Draco observou Astoria sentada à mesa de assistente pessoal, a qual ficava na direção da sua, mas do lado de fora do seu escritório. Podiam se ver sem obstáculos, o que não era bem uma vantagem para ele, pelo menos. Draco já era capaz de sentir a pressão dos olhos delatores de Astoria quando fazia algo de errado (segundo os padrões da Sra. Malfoy), e sempre acabavam reforçando o contexto de Guerra Fria quando os olhares se cruzavam pelo vidro. Não era lá um dos ambientes de trabalho mais saudáveis.
Naquela manhã, o rapaz já estava cansado de responder e-mails e ler páginas e páginas de arquivos do word; sem sequer perceber, sua pausa fora preenchida pela análise da assistente que parecia concentrada nos novos documentos que havia disponibilizado no drive. Tratava-se de um projeto urbanístico ridiculamente difícil, que somente passara para ela no intuito de que a Greengrass reclamasse do serviço, oferecendo, assim, alguma abertura para que pudesse ter algum motivo para demiti-la. Mas não. A teimosa parecia determinada em resolver com maestria qualquer tarefa inútil ou pesarosa demais que o Malfoy inventasse.
No começo havia sido até divertido vê-la desdobrar-se em dez para dar conta de tudo. Agora não mais.
Ele não sabia qual era o motivo que obrigava Astoria a aturá-lo com tanto afinco, mas devia ser importante. Tal pensamento fez com que percebesse que não sabia nada acerca da sua assistente. O que de fato sabia?
(1) ela possuía olhos azuis intensos;
(2) um humor peculiar (tinha certeza que ela o xingava mentalmente);
(3) uma única maldita saia, que usava todos os dias, sem exceção;
(4) e era determinada ao ponto de ser irritante.
E só. Astoria reservava sua vida pessoal, obviamente. Nunca ouvira uma palavra sequer sobre o que acontecia com ela fora do escritório. Como, por exemplo, sobre um possível namorado. Não fazia ideia se ela estava em um relacionamento ou não. Não que fosse relevante saber, porque não era, mas talvez a oportunidade para fazê-la desistir daquele acumulado de funções inúteis e extremamente desprazerosas estivesse justamente no que ela mais escondia.
Precisava mudar com urgência de estratégia, caso quisesse chegar ao fim desejado, ou seja, livrar-se de Astoria Greengrass. Pensando nisso, levantou-se da sua mesa, não sem antes fechar seu notebook e andou até sua assistente. Devido à concentração que prestava ao serviço, a morena apenas o anotou quando Draco estava praticamente na sua frente.
— O que você ainda faz sentada aí, Astoria? – ele indagou e olhou para o relógio no seu pulso.
— Como?
— Tenho uma reunião em outra empresa hoje e você vai junto – informou, como se fosse óbvio.
— Tem? – perguntou, confusa e apressou-se para pegar a agenda marrom que carregava para si e para baixo. – Não tem nada aqui.
Claro que não tinha, Draco não compartilhara aquela informação de propósito apenas pelo prazer de vê-la com aquela expressão de tensão no rosto bonito.
— Não? – deixou um pequeno sorriso aparecer. – Devo ter esquecido de avisar.
Ela o olhou diretamente, sem desviar por nenhum segundo. Apostaria tudo que possuía que Astoria estava o xingando mentalmente naquele exato momento. Inclinou-se um pouco para perto e ela pareceu segurar a respiração com o seu movimento.
— Do que você está me xingando? – inquiriu em uma voz mais baixa do que a que normalmente usava.
As orbes azuis se arregalaram com brevidade e somente por estar fitando-a tão atentamente que o Malfoy conseguira notar a mudança. Não podia negar que ficava impressionado com o autocontrole que Astoria possuía, era com certeza bem mais considerável que o seu. Ela pigarreou e desviou o olhar, evitando encará-lo.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Rich Boys Don't Have Hearts
FanficA vida de Astoria Greengrass toma um rumo diferente quando, em uma manhã chuvosa, Narcisa Malfoy lhe faz uma proposta: ser a assistente pessoal de seu filho. [FANFIC DRASTORIA]