Eklypsa, com a sua aparência semelhante a uma rapariga de 11 anos, porém, com os seus 350 anos, ou cerca disso, está sentada na sua cama, de costas para a sua mãe, que entra, sorrateiramente, na tenda. Atena coloca-se atrás da filha, com a cabeça a espreitar para o livro.
Eklypsa: Se o inimigo deixa uma porta aberta...
Atena: Precipitemo-nos por ela.
A jovem salta para cima da cama, tirando uma espada curta da bainha na sua cintura e aponta à cara da mulher, que lhe sorri, docemente, e lhe tira a lâmina, sem qualquer dificuldade.
Atena: O Kratos ensinou-te bem.
Eklypsa: MÃE!
A rapariga morena abraça a mãe, sorrindo de felicidade.
Atena: Tinha tantas saudades tuas, minha linda! Tu estás enorme!
Eklypsa: Ganhei quinze centímetros desde a última vez que me visitaste! Tenho mantido a conta, o Athreus faz golpes na ombreira da porta, para me medir.
Atena: Ai é? Pois, quinze centímetros é bastante crescimento, como anda a tua educação e o teu treino?
Eklypsa: Tirei um sete a Matemática, com o Mitáclio, um nove a Literatura, com o Homero, dois oitos, um a Grego e outro a Latim, com o Gregório Enaponde, e dez a Estratégia, Arquitetura, Desenho, Alquimia e Biologia, com o Leónidas, o Anikos, o Claudius Sanontus e o Asclepius, respetivamente, isto numa escala de um a dez. O tio Kratos anda-nos a treinar bem, acho eu, apesar de ele não compreender bem o que se passa na minha cabeça.
Atena fica algo curiosa e preocupada.
Atena: Como assim, filha?
Eklypsa: Ando a ter visões de coisas do passado e do futuro, a ouvir coisas, vozes, pensamentos, sabes? Também ando a ver as coisas nos olhos das outras pessoas e a mover objetos sem lhes tocar.
A mãe da menina sorri, aliviada e um pouco orgulhosa.
Atena: Bom, tu já sabes que nós não somos propriamente normais, certo?
Eklypsa: O Asclepius chama-nos "Homo Fabulares".
Atena: Sabes o que essa expressão significa?
Eklypsa: Ainda não sei latim suficiente.
Atena: Significa "homem mitológico". Há milhares de anos, numa região remota da Arábia, oito humanos foram levados para os céus...
Eklypsa: Como o Jacob? Na Bíblia?
Atena: Sim e não, sim porque foram para um lugar que nós vemos no céu, e não porque essa história foi apenas fruto da imaginação do Jacob, um sonho. Não, isto foi muito real, apesar de Deus existir, isto não foi algo divino, foi algo mais... científico. Seres de outro lugar, no nosso universo, pegaram nessas oito pessoas e fizeram experiências com eles, mudando-os até se tornarem em humanos com poderes, até se tornarem nos primeiros fabulares.
Eklypsa: Como se chamam essas oito pessoas?
Atena sorri, olhando para a filha, achando adorável a sua ingenuidade infantil.
Atena: Eram quatro casais de jovens apaixonados: Buri e Mada, Brahma e Saraswati, Amun e Imnt, e, finalmente, Ouranos e Gaia.
Eklypsa: O trisavô Ouranos e a trisavó Gaia?
Atena: Exatamente, todos os filhos dele, meus avós e tios-avós, e as suas descendências têm poderes, alguns com capacidades mais físicas, noutros casos mais psiónicas.
Eklypsa: Psiónicas? O que é isso?
Atena: Capacidades mentais tão fortes que vão para lá da tua mente, consegues manipular as coisas ao teu redor usando apenas o poder da tua mente. Lês mentes, moves objetos com a força do pensamento, talvez mais coisas, ainda é cedo para dizer. Isto não quer dizer que não tenhas poderes físicos, só quer dizer que o teu cérebro é mais poderoso que os teus músculos, até porque, todos os fabulares são mais fortes e mais rápidos que os humanos normais. As tuas manifestações ainda devem ser muito esbatidas, descontroladas, ainda és nova, na nossa biologia, se fosses humana, não te quero assustar, mas já estarias morta. Tens 356 anos, mas és uma criança, ainda. Quando fores mais velha, os teus poderes ficarão mais controlados, e não vais ter de te preocupar com invasões de privacidade, porque vais saber evitar isso.
A jovem olha para os pés, que balançam.
Eklypsa: Acho que ainda vai demorar um bocado.
Atena: Prometo que, assim que os controlares, vais estar pronta para te divertires ao máximo a bater em mauzões e a partir corações.
Eklypsa ri-se um pouco, surpresa com aquilo que a sua mãe acabara de dizer.
Eklypsa: Se eu não soubesse como tu és, diria que estavas a agir bastante como a tia Afrodite.
Atena: Bom, o amor e a felicidade também são importantes, eu não me importo só com as vitórias que eu e o meu povo temos, eu importo-me muito contigo e com o teu pai, porque vos amo aos dois.
Eklypsa: Também gosto muito de ti. Gostas dos avós, também?
Atena solta um riso embaraçado, como se a sua filha tivesse feito uma pergunta a que ela esperava não ter de responder.
Atena: A tua avó, sim, mas o teu avô... é complicado. Ele nunca foi, propriamente, uma boa pessoa, ele matou, violou, censurou, roubou e muitas outras coisas más. Quando o nosso reino original lhe chegou às mãos, ele governou-o como um ditador com punho de ferro. Foi preciso que nós, os filhos dele, o tirássemos do poder e que o puséssemos na prisão, onde ele vai passar ainda muito tempo. Quanto à tua avó, ela é querida, amigável, um amor de pessoa, criou-me a mim e aos teus tios, praticamente, sozinha. Sou muito amiga da tua avó por isso mesmo, ela lutou por nós, quando o teu avô não queria saber. Depois da revolta no Olimpo, saí de casa, fui viver para um bairro em Atenas, conheci o teu pai e fiquei lá durante centenas de ano. Foi em Atenas que tu nasceste.
Eklypsa: Mas, preciso mesmo de perguntar isto, porque é que me deixaste com o tio Kratos? Porque é que não quiseste que eu ficasse contigo?
A mãe de Eklypsa demonstra uma expressão mais séria, porém, ainda dócil.
Atena: A verdade é que... a nossa família está a ser caçada como animais selvagens. Eu, o Ares, o Kratos, o Hermes, todos nós. Eu e o Ares conseguimos defender-nos bem, mas a Afrodite e, principalmente, o teu pai? Está fora de questão eles lutarem. A tua tia Afrodite é uma fabulares da família do Brahma, que veio da Índia e se casou com o Hefesto, mas, ele, como a besta que sempre foi, batia-lhe, portanto, a tua tia, anulou o casamento, para se casar com o Ares. O teu pai é diferente... o teu pai é filho de um antigo rei fabulares, no Egipto, chamado Osiris, ele nunca quis lutar, é demasiado pacifista para isso, o Hórus nunca levantaria a mão a ninguém. Tivémos de tomar decisões difíceis e, acredita, não foi por falta de amor aos nossos filhos, no nosso coração, nisso podes acreditar. Nada mais me deixaria tão feliz quanto ver-te crescer ao longo dos anos, mas, a tua segurança é bem mais importante.
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Conselho dos Primos
ActionChegou a tão esperada história do Conselho dos Primos, um grupo constituído por Athreus e os seus primos: Margot, Eklypsa, Aurogos, Deriótelo, Crax e Taro. Este será um arco histórico, que será usado para contar a história entre a fuga de Kratos e A...