- Eu não sei por qual razão não deu certo! Não sei porque tenho que sentir essa dor, esse aperto, não sei o que fiz para merecer isso! Muito pelo contrário, sei que eu tentei! E tentei dolorosamente! - Grito para os ares, angustiada pelo aperto em meu peito.
Vejo que Sol me encarar segurando o riso, e sinto um pouco de vergonha da minha crise.
- Sei que você pensa que estou sendo futil, que existem problemas piores, e eu sei que existem, mas isso não diminui o meu, isso não faz ela ser menos destruidora ou intensa...- Falo, na tentativa de me justificar.
- Não acho sua dor futil ou pequena, na verdade, respeito muito ela, respeito todas elas, só não respeito a forma como vocês, humanos, veem isso atualmente, aliás, que bom que está passando por isso, pois aqui vai mais uma lição...
- Não acredito que você esta tirando proveito da minha dor! Como ousa dizer ainda que a respeita?! - Falo, sentindo a raiva subindo pelo meu corpo e ferver minha cabeça.
- Pois ouso mais ainda dizer que a respeito mais do que você, pois a vejo de acordo com a sua mensagem, e não superficialmente como você está fazendo. Uma dor não é apenas uma sensação, um incomodo, ela carrega uma causa, um objetivo, é uma professora que porta uma explicação e, por respeito, você deveria estar buscando esta lição! Não se vitimizando,
mas sim se questionando, vendo como para chegar onde chegou, o que pode mudar para não voltar onde já esteve e, e então, aceitar a lapidação, a
purificação. Sei que queima, mas isso é só para você renascer das cinzas, mas apenas se tirar as vendas dos seus olhos e mergulhar no fogo, claro.
Não consigo deixar de ver a verdade por trás do que ele me diz apesar da minha teimosia falar incansavelmente que ele estava errado, e isso só dói mais ainda, pois culpar a mim mesma por esse aperto não alivia em nada a situação, apenas dá margens para minha consciência me torturar também.
- Por que não dá uma olhada nas suas atitudes passadas com os olhos mais descobertos do medo? Verá quantas vezes deixou seu orgulho te guiar... Quanta beleza escondeu de si e do mundo por conta de uma visão mais limitada - Ele fala calmamente, mas sinto as facadas de cada frase.
As palavras somem da minha boca, não consigo argumentos para contrariar mesmo minha teimosia buscando incansavelmente algo para dizer.
- Se você plantou isso, e sei que agora pode ver que o fez, como pode esperar colher outra coisa? - Ele indaga, percebendo meu consentimento à sua fala anterior devido ao silêncio. - Você plantou orgulho, egoísmo e imparidade, não ouse se dar o direito de colher o oposto. Agora, aceite as consequências, aceite a lição, se permita queimar, mergulhe nesta angustia, deixe ela te moldar e purificar, para que na próxima oportunidade, você não cometa o mesmo erro. - Ele finaliza.
Minhas lagrimas cessaram e até secaram, não consigo mais chorar, sinto como se uma venda estivesse descobrindo uma verdade que estava ali na minha frente todo esse tempo.
Ele está certo, eu errei e aqui estou passando pelo aprendizado, é errado chorar ou fingir que não tenho autoria no meu estado. Me cabe apenas entrar nessa noite escura que a vida está me oferecendo, tendo fé em mim, acreditando na vida, sabendo que sou a causadora de tudo que me acontece e me lapidando de acordo com meus erros e suas respectivas
mudanças.
Vejo o Sol dando risada ao me observar imersa em meu solilóquio, e, mesmo com o peito ainda um pouco apertado, não me contenho ao abrir um leve sorriso para ele. É estranho para meu corpo se adaptar à essa mudança mental, mas, apesar da garganta queimando e o peito
um pouco apertado, tudo agora parece óbvio e claro, mas me pergunto quanto tempo e quantos erros demoraria para perceber isso se não fosse por ele, e sei que isso é só o começo, e que a estrada vai muito além do que se vê, sei que ainda não aceitei completamente essa lição, mas me sinto incrivelmente mais leve e não me contenho, vou abraçá-lo. Ele se
surpreende por um momento, mas retribui, e sou instantaneamente preenchida por um calor reconfortante que aquieta meu corpo.
- Obrigada. - Falo com sinceridade ao sair de seu abraço.
- Estou apenas adiantando um trabalho para você, o fato de essa informação ter se encaixado com facilidade em sua mente, prova a familiarização do seu espirito, ou seja, você descobriu o que já sabia. Faça bom proveito do tempo recuperado. - Ele fala, com um tom irônico, mas sei
o tamanho da verdade e do pedido que está fazendo.
Fecho os olhos e respiro fundo , pois mesmo que me sinto mais calma, meu peito ainda dói algumas vezes, ele ainda está apertado e em chamas. Quando volto à olhar para o parque a minha volta, vejo que Sol já não se encontra mais sentado ao meu lado decido ir caminhar para apaziguar o conflito interno que se desenrolava devastadora e silenciosamente.
Começo a mentalizar essa situação: acabo de ser demitida, o que complica um pouco meus planos de exploração e mochileira, mas mesmo assim, devo lembrar que tenho uma reserva emergencial que permite uma folga tranquila, então devo começar a me planejar e buscar outra fonte para me sustentar antes que portas comecem a se fechar. Mas Sol tinha razão, eu me ceguei com o medo e a insegurança, antes ficava descontente com o que fazia e ignorava as possibilidades que isso me proporcionava sem nem pensar em outras alternativas, portanto agora devo aprender a ficar mais atenta e, digo mais, devo aproveitar isso como uma oportunidade para explorar novas possibilidades. Precisava dessa lapidação, dessa mudança, e, apesar de toda insegurança que ainda me queima, eu entendi: entrei na fogueira, a queimação começou e isso foi apenas o início.
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O Sol De Lúcia
General Fiction- Quem é você? - Pergunto, ignorando sua fala anterior. - Que falta de classe, minha querida, responder à uma pergunta com outro questão que nem ao menos tem ligação...Mas vou ignorar isso, levando em consideração o seu estado e as experiências iné...