Cloudy day and worried mommy

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— Olha por onde anda, sua maluca! – mesmo com a buzina irritante soando três vezes consecutivas, Astoria sequer olhou para a mulher nervosa que quase lhe atropelara.

Ela estava ocupada demais tentando chegar viva em casa – não que isso fosse uma grande novidade, é claro. O pior talvez fosse admitir que, mesmo no decadente cenário de sua vida, ela ainda possuía certa sorte; se é que poderia chamar assim. Tinha uma casa para voltar, um emprego com um salário que possibilitava uma garantia de comida todos os dias do mês – nada de extravagâncias, apenas o essencial. Além do mais, em dias como aquele, não ser atropelada durante sua travessia pela rua, era sim um grande sinal de sorte. Perder o ônibus, no final, não significava nada além de economia.

Suspirou profundamente ao virar a quadra de sua casa. Não estava num dia bom; na verdade, mal se lembrava do seu último dia mediano. Em momentos como aquele, nos quais só conseguia pensar em todos os problemas da sua vida, tentava se concentrar nos seus anos dourados de adolescente, a fim de se convencer de que já vivera algo satisfatório. Ou tremendamente pior do que uma caminhada de alguns quilômetros. Embora não gostasse do fato de morar tão longe da empresa, não poderia reclamar. Só Deus sabia o quão desesperada Astoria estava quando conseguiu o emprego na empresa Malfoy.

Era comum ver seu salário se comprometer completamente com aluguel, comida e transporte para ir trabalhar; assim como deparar-se com a ridícula situação de namorar sem pudor um cupcake de red velvet num café ao lado da empresa ou chorar no chão de tacos antigos da sua sala de estar desesperada por causa do saldo da conta bancária. Mesmo assim, deveria sentir-se grata por estar conseguindo sobreviver. O que não era fácil, diga-se de passagem, principalmente quando dívidas pareciam ser a única forma do dinheiro se multiplicar – e, para sua infelicidade, de um modo negativo.

— Daphne, cheguei! – disse, como de costume, passando a chave duas vezes na porta de madeira. Tirou a bolsa marrom que carregava em seu ombro e a pôs em cima da mesa, deparando-se com alguns envelopes.

— Estou saindo do banho! – ela respondeu de longe, tratando logo de fechar o registro. Enquanto Astoria abria a correspondência, sua irmã mais velha deu conta de sair do banheiro enrolada numa toalha. – Como foi o trabalho?

— Normal – respondeu sem entusiasmo. Afinal, o que poderia ser extraordinário numa rotina de copeira?

— Hm. O que está vendo? – indagou Daphne e Astoria ergueu os olhos, controlando-se para não tornar seu dia ainda pior.

— Uma notificação do Banco de Londres. Você fez um empréstimo? – ao perguntar àquilo, Astoria desejou que fosse apenas um engano do Banco e que sua irmã não tivesse gastado, mais uma vez, o dinheiro que não possuíam para sustentar a aparência de uma vida que não pertencia a elas.

— Claro que não – cruzou os braços. – O último foi há dois anos. Aquele com o Terence, lembra? Eu ainda trabalhava no Hard Rock e-

— Você usou o seu cartão de crédito? – cortou, não conseguindo evitar o tom impaciente.

— Ah! – Daphne sorriu, compreendendo a situação. – Deve ser por causa do presente que eu comprei para o aniversário da Pansy. Lembra que eu te falei que-

— Você não me disse sobre um presente de trezentas libras para a Pansy.

— Não é como se eu precisasse te contar todos os detalhes sempre, Ast. Além de que eu tenho quase certeza de que você estava dormindo nesse dia. Era sábado, você estava cansada do serviço e blá, blá, blá.

— Se sou eu quem vai pagar, você tem que me contar – bufou, afastando a cadeira da pequena mesa de dois lugares que tinham. – Não tenho dinheiro para pagar isso. Na verdade, não tenho dinheiro para-

Rich Boys Don't Have HeartsOnde histórias criam vida. Descubra agora