel deixar a fumaça levar todo o descontentamento e raiva pelas circunstâncias daquela noite. Raiva pelo pai por ter concordado com tal idiotice, afinal 23 anos ainda é época de se aventurar. Cuidar de um outro alguém não estava nos planos e nem estariam. E ele, em breve seria o Don, deveria ter o privilégio de escolher casar ou descasar sem ser questionado.
-E tu...A cara della ragazza mimada que levou bronca por maltratar os garçons. - Ela riu, debochadamente.
- Sim..Talvez eu seja uma pessoa má.-Ela disse, estendendo os dedos da mão para o cigarro. Talvez, a final, não seja uma doce jovenzinha inocente...A final, quem era, ali? Eles estavam caminhando lentamente para a borda do círculo, a passos carregados. Uma aura pesada, raivosa, pairava no ar. O brilho das brasas da ponta acesa do fumo pareciam incendiar os olhos claros na mesma medida que queimavam o papel, enquanto ela puxava um pouco de fumaça, de olhos fechados e sentindo o vento frio da noite.

VOCÊ ESTÁ LENDO
FAÇAM SUAS APOSTAS - Filhos Da Máfia
RomanceEva. De um lado da moeda, mulher em um mundo de homens, humana em um mundo de lobos. Dominic. Outro lado da moeda, carrega o peso de um império nos ombros, o peso de ser um filho de seu pai. Para evitar mais mortes tiveram de matar a própria liberda...