O Sol De Lúcia

INTRODUÇÃO - O contato imediato

Eu dançava e rodopiava, as caldas dos vestidos brancos ao meu redor passaram à ser uma arte borrada e abstrata, mas não me sentia tonta, me sentia viva, era puro fogo, era uma fogueira viva. A música foi fazendo parte de mim, logo, meus movimentos e os sons era um mesmo ser, tudo estava em perfeita sincronia: a musica no ar, a terra sob meus pés, a água da goroa noturna que minha pele absorvia, o fogo fervendo meu espírito e, então, tudo ficou tão claro que me esqueci que era noite, mas foi algo do inconsciente, tanto é que não sei quanto tempo passou, mas logo me vi sentada em uma mesa, do lado de fora do círculo dançante e, com uma xícara de chá ao meu lado, me observava dançar no centro, de forma leve, parecia flutuar ali, parecia estar nadando no vento.

- É estranho a sensação do espírito saindo do corpo? Sempre tive uma curiosidade sobre os humanos e o seu relacionamento entre o físico e o espiritual.

Me assustei tanto com a presença do homem ao outro lado da mesa, que quase apago, mas ele me toca e logo me sinto firme ali novamente. Era um homem de cabelos escuros mesclados com um grisalho quase prata, pele escura resplandecente, majestoso nos movimentos, os quais eram fluídos e naturais, vestia um terno tão branco e uma gravata que era algo entre amarelo e ouro. Doía olhar pra ele, de tão intensa que era a sua luz. Seus olhos eram de um castanho único, pois trazia traços de ouro, sua expressão era a mais serena que já havia visto e ele agia de forma humilde, mas poderosa, sabia quem era, e era isso que eu queria saber.

- Quem é você? - Pergunto, ignorando sua fala anterior.

- Que falta de classe, minha querida, responder à uma pergunta com outro questão que nem ao menos tem ligação...Mas vou ignorar isso, levando em consideração o seu estado e as experiências inéditas que está passando. Enfim, tenho vários nomes que me representam, mas você provavelmente me conhece pelo mais belo e mais simples: eu sou o Sol.