Pessoas que precisam trabalhar para sobreviver não podem se dar ao luxo do pecado da preguiça – principalmente se o seu chefe parece determinado em transformar sua vida em uma amostra do inferno. Destarte, Astoria havia levantado mais cedo, arrumado-se e partira para o segundo dia de queimação no tártaro. Ou para mais um dia sendo assistente de Draco Malfoy. Tanto faz. Era só uma diferença de semântica.
No seu primeiro dia, o diabo loiro preencheu seu tempo com uma tarefa sem sentido. Ele a mandou para a sessão de armazenamento de processos administrativos com uma ordem para que Astoria lesse os arquivos e os classificasse por importância. O problema era que como não entendia nada sobre procedimentos administrativos, tudo parecia ser importante. E perguntar ao Malfoy? Não parecia ser uma opção viável.
O pior foi quando – depois de passar a tarde inteira de trabalho com o rosto enfiado em processos com papéis encardidos, os quais cheiravam a mofo – o arquivista simpático da sessão, sentindo pena de Astoria, informou que era em vão seu empenho, porquanto todos os arquivos que estava analisando seriam descartados devido à inutilidade.
Tudo que Astoria queria era voltar ao escritório de Draco Malfoy e xingá-lo até que pudesse se sentir minimamente vingada pela perda de tempo e pela alergia que o mofo nas folhas antigas desencadeara.
Era uma irrealidade, é claro.
Nunca faria tal coisa; apesar de que só imaginar toda a cena já a deixava menos enfurecida. E, de qualquer forma, não daria ao Malfoy o sabor da vitória. Sabia que ele queria que acabasse se descontrolando ao ponto de ser demitida ou de necessitar pedir demissão – Draco teria que esperar sentado, diga-se de passagem, pois isso definitivamente não aconteceria.
Quando chegou no prédio da empresa, por ser ainda muito cedo, teve que subir pelo elevador de serviços. Pouquíssimas pessoas já estavam começando o dia de trabalho e a Greengrass era uma dessas, afinal, ela não queria oferecer nenhum motivo que pudesse convencer Narcisa a demiti-la – embora o único aparentemente importante consistia em possíveis amassos com o chefe, o que nunca aconteceria devido ao pequeno fato dele ser, simplesmente, insuportável (na sua humilde opinião e experiência de quarenta e oito horas incompletas, é claro).
Para a sua surpresa (e infelicidade), assim que saiu do elevador, avistou Draco já sentado na sua cadeira de estilo presidencial.
– Você está atrasada, Greengrass – indicou antes que Astoria pudesse ter a chance de cumprimentá-lo.
Ela depositou a bolsa marrom em cima da própria mesa e encaminhou-se para a sala. Limpou a garganta discretamente ao vê-lo com as mangas da camisa social dobradas até o cotovelo e a gravata um pouco frouxa. Os olhos cinzentos pareciam cansados, como se ele não tivesse conseguido dormir; se ele, rico como era, não conseguia ter qualidade de sono, o que ela poderia esperar de suas madrugadas e do colchão ruim de seu quarto?
– Adiantada, sr. Malfoy – tentou, utilizando uma voz calma. – Meu horário começa às 8 horas.
Draco soltou uma risada rouca, debochando.
– Seu horário começa cinco minutos antes da minha chegada e termina somente cinco minutos depois que eu tenha terminado – ele disse em um tom seco. – Entendido? Ou é puxado demais para você? Se for, posso transferi-la novamente para a copa.
Ótimo. Ele havia descoberto que Astoria trabalhava anteriormente como copeira. Não que possuísse vergonha do seu antigo cargo; longe disso, era apenas porque sabia que Draco tentaria usar o fato arrogantemente somente com o intuito de a desestabilizar. Ele nunca, nunca havia sequer pisado na copa da empresa, e aparentemente esse era o ponto positivo de seu antigo posto.
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Rich Boys Don't Have Hearts
FanficA vida de Astoria Greengrass toma um rumo diferente quando, em uma manhã chuvosa, Narcisa Malfoy lhe faz uma proposta: ser a assistente pessoal de seu filho. [FANFIC DRASTORIA]