Eva.
De um lado da moeda, mulher em um mundo de homens, humana em um mundo de lobos.
Dominic.
Outro lado da moeda, carrega o peso de um império nos ombros, o peso de ser um filho de seu pai.
Para evitar mais mortes tiveram de matar a própria liberda...
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Sentia os lábios serem tocados. A língua acetinada tinha o gosto do pecado, o gosto do wisky que a ruiva roubara de seu copo alguns momentos mais cedo, agora passeava provocativamente no lábio inferior do rapaz. Ele gostava da forma que o corpo feminino reagia a seu toque, principalmente aquele corpo, coberto de sardas e (quase) somente isso. Os dois ofegavam com a antecipação do que certamente aconteceria, como já acontecia a meses. Como uma peça ensaiada várias vezes, tinham aquele ritmo rápido e sem interrupções. Ele se esticou até a mesinha de madeira do quarto de hóspedes, procurando a proteção. Mal deu tempo de encontrar a pequena embalagem com os dedos, quando sobressaltaram-se com três batidas na porta. - Bambino!- Chamou uma voz feminina do outro lado da porta trancada. Os dois se mantiveram em silêncio, esperando ouvir os passos de Rita, a governanta, se afastarem do quarto. Não foi oque aconteceu. - Dominic Montanari! Sei que está aí. Tuo padre requer sua presença no escritório dele, adesso! O rapaz olhou para a ruiva, sorridente por baixo dele. - Vá, bebe. -Disse ela, passando os dedos entre os cabelos dele. Aquilo o irritou um pouco. Ele nunca teve esse contato com Cassandra, e as raras vezes que ela o fazia, ele deixava clara a opinião de que estranhava o toque de afeto. Ele se levantou do corpo semi-nu da mulher, colocando a camiseta de volta e andando em direção a porta. - Vou te ligar, rossa. - Ela sorriu e se pôs a fechar os botões na blusa de seda branca que o próprio Dominic desabotoou. Teria de ter uma conversa séria com Cassandra, mas adiaria enquanto o sexo casual continuasse totalmente casual. Ele e a ruiva só ficaram por que nenhum dos dois queria algo de verdade, e era bem tarde para Cass mudar de opnião.
Andou rápido ao escritório de Alessio, abrindo a porta de madeira escura e pesada sem cerimônia. O choque que a cena a sua frente causou conseguiu roubar do rapaz alguns segundos de reação. Ele piscou os olhos, tentando absorver o porque de seu pai estar com a arma fora do coldre e sentindo a mão, que por instinto ia até seu próprio para encontrar sua arma. Sua pistola havia ficado em cima da mesa de seu escritório, mas no coldre havia suas outras preferidas. Adagas gêmeas. Não era como se o rapaz precisasse estar armado até os dentes de pistolas para se proteger e também não era como se não tivesse mais armas espalhadas pela casa do que talheres, era só saber onde as procurar. - Feche essa porta, Dominic! - E foi isso que ele fez. Entrou e fechou a porta. A Glock prateada não estava apontada para ele, obviamente. Era para Giovanni. O homem de cabelos escuros e pose inquisidora agora se encontrava quase de quatro no chão, provavelmente se recuperando de algum golpe na barriga. Aquilo não fez nenhum sentido. - Oque acontece aqui?- Questionou, olhando para Alessio com as sobrancelhas cerradas em dúvida. O pai bateu a arma com força sobre a mesa, antes de largá-la, inerte. O metal rutilante contrastou com a escuridão densa da madeira. -O que acontece? Succede questo figlio di puttana!- Nesse momento o rapaz notou o tom nas palavras do pai. Ele sabia que Alessio estava quase louco de raiva pela frase toda dita na sua língua materna. -É um traidor! - Não sou! - Se defendeu Giovanni, ainda no chão.- Está enganado, Alessio! - Cala-te! - Esbravejou o pai, passando as mãos pelo cabelo grisalho. Giovanni rapidamente se calou, alcançando a posição de joelhos, como o código manda. - Oque aconteceu, padre? - O rapaz insistiu. - Esse...- Engoliu a seco mais um xingamento.- Giovanni tem contato com la Russia.- Jogou a bomba e se calou, esperando que Dominnic advinhasse o resto dos detalhes. O rapaz olhou embasbacado para o pai. - Oque disse?- Perguntou, observando Giovanni se encolher mais ainda sobre suas canelas. Os joelhos do terno caro se encontravam imundos, revelando que já havia apanhado e ficado de joelhos por muito tempo antes do rapaz ser chamado. Dominnic estava perto de chamar aquilo de absurdo, sabendo que Giovanni tem uma história inteira de vida entrelaçada com a família de seu pai. Era o Consigliere, o que sempre era beneficiado acima dos outros, impossível de comprar, mas coração dos outros é terra onde ninguém caminha... Quase riu cruelmente da situação, mas a expressão de injúria de Alessio não tinha um pingo sequer de graça. - Mês passado, meu esquadrão relatou a entrada de duas merdas russas dentro de una caranava de barca, cada uno em uma diferente. Não estavam no meu território, mas era por muito pouco... Mandei Luigi sondar para ver se encontrava algo. - Alessio começou, sem enfeitar pavão, indo direto ao ponto como sempre fazia. Dominic se lembrava do pai falando sobre russos em barcas, mas o assunto não foi para frente dado que não estavam no território do Impero. Alessio se aproximou de Giovanni, arrumando os anéis pesados na mão esquerda. - A facilità que foi grampear os celulares... Como se estivessem ali somente para serem descobertos.- Abaixou o tom de voz ao falar. Dominic sabia oque aconteceria ali. Jogou os cabelos para trás, imitando o gesto herdado do pai inconscientemente. - Três notches ouvindo sua linha, para nos depararmos con esse traídor do outro lado! O soco foi certeiro, atingindo o maxilar do homem ajoelhado, fazendo sangue pingar no chão e manchar os anéis da mão. Após sacudir a mão escorregadia de sangue, Alessio tirou o gravador do bolso da calça, pressionando o botão verde. Era um idioma diferente, mas inegavelmente russo e inegavelmente a voz de Giovanni. A raiva de seu pai contaminou o herdeiro, e para Dominic, Alessio de repente pareceu calmo de mais para a situação... Se o homem aos seus pés fosse qualquer outro, já estaria com uma bala na cabeça a muito tempo. - Como tem a displicência de negar?- Gritou Alessio, acertando outro soco. A cara do servo ficaria deformada. - Eles não são da máfia, Alessio! Eu juro!- Disse o consigliere, choroso. - Jurou fidelidade a minha família e ainda assim, nos traiu.- Disse Dominnic, indo para o lado de seu pai, a frente do homem. - Não o trairia sabendo que estamos em guerra, Alessio! Sua familia em perigo significa minha família em perigo! Não sou um idiota!- Se defendeu. - Não colocaria Eva em perigo nunca! Nem Karen, sabendo que carrega meu menino no ventre! Aquelas palavras travaram o Capo com uma ira fria nos olhos. Um herdeiro... Alessio respirou. Por trás do brilho do ódio, Dominic conseguia ver a mágoa por ter perdido a confiança no mais proximo, poderia ser chamado de amigo se não vivessem no mundo em que viviam. Era verdade que Alessio deixava especialmente para Dominic o trabalho de machucar e jogar sujo na linha de frente, mas como um Montanari, o Capo fazia com maestria quando preciso. - Então por que, seu imundo ingrato?- Cuspiu o filho. - Preciso de mais segurança. Mais dinheiro. Meu filho está a caminho, e Karen agora é um alvo. Sabe muito bem que uma família sem rapazes perde o respeito dentro desse mundo, e eu tenho tantos inimigos quanto você, homem!- O desespero na voz de Giovanni era palpável, o cheio de suor e sangue possuíam notas profundas de medo que enjoavam Dominic. Giovanne era um covarde. Dominic não gostava de homens covardes a sua volta, muito menos em cargos. Mas ele não falaria novamente. O chefe era Alessio, e ele não gostava de ser questionado. - Porque não me procurou!? Poderia ceder alguns de meus homens a você!- Alessio só estava falando porque conhecia Giovanni desde o ventre. Dominic enxergava aquilo como uma única fraqueza do pai. O afeto e a capacidade (Ainda que baixa) de se magoar. Não que Alessio demonstrasse qualquer uma dessas coisas com algo além de impulsos de raiva. - E ter mais dívidas com sua família? Não! Não era segredo para ninguém que dívidas era sinal de fraqueza. Para uma família poderosa como a de Giovanni, fraqueza era sinônimo de pessoas querendo tomar seu lugar. Conheciam Giovanni o suficiente para saber que o orgulho vinha acima de qualquer coisa, que o nome vinha a cima de qualquer orgulho. - Oque tu estava fazendo, Giovanni?- Questionou Dominnic, a calma fria tornando sua voz cortante. - Vendi parte do meu cartel. Nada de mais. - Um membro do Impero vendendo para russos! Caso não se lembre, seu incompetente de merda, estamos numa guerra fria... Chama de "Nada de mais!"?- Gritou Alessio, imitando o sotaque americanizado do servo. Giovanni se encolheu. - Oque você acha que vão pensar se souberem desta merda? Devo te matar antes que vire uma fraqueza, Giovanni. Só não te mato agora porque.... - Não se livraria do seu companheiro mais leal em um momento como esse. Não estamos prontos para lidar com a fragilidade que isso demonstrará. O silêncio caiu na sala. Giovanni tinha razão. Se contassem os laços ou matasse Giovanni agora, o nome que sempre vem depois de sua família, matar o conselheiro do Don.. Correriam perigo de o Impero parecer enfraquecido, desprotegido, chamando mais ataques, chamando outras organizações pois afinal, um nome na máfia não é só construído em cima do que eles são e fazem mas também do que os outros acham que são e fazem. Intimidação, temor e respeito. Essa é a base. Eles não poderiam deixar o sangue cair na água, se não atrairia os tubarões. Giovanni ganhou outro soco na barriga. Desta vez, permaneceu caído no chão. Dominnic sabia que ainda estava acordado, todavia a posição deitada era para para mostrar respeito pelo Don, o chefe... como um cão de matilha que se deita sob o alfa. - Provarei minha inocência, mi amicco. Provarei minha lealdade!- Disse Giovanni. - Não me chame assim! Tua sorte hoje, Giovanni, é que aqueles merdas para quem vendeu tuo droga non sono mais que vendedores. Não são nada. Nem para isso, tu serve. Giovanni relaxou visivelmente no chão. - Permita-me provar minha lealdade perante o Impero. Eu lhe imploro, Alessio. Em nome de tua segurança. Não podemos nos separar agora. Não enquanto somos atacados! Seria morte para todos nós. Para Dominic e para meu herdeiro. Dominnic viu o pai ponderar seriamente. Ele já estava achando todo aquele teatro de Giovanni forçado ou enfeitado em demasia, mas não ousaria de forma alguma interromper o pai para lhe alerta-lo. Alessio julgaria isto como falta de fé em seu juízo, e isso não traria boas coisas. Um sorriso sombrio, daqueles que não se chega a superfície, se pintou no rosto do pai enquanto se aproximava novamente do homem ao chão. - Como pretende me provar tuo lealdade, Giovanni? Tenha em mente que o dia de arcar com tuo consequências chegará. - Estou em suas mão, Don. Farei qualquer coisa que me ordenar. - Alessio jogou os cabelos para trás. - Queremos uma sugestão. - Dominic entendeu o jogo. Alessio queria ver até onde Giovanni iria. Um teste. Queria ver se, como o último soldado que correu fora da linha, colocaria todos os seus bens em nome do Impero, se proibindo de se desfazer da máfia até a morte. Ele foi morto em um conflito contra uma gangue dois dias depois de assinar o contrato. A redenção valeu sua vida e ele não morreu como um descarte do Impero. Morreu com honra, segundo Alessio. Foi um grande burro, segundo Dominic. - Ofereço mia Eva.- Disse o homem caído. Tanto Dominic quanto Alessio o encararam, aturdidos. A respiração dos três homens era audível como três ventiladores. Aquilo roubou todas as palavras de Alessio. Nunca, naquela sala, foram oferecidos acordos tão....Quero dizer, já haviam ido até Alessio querendo vender jovens para prostituição, mas ninguém jamais saia com vida. Ninguém do Impero ousaria...Claro, haviam prostitutas e tudo mais, entretanto todas estavam ali com comsentimento. Nenhuma vendida contra sua vontade ou para pagar qualquer dívida forçosamente. Até porque, dívidas eram pagas com sangue e vida. -Perdeu o medo de morrer? - Disse Dominic, incrédulo, apertando o cabo rubi da adaga. Giovanni permanecia com o rosto no chão, sua voz mascarada de vergonha e tristeza quando continuou o discurso.- Tuo bambino está em idade de casamento. Se não se juntar com alguém logo, não será visto como mais que um rapazinho, fraco e indeciso para controlar um império. Quem seguiria um alfa incapaz de escolher uma mulher? Se é indeciso somente com mulheres...Oque será do resto? Será carta-fraca. E a cerimônia dara outro osso para a mídia roer. Está na nossa mira. O Don atual olhou para o filho, com uma sobrancelha levantada. A mão coçou para cortar fora a boca de Giovanni. Nao havia pior momento para retomar aquela merda. Eles já haviam tido aquela conversa. Falta de herdeiros era vista mal em qualquer família da Elite. Um Don sem nem esposa não seria bem seguido, e a vez de Dominic controlar o castelo estava chegando. Sem contar que os jornais estavam frenéticos atrás de migalhas de informações... Com todo aquele assédio, seria questão de tempo até que alguma mascara escorregasse.... - Não.- Foi irresoluto. Ele não iria se casar. Não assim. Ainda lhe restava muitos anos para isto e ele não os iria jogar fora por conta de uma guerra de seu pai. - Dominic... - Não passarei o resto da minha vida preso a alguém que nem sequer sei o nome todo.- Replicou Dominic, com vontade de matar Giovanni por sugerir tal coisa e se perguntando onde Alessio enfiara toda sua raiva. - Não sou eu quem devo pagar pelos erros deste idiota!... Não enxerga...? - Chega! Eu sou o Chefe. Eu tomo decisões, não vocês. - Gritou Alessio, frio e certeiro.- Como seu pai duas vezes, lhe digo que eu decido oque é melhor para você. Sendo melhor para o filho do Don, é o melhor para o Impero. O melhor para o Impero neste momento è um sucessor forte, não um bambino! Vedi? Temos uma guerra para vencer, filho. Todos terão um sacrificio a fazer. Dominic mal assentiu, de contragosto, pois não havia outra coisa a se fazer naquele momento. Não era uma opção dizer não ao Don. Ele tambem deveria se submeter as regra e obedecer, mesmo sabendo que aquele era o início de um pesadelo. - Não precisa ser para o resto de tuo vida, Dominic. Poderá se separar assim que sairmos do foco dos russos. Arrumará outra para casar-te e ter o herdeiro com quem quiser. Juntar-te com Eva, juntar nossas famílias, será uma boa jogada. Apesar de não ter dinheiro garoto, eu tenho nome. - Falou Giovanni, dando sua última jogada para cima de Alessio. O Don assentiu, olhando para o rapaz, que se encontrava pálido e cheio de raiva, prestes a atirar no homem caído. -...Não pagarei pelo erro de Giovanni.... -Ficará com Eva. Ainda mando aqui, filho. Giovanni terá sua punição. Última palavra. Dominic tinha o privilégio de vir da família mais forte. Não precisava escolher esposas ou famílias superiores para subir de nível, já que estava no topo da pirâmide. Não precisava se jogar aos lobos por um lugar acima, pois ele estava no mais alto. Agora via toda liberdade caindo como o sangue das feridas abertas de Giovanni. Saiu do escritório batendo a porta, pensando em como foi que passou para a posição de filho do alfa para homem subordinado.