capítulo 17 - Felicia

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Depois das apresentações feitas, o grupo se engajou em uma conversa animada. Naruto voltava a possuir sua animação de sempre, estar com os amigos sempre o renovava. Percebendo a troca de olhares entre ele e Hinata, as meninas trataram de aproximar os dois. Como Naruto havia sentado na cabeceira da mesa, empurraram Hinata para a ponta, a fim da morena ficar bem ao lado esquerdo do loiro. Sakura sentou em seu lado direito, Tenten achou aquilo muito simbólico, porém não comentou nada.

Ao lado de Hinata se posicionou Ino, que fazia questão de manter seus olhos analíticos sobre Shisui, quem vez ou outra era o centro das atenções na roda de amigos. Tenten sentava ao seu lado tentando ignorar todas as insinuações e indiretas de Ino, e pasmem, de Hinata. Neji estava sentado de frente para a morena, e tentava disfarçar sua expressão de desconforto ao ver Shisui se inclinar para sussurra algo no ouvido da Mitsashi. Em suma, eles eram um grupo de jovens ninjas, empolgados que se entretiam entre conversas, piadas e zoações. Quando estavam juntos tudo ficava mais leve, não haviam responsabilidades de Hokage, pressões do clã ou o gosto amargo de corações partidos, eram apenas eles e suas risadas.

- e quando eu abri a porta da biblioteca lá estavam eles, de novo! – Naruto termina o relato divertido de como havia ficado traumatizado, novamente, ao flagrar seus mentores em um momento íntimo. – bem que mamãe me avisou pra tomar cuidado com aquele sábio tarado, mas não esperava isso da vovó... 

A mesa explodiu em risadas, nem Sakura pode evitar os risos ao imaginar sua mentora em uma situação como aquela.

- primeiro na sala do Hokague, agora na biblioteca... Acho que já sei porque Kakashi-sensei adora os livros desse pervertido... – Ino comenta.

- aposto que eles foram pra biblioteca imaginando que esse seria o último lugar que os procuraria, Naruto... – Sakura já estava com as bochechas vermelhas e doloridas de tanto rir.

- eles falaram exatamente isso! – Naruto exclama. – mas nem estava atrás deles, precisava de um livro de lá... Mas acho que nunca mais vou trabalhar até tarde de novo, tô certo dattebayo... – o loiro coça a cabeça.

Shisui estava se divertindo em demasia com o grupo, os caracterizaria como no mínimo peculiares, eram tão diferentes, mas isso não os impedia de funcionar em harmonia. Naquele momento pode entender como foram capazes de vencer uma guerra, mesmo ainda sendo tão jovens. Eles funcionavam muito bem juntos.

Com exceção de uma certa morena marrentinha que não se pronunciava além de algumas risadas anasaladas e acenos de cabeça. Estava observando Tenten de soslaio, sabia que ela provavelmente estava incomodada com algo, mas não queria tocar no assunto e cutucar aquela ferida. Mas quando percebeu que ela mal havia tocado no bolo de confeitos com morango, chegou a conclusão de que a coisa deveria ser mais séria do que ela deixava transparecer.

- ei marrentinha... – fala baixo para não chamar atenção dos outros na mesa. – tem formiga no bolo? O que houve? – ela suspira pesadamente antes de responder no mesmo tom baixo.

- estou preocupada, Sui... – prossegue sem encará-lo. – há dias tento falar com Itachi, mas ele anda sempre tão ocupado. Aliás, todos estão ocupados... – ergue os olhos para os amigos. – Ino e Sakura estão dando aulas e formando novos médicos-nin, Hinata e Neji treinando para assumir o clã e Naruto... Bem, nem preciso comentar. – suspira novamente e abaixa o olhar para seu pedaço de bolo quase intocado. – e eu? O que estou fazendo além de esperar por informações? Me sinto inútil... – afunda na cadeira.

- ei... nós já conversamos sobre isso! – cruza os braços sobre a mesa e inclina a cabeça para ficar no campo de visão da menor. – você pode ser muita coisa, menos inútil! – Tenten sorri em deboche e revira os olhos.

- obrigada... Eu acho...

- que tal a gente treinar juntos? – a morena finalmente o encara. Seus olhos brilhavam de empolgação.

- jura?! – um sorriso abre gradativamente em seu rosto, que faz com que Shisui sorria também. Faria tudo para vê-la sorrindo.

- claro. Eu sei que Ita tá ocupado ultimamente... E um treinamento com um Uchiha vai te ajudar na missão. O que acha?

- tem certeza? Não está tão ocupado quanto Itachi?

- pra você, eu tenho todo o tempo do mundo... – afasta mecha de cabelo do rosto radiante de Tenten. Seus olhos brilhavam e um sorriso brilhante despontava em seu rosto. Linda.

- vão pro quarto vocês dois! – Ino chama a atenção de todos para o casal que estava em sua bolha particular sem ouvir nada do que os amigos estavam falando.

Tenten se afasta um pouco constrangida, mas não conseguia esconder o sorriso satisfeito com a proposta de Shisui, e esse por sua vez não conseguia desgrudar os olhos da Mitsashi. Todos ali já havia percebido o clima entre os dois, e para as garotas estava mais do que óbvio que Shisui estava perdidamente apaixonado por Tenten.

- cala a boca Ino... – Tenten rebate enfiando um pedaço generoso de bolo na boca.

- vocês estavam tão fofinhos juntos que nem ouviram o que o Naruto acabou de falar... – Hinata apoia o rosto na mão e o cotovelo na mesa. Achava muito fofo a amiga ter encontrado um cara legal, que claramente estava apaixonado por ela.

- a vovó me disse que daqui alguns dias vamos ter um baile de sosdico de inverno! – o loiro sorri.

- é solstício de inverno, Naruto... Por Kami... – Sakura balança a cabeça em negativa.

- isso que eu disse, ‘ttebayo!

- enfim... – Ino assume – vamos ter uma grande festa! Finalmente! – bate palmas empolgada. Tenten apenas revira os olhos terminando de comer seu bolo.

- vai conosco, não é Shisui-kun? – Sakura encara o moreno.

- só se a Tenten quiser... – sorri divertido e a morena revira os olhos.

- e desde quando eu mando em você? – ergue a sobrancelha.

- são seus amigos...

- ah para com essa boiolice! – Ino interrompe. – você já faz parte desse grupo de desajustados! Apenas aceite e lide com isso!

- bem, seus desajustados... Temos que ir, já deu nossa hora... – Sakura se levanta chamando Ino.

- também preciso ir... – Shisui se levanta seguido de Tenten. – depois eu passo na sua casa pra resolvermos os detalhes sobre aquilo... – pisca. Ela apenas assente com a cabeça. – foi um prazer conhecer todos... – se dirige aos demais e some em uma nuvem de fumaça.

- depois eu passo na sua casa hein... He he he – Naruto zomba.

- aí Naruto, não enche! – Tenten rebate.

- amiga, ele tá com os quatro pneus arriados por você! – Hinata solta risinhos ao lado de Naruto.

- até tu, Hina?! – Tenten finge falsa indignação.

- não precisa ter Byakugan pra enxergar o óbvio... – Neji finalmente se pronuncia.

Passou a conversa inteira apenas observando o comportamento de Tenten e Shisui, estava mais que claro que eles tinham ou tiveram alguma coisa. Mas se fosse algo oficial, certamente teriam anunciado a todos. Então no fundo, ele ainda possuía esperanças de tê-la novamente em seus braços, e dessa vez não a deixaria escapar.

- Tenten... Posso conversar com você? – o perolado se aproxima da Mitsashi, que o observa curiosa e concorda com a cabeça.

Nem chegam a se despedir de Hinata e Naruto, ambos estavam tão distraídos em sua bolha particular, que Tenten apenas sorriu ao ver a amiga corando enquanto o loiro coçava a nuca constrangido com algo. Aqueles dois nasceram um para o outro, só faltava eles mesmos perceberem isso. Ou melhor, faltava Naruto deixar de ser tão tapado e notar Hinata. Antes que Neji pudesse interferir em algo, a morena o puxou pelo braço para caminharem, deixando o casal a sós.

- então... Soube que será o novo líder do clã... – Tenten comenta depois de alguns minutos.

- não estou certo se ainda serei... – comenta baixo.

- por quê? O que houve? – para de andar para lhe olhar preocupada.

- não é nada demais... – gesticula em direção a ponte de Sakuras. O lugar ficava lindo coberto com as flores de cerejeira, era um lugar calmo e tranquilo na vila. Tranquilidade essa que Neji gostaria de recuperar para si.

- sabe que pode falar o que for comigo. Por favor, não guarde tudo para si... – ela toca suavemente em sua mão e sorri.

- eu sei. Obrigado por isso. – sorri brevemente antes de encarar o horizonte. Não teria coragem de conduzir essa conversa se estivesse olhando em seus olhos. – na verdade, queria saber como você está... Não conversamos desde...

- desde aquela noite na sua casa... – sorri. O Hyuuga engole em seco. Sempre tão direta. – na verdade estou bem melhor. Confesso que foi difícil, foram muitas coisas ao mesmo tempo... – abaixa o olhar brincando com a ponta dos dedos. – mas agora me sinto melhor.

- esse tal de Shisui tem ajudado a se sentir melhor? – Tenten enruga a testa.

- sim, ele é meu amigo. Porque a pergunta? – o encara curiosa.

- me pareceu que ele quer ser bem mais que um amigo... – Tenten não consegue evitar de rir enquanto balança a cabeça em negativa.

- Shisui é assim mesmo, gosta de provocar... – morde os lábios ao pensar do moreno e suas gracinhas. – acho que por nossa amizade ter se formado em uma situação, um tanto quanto peculiar, ele toma certas liberdades... – dá de ombros.

- peculiar como? – Neji ergue uma sobrancelha.

- me chamou aqui só pra perguntar sobre Shisui, depois de passar horas sentado de frente pra ele?! – o encara com a testa franzida. – o que quer com essa conversa, Neji?

- me preocupo com você, só isso... – solta depois de um suspiro. Desvia o olhar para o horizonte novamente enquanto se apoia no batente da ponte. – você é especial para mim Tenten. Odiaria que algo a machucasse...

- não sou tão frágil assim, Neji... – ele ri.

- eu sei que não é. Mas não consigo evitar não pensar em você, não me preocupar com você, em não desejar lhe livrar de todo mal desse mundo... – apenas dispara sem se dar conta das palavras que foram ditas. Tenten o encara surpresa.

- você pensa em mim tanto assim? – sua voz sai como um sussurro.

Ele apenas sorri de lado, se vira vagarosamente para encarar seus olhos amendoados e incrivelmente castanhos, agora sobre a luz do sol eles pareciam ainda mais claros e cintilantes. Ergueu uma mão e acariciou gentilmente seu rosto. Tenten estaria mentindo se não dissesse que estava em choque com tal atitude, nunca esperaria algo assim de Neji. Seus dedos longos e levemente gelados tocando a pele quente de sua bochecha. Não sabia se era o vento frio que agora soprava entre eles, ou apenas o sangue que se concentrava em suas bochechas pelo rubor que certamente a acometida naquele momento.

A leve e ingênua carícia passaria sem muita importância, se não fosse pelo tremor que se instalava em seus corpos, apenas pelo simples contato. Encarando-se profundamente, Tenten sentia o coração bater rápido e forte, enquanto seus lábios se tornavam mais secos que o deserto de Suna. Neji alternava o olhar entre aqueles olhos que o prendiam tanto, e os lábios rosados perfeitamente delineados e incrivelmente convidativos. Já teve o prazer de provar o quanto eram deliciosos e macios, pretendia relembrar a si mesmo o gosto da Mitsashi. Seu corpo se moveu quase que de forma instintiva para o encontro do dela, a qual também sentir-se impelia em diminuir as distâncias e se render ao toque dele.

- Neji-san... – uma voz trêmula ressoa um pouco longe. Foi o suficiente para Tenten esquivar do toque do perolado, dando dois passos para trás. Neji fechou os olhos respirando fundo, umedeceu os lábios para enfim encarar a pessoa que ousou os interromper.

- sim? – sua voz saiu mais carregada de tédio e frustração do que pretendia deixar transparecer.

- é que a Heiko-san acordou... – a jovem moça informa sem o encarar nos olhos. Era visível seu constrangimento.

- obrigado, já estou indo. – com uma reverencia rápida, a jovem saiu caminhando apressada para o mais longe possível.

- o que houve com a sua amiguinha ? – era palpável o tom de escárnio de Tenten. E isso fez Neji suspirar enquanto pressionava com o indicador e o polegar o espaço entre seus olhos.

- Tenten... É complicado... – não queria ter que discutir aquilo.

- claro. Porque tudo que envolve sua doce amiga, se torna complicado! – cruza os braços e fecha a cara.

- Tenten, por favor! Está sendo infantil! – o rosto da morena se contorce em uma expressão de espanto.

- infantil? Eu? – aponta para o próprio peito. – você pode vir aqui e me indagar sobre Shisui, mas se eu faço uma pergunta sobre sua preciosa Heiko, estou sendo infantil! – Neji bufa.

- o tom de desdém em sua voz, vai além de um questionamento inocente! – fecha os olhos e respira fundo. – me desculpe, Tenten eu não quis...

- eu sei. – o corta. – você nunca quer... Mas sabe o que é engraçado, Neji... – se aproxima erguendo seu queixo em desafio. – se você tivesse me perguntado o que fosse a respeito do meu envolvimento com Shisui, não pensaria duas vezes em lhe responder com a verdade. Porque diferente de você, eu sei muito bem o que eu quero!

Dito isso Tenten lhe dá as costas e vai embora. Poderia ter a impedido, poderia ter a segurado pelos braços a beijado e dito que não era nada daquilo que ela imaginava. Poderia ter aberto seu coração, lhe confessado seus verdadeiros sentimentos. Mas ele não o fez. Simplesmente ficou ali, parado enquanto o amor da sua vida o deixava mais uma vez, após uma outra briga besta e sem sentido.

Apertou a madeira do parapeito da ponte em suas mãos com tanta força, que algumas lascas ficaram retidas em suas unhas. Respirou fundo algumas vezes antes de abrir os olhos. A frustração e a raiva o acometiam de forma surpreendente, sentia vontade de gritar, xingar e sair chutando o que encontrasse pela frente. Mas isso não adiantaria de nada, não o ajudaria a resolver sua situação com Tenten, e muito menos sua situação com o clã, que certamente deveria ter reunido o conselho assim que a notícia se espalhou.

Abriu os olhos encarando o céu levemente acinzentado. O clima havia mudado drasticamente desde que acordou, tal qual seu humor. O clima estava frio, seco, com rajadas de vento geladas que bagunçava seus cabelos. Inalou mais um pouco daquela brisa e se recompôs. Uma coisa de cada vez. Dessa forma, caminhou em direção ao complexo Hyuuga. Visitaria Heiko, depois se reuniria com Hinata para discutir acerca dos últimos acontecidos, certamente Hisahi teve os ouvidos cheios do falatório do conselho. Agora seria a hora da verdade, em que seu tio provaria se realmente tinha a intenção de promover as tais mudanças que haviam conversado.

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Um sorriso brotou no canto esquerdo de seus lábios, ela apenas soltou um ar anasalado e cruzou os braços se apoiando na lateral da árvore, a qual subiu para ter uma visão melhor. Sasuke tentava treinar novamente os arremessos de Kunai, do mesmo modo que o irmão fazia tão habilmente. Havia se tornado uma rotina entre os irmãos. Sasuke caminhava pela vila, era abordado por civis que o indagavam e cobravam coisas que ele não tinha resposta, irritado ele recorria ao irmão, ambos brigavam e o mais novo vinha para o antigo local de treinamento.

- tão previsível... – Izume suspirou enquanto observava o mais novo errar alguns alvos.

Não imaginou que o jovem Uchiha fosse ser tão suscetível a joguinhos mentais. No final das contas, Sasuke era uma criança crescida. Havia caído na rede de manipulações que ela havia armado, sem muito esforço. Um sussurro aqui, um boato ali, e foi o suficiente para criar a discórdia entre os irmãos, que até um tempo atrás eram tão unidos. O sorriso lateral se alargou ainda mais, em breve teria cumprido sua missão, e enfim receberia o reconhecimento de seu mestre. Isso a deixava excitada.

Sasuke por sua vez se via mentalmente cansado. Observava mais uma vez os alvos que deveria acertar facilmente, ativa seu Sharingan e arremessa as kunais. Quase todos os alvos são preenchidos, com exceção de um, o que ficava escondido atrás de uma pedra e que seu irmão sempre acertava com tanta facilidade. Bufou frustrado e se pos a recolher todas as armas que havia arremessado.

- você sempre fez parecer tão fácil... – resmunga consigo mesmo ao observar o alvo que não tinha acertado.

Treinar naquele lugar sempre lhe trazia boas lembranças e uma certa paz. Gostava de recordar dos momentos em que passou com seu irmão mais velho, sempre admirou Itachi, apesar da constante cobrança e comparação, nunca odiou o irmão como muitos imaginavam. Ele o amava, e seria capaz de morrer e matar por ele. Apesar de boa parte do relacionamento deles ter sido conduzido de forma torta e até sádica, por parte de terceiros, os irmãos ainda nutriam um grande carinho e respeito um pelo outro.

Foi difícil para Itachi aceitar que Sasuke havia o perdoado por todas as atrocidades que fora obrigado a fazer contra o mais novo, tudo para manter seu disfarce e cumprir sua missão como infiltrado na Akatsuki. Sasuke ergue o olhar observando o céu levemente acinzentado, e a brisa fria agitar a copa das árvores. Suspirou. Se sentia mais longe do irmão agora, do que quando estavam de fato distantes. Talvez se tivesse uma segunda opinião, ou algum conselho, pudesse enxergar as coisas com mais clareza. Ou quem sabe, Observar tudo de uma outra perspectiva. Lhe doía não conseguir entender o mais velho, mas ao seus olhos, Itachi estava errando muito e isso o incomodava.

Sua mente voltou a trabalhar nas opções que tinha para ter uma conversa, nunca admitiria, mas a primeira opção foi Naruto. Porém, não durou nem alguns segundos para que fosse descartado. Apesar de ser um amigo leal e prestativo, era muito impulsivo e espalhafatoso, em menos de minutos toda a vila já estaria sabendo da última fofoca sobre os irmãos Uchiha. Estalou a língua sobre o céu da boca e se pôs a pensar novamente. Havia também a Sakura, que além de sua amiga também era sua amante. Havia colocado muito bem, era. Ele e Sakura não se falavam fazia tempo, e não estava disposto a descobrir toda a sujeira que ambos haviam posto debaixo do tapete daquela relação torta que mantinham.

Suspirou frustrado enquanto passava a mão sobre o rosto. Caralho, estou cercado de idiotas. E então um estalo soou em sua mente. Existia uma pessoa com quem ele já havia exposto ideias, sentimentos e vulnerabilidade. Certo que foi uma situação pontual, mas depois daquilo havia se sentido bem melhor consigo mesmo. Será que funcionária novamente? Ou melhor, será que ele conseguiria se abrir novamente sem a influência de uma situação extrema como da última vez? Não estaria sobre efeito de remédios e nem sobre uma situação estressante que é encarar uma missão. Será?...

- caraminholas na cabeça, Sasuke... – Izume depois de notar a expressão do mais novo se iluminar, e a tensão de seus ombros diminuírem, resolveu se aproximar. Não podia permitir que Sasuke relaxasse, ela precisava dele estressado para seu espírito impulsivo e rebelde assumir o controle.

- o que quer aqui Izume? Pelo que me lembro, Itachi estava em seu escritório... – responde sem ao menos virar para encará-la.

- me vê mesmo como alguém que é obcecada por seu irmão?

- e não é? – ergue uma sobrancelha enquanto vira sua cabeça a 45° para apenas lhe lançar um olhar de desdém.

- confesso que já fui levemente apaixonada por Itachi... – Sasuke ri em desdém. – mas nossa relação mudou com o passar dos anos. Seu irmão não é mais o mesmo... Já deve ter notado...

- Itachi assumiu muitas responsabilidades. Não tem tempo para futilidades de paixonites adolescentes... – arruma as coisas que havia trazido para seu treinamento, ainda de costas para Izume. A considerava irritante, e o afeto de seu irmão por ela era uma das coisas que não entendia em relação a Itachi.

- é... Pelo visto ele não tem mais as mesmas prioridades. No amor, com a família... Com o clã... – Sasuke estanca e ela sorri. Tão previsível.

- o que quer com essa conversa, Izume? – finalmente se vira para encarar a mulher que ostentava uma expressão cínica.

- com certeza você já deve ter ouvido os boatos... Seu irmão está dando muita abertura para ser questionado. Há muita insatisfação pelos corredores do clã, ele inspirou mudanças, mas veja onde estamos agora? Não muito distante de onde estávamos antes de tudo...

- sempre haverá insatisfação. Não tem como agradar a todos. E se suas informações se baseiam em boatos, não me admira que Itachi não a ouça... – a encara com tédio.

- está igual a antes, você não lembra porque era muito pequeno... – Sasuke avança sobre a mulher.

- não me subestime, Izume! Não sou tão benevolente quanto meu irmão, e não temos nenhum tipo de laço afetivo que me impeça de cortar sua garganta aqui e agora!

- o faça então! Já que isso o livraria das culpas e frustrações! Mas saiba que minha morte não melhorará em nada a situação política do clã, pois se isso fosse uma opção acredite, eu mesma já teria o feito! – sustenta o olhar do mais novo. Sasuke estava ofegante e de pupilas dilatadas. Adoraria cortar a língua venenosa daquela mulher fora, mas apenas se afastou e guardou sua kunais dando-lhe as costas.

- você fala demais... – cospe enquanto se afasta.

- você sabe que é verdade o que digo. Você também sente a tensão no ar, Sasuke... Talvez você seja o único que possa fazer alguma coisa agora. Estamos em declínio novamente... – deu sua última cartada e viu o moreno cessar seus passos. Não podia ver seu rosto, mas sabia que por trás daquela expressão séria e aparente desinteresse, havia muita revolta e ideias fervilhando em sua mente.

- você precisa lembrar de uma coisa Izume... Uchihas nunca caem...

Bingo!

Sasuke continuou seu caminho, deixando a mulher com um largo sorriso no rosto. Enfim sua missão estaria completa, agora faltava somente o último ato para que Sasuke cumprisse seu destino. Poderia até sentir pena do jovem garoto que se achava tão esperto, tão superior a todos, mas no final das contas era apenas uma criança revoltada.

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Tenten caminhou a passos duros até sua casa, entrou bufando totalmente irritada. Jamais admitiria, mas o ciúme a corroía, apenas ao citar o nome da tal Heiko o sangue fervia em suas veias. Repassava em sua mente toda a cena de seu encontro com Neji, estava indo tudo certo, até imaginou que ele fosse beijá-la novamente. Mas como nada em sua vida era simples, eles foram interrompidos.

- é complicado Tenten... – imita a voz do moreno revirando os olhos. – talvez seja realmente complexo demais ou eu seja burra mesmo.

Em um acesso para descontar sua frustração, lança longe um travesseiro, o qual acerta uma das caixas que continha coisas de seu antigo apartamento. Ainda não havia desembalado tudo, na verdade não tinha desencaixotado quase nada, pois sabia que isso implicaria em mexer nas coisas de seus falecidos pais. Ainda não estava pronta para isso.

Ergueu o corpo da cama, muito contrariada e foi arrumar sua bagunça. Mas não deixou de resmungar e reclamar sobre Neji. Enquanto colocava as coisas espalhadas no chão de volta na caixa, se deparou com algo que a surpreendeu. Um blusão azul, quase cinza que Neji havia a emprestado quando fora receber a fatídica notícia no escritório da Hokage.

Pegou a peça delicadamente e a ergueu até o nariz, inalando o aroma do tecido. Tinha o cheiro dele. O cheiro de cravinho e anis estrelado que ela tanto se acostumou a sentir nas roupas do Hyuuga, apertou mais a roupa contra si. Aquele cheiro lhe trazia boas memórias, de quando ainda eram uma equipe, das risadas que deram juntos, as noites mal dormidas em missões. Lembrava que sempre costumava adormecer aconchegada ao Hyuuga, e aquele cheiro a relaxava.

- o maldito ainda tinha que ser cheiroso...

Guarda todos os pertences, juntamente com o blusão do ex colega de equipe. Se dirige ao banheiro, queria que a agua quente levasse seus pensamentos a respeito da sua relação com o perolado. Assim que terminou de se arrumar, notou que o céu estava mais cinza do que quando chegou, seus olhos caíram sobre o jardim e logo soube o que fazer.

Pos um antigo avental que costumava usar quando ia ajudar sua mãe com as plantas, e se dirigiu a fazer uma coberta para as flores mais delicadas que não suportariam o frio do inverno que estava por vir. Sua mãe com certeza já teria feito isso com antecedência, mas devido as atribulações da vida da Mitsashi tudo ficou para cima da hora. Podia até ouvir a voz de sua mãe a brigando por sempre deixar tudo para o ultimo instante. Sorriu triste.

Já tinha todos os materiais necessários para prosseguir, mas uma estranha sensação de estar sendo observava a incomodava. Já havia olhado em volta, mas ainda sentia olhos a seguindo. Foi quando notou a silhueta de alguém encostado em uma das árvores em seu jardim, pegou um martelo como arma, não era o mais adequado, mas serviria.  Estreitou mais os olhos, e seus ombros relaxaram ao reconhecer a figura que a observava na espreita.

- ah... é você Sasuke... – o moreno se aproxima com um sorriso cínico.

- esperava outra pessoa? Um outro Uchiha talvez? Ou quem sabe um Hyuuga... – a morena apenas revira os olhos e lhe dá as costas.

- a que devo a honra dessa calorosa visita? – o sarcasmo era palpável.

- estava só passando... – Tenten a encara de lado e ergue a sobrancelha enquanto o outro dá de ombros. Sasuke Uchiha jamais admitiria que precisava conversar com alguém.

- certo... – abriu a caixa de ferramentas. – já que está aqui, me ajude a montar uma coberta para essas plantas. – o moreno fez uma careta.

- pra que fazer isso? – retira a capa e tira sua katana, deixando ambas encostadas no batente da varanda. – não é melhor deixar que a natureza siga seu curso? No verão elas nascerão novamente... – Tenten ri.

- logo se vê que você não entende nada sobre plantas... – lhe entrega a ponta de uma fita métrica. – sua mãe não lhe ensinou que plantas delicadas não resistem ao inverno?

- minha mãe não tinha um jardim. Na verdade não cultivávamos nada, um vez eu e Itachi tentamos adotar um cachorro e fomos veementemente repreendidos. Mas mesmo assim o mantivemos escondido durante alguns dias, até sermos descobertos... – o moreno sorri nostálgico.

- você sempre foi uma criança rebelde então, não me surpreende nada... – termina de tirar as medidas e as marca em um pedaço de madeira. – nunca fez o projeto do feijãozinho no algodão quando era criança?

- claro que fiz! – franze a testa. – ele morreu em dois dias... – fala baixo, mas a morena ouve e rompe em risadas.

- você matou o feijão?! Essa é a tarefa mais simples de todas! É só molhar o algodão e deixa-lo lá!

- achei que ele precisasse de mais água! Só queria cuidar dele... – formou um bico emburrado.

- estou repensando seriamente sobre sua presença perto das minhas plantas, Uchiha... – ele revira os olhos e bufa.

- é até melhor mesmo... – tenta se afastar da atividade, mas lhe é lançado algumas ferramentas para que segure. – mas o que? Pensei que não me quisesse perto das suas preciosas plantas!

- e não quero, por isso vai lidar com coisas que não tenham vida. Assim não corre o risco de você as sufocar com todo o seu amor, Felícia!

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