Han JisungMinha mãe sempre me disse para escolher muito bem as minhas amizades, porque, querendo ou não, elas influenciam nosso comportamento e rotina. Sábias palavras, mamãe. Mas agora me encontro cercado de idiotas.
Outra coisa que ela dizia era para não me deixar levar por esses tais amigos. Mas cá estou eu, novamente contrariando minha mãe.
E só posso dizer que a vontade de me enterrar no chão nunca foi tão grande, porque eu infelizmente tenho amigos muito, muito, barulhentos. Não que eu seja um poço de quietude, mas hoje o motivo da chacota sou eu, e nesses casos, o silêncio é a melhor resposta.
– Eu DUVIDO você dar uma cantada em alguém da outra mesa, Jiji! - Felix disse, e eu quis enfiar meu sapato na boca dele. Alguém devia avisar esse garoto que calado, ele é poeta.
– Puta que pariu, qualquer coisa menos isso. Me desafia a, sei lá, lamber um corrimão.
Lee Felix e eu nos conhecemos desde crianças, e já passamos por bastante coisa juntos. Ele me conhece melhor do que qualquer pessoa, e eu a ele. Somos soulmates, como ele diria.
No início da nossa adolescência, criamos uma brincadeira chamada "cringe de rua". O que seria isso? Se falarmos a mesma palavra ao mesmo tempo, o primeiro que gritar "Cringe!" pode desafiar o outro a fazer qualquer coisa, e o outro não pode recusar.
E é qualquer coisa mesmo. Desde de se esfregar no muro da escola (Felix, primeiro ano do ensino médio), até tirar a camisa no meio de uma livraria (Jisung, início da faculdade).
E hoje, esse filho de uma puta me desafiou a passar uma cantada em alguém aleatório num pessoal sentado duas mesas à nossa frente. E eu vou.
Minha mãe me daria bons cascudos por isso.
– Faz o seguinte. – Ryujin também se meteu na conversa. Outra que deveria aprender a falar apenas o necessário. – Chega lá e fala "Oi, é que tem algo que eu quero aqui na mesa de vocês", como se você quisesse o ketchup, ou algo assim.
De repente, todos os meus amigos começaram a prestar atenção nela. Correção: todos deveriam aprender a falar apenas o necessário.
– Aí logicamente alguém vai te perguntar o que você quer. E o primeiro que fizer isso, você fala "Seu número". Não tem erro, Jijico. – Essa piolhenta tem noção das coisas que ela fala? Porque sério, sem condições.
Olhei na direção da minha ruína. Não dá para ver direito, mas acho que conheço pelo menos dois deles de vista. Changbin, veterano do meu curso (que deus tenha misericórdia de minha alma) e Lia, que estuda com Felix.
Abortar missão. Vergonha demais, tudo nessa vida tem limite.
– Caras, acho que é galera da nossa faculdade. Eu não vou, sério.
– Ai, para de cu doce! Você provavelmente nem vai ver essas pessoas por lá. Coragem, poc! – Felix jogou uma azeitona em mim, o que me deixou puto, porque eu odeio azeitonas.
– Ah, é? Aquele cara parece o Changbin, então por que você não vai lá comigo, aproveita e já fala que é a fim dele, seu viadinho? – Joguei a azeitona de volta nele.
Então, todo mundo começou a falar alto, e depois de algumas brigas e exposições ( eu não fazia ideia que o Taehyun tinha uma queda pelo Beomgyu), acabei tendo que cumprir meu desafio.
Respirei fundo e levantei. A mesa ficava perto da porta, então eu poderia muito bem fugir. Olhei para trás e meus amigos seguravam a risada.
Yeji levantou os polegares, me desejando boa sorte.
Quando eu lembrar desse dia, lembrarei do apoio que Yeji me deu.
Enxuguei o suor das mãos na calça e fui. Conforme fui me aproximando, notei que nessa mesa também havia bastante gente, o que quase me fez voltar correndo. Mas um deles já tinha me visto, então continuei.
Maldito seja, Lee Felix.
– Nessa mesa tem... Tem uma coisa que eu quero nessa mesa. – minha língua pareceu pesada com tanta gente me olhando, e meu cérebro parou de funcionar.
Silêncio.
– Ah, então pega, ué. – Um menino loiro disse.
– Seu número.
As palavras saíram automaticamente, e eu quis me jogar pela janela, de verdade. Meu cérebro demorou a notar que a resposta dele não fazia parte do roteiro da humilhação, e ele, e algumas outras pessoas, me olhavam como se eu tivesse algum problema.
O garoto loiro tinha um semblante confuso, provavelmente tentando entender o contexto do que eu havia dito. Quando finalmente entendeu, deu uma risadinha.
– Desculpa, fofo, mas você não faz meu tipo. Sinto muito.
– Ah... obrigado. – Meu rosto estava pegando fogo, e meu cérebro, que já havia entrado em circuito, derreteu e escorreu por meus ombros.
Voltei para minha mesa ainda tentando me recuperar.
Felix, ao olhar para mim, entrou em desespero.
– Ai, caralho, bateram nele!
Tive que acalmá-lo, até ele sentar de novo.
– O que diabos aconteceu lá? – Perguntou Taehyun, sorvendo calmamente o seu suco. O único que se manteve tranquilo, ao que parece.
– Ele disse... Ele disse que eu não faço o tipo dele.
Ryujin deu um gritinho. O que de certa maneira me confortou, porque ela deve achar que me dispensar seja muita estupidez.
– Você levou um fora?
Assenti com a cabeça, e olhei para baixo.
Eu esperava receber pelo menos um abraço, ou um tapinha nas costas.
Em vez disso, todos na mesa começaram a rir.Por alguns segundos, me senti humilhado, mas logo comecei a rir também.
É, mamãe, eu não devo ir na onda dos meus amigos. Mas apesar de tudo, eu escolhi as pessoas certas.

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Loving by Chance
RomanceJisung tinha uma missão: passar uma cantada em alguém que estivesse ali na lanchonete. Após um fora meio vergonhoso, ele não esperava que fosse chamar a atenção de outra pessoa.