Conversa vai, conversa vem...

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   Como de costume, aos sábados, eles se reuniam na calçada e ficavam até tarde da noite olhando o movimento da rua e conversando. A conversa oscilava entre aparições de espíritos e acontecimentos sobrenaturais, política e fofocas no geral. Quando ia ficando tarde, os menores começavam a abrir a boca, com sono, e entravam arrastando suas cadeiras, prontos para dormir. Os mais velhos ainda ficavam ali, e os temas das conversas iam sendo menos variados, geralmente entre visagens e a frio da noite.
   Nesse dia, não foi diferente: no início da noite, cada um pegou sua cadeira, banco ou tamborete, e carregou para a calçada. A rua estava pouco movimentada, passava um bêbado ali e acolá, cambaleando e falando alto. Os pequenos, sentados em seus tamboretes, se encolhiam, só faltavam entrar debaixo da saia da mãe, com medo dos bebuns. Ainda bem que naquela noite só tinha bêbado na rua. Quando era noite dos penitentes passarem, a gurizada nem de casa saía.
   - Ali é um corno, isso sim! Sai e a mulher fica em casa trepan...
   - Zé! Os meninos tão aqui ainda, tome cuidado...
   - Maria, num já está na hora deles irem se deitar não? Já está tarde, eles já brincaram, correram aqui pelas calçadas, encheram o bucho de doce lá na venda de Caetano, bota esses meninos pra se aquietarem!
   Maria se levantou e chamou as crianças para dentro de casa. A partir daquele momento, a noite iria ser animada. Os adultos, enrolados em lençóis ou vestidos em moletons, encolhidos nas cadeiras, iriam contar sobre escândalos da família e aparições fantasmagóricas que viram. A rua ficava mais silenciosa naquele horário, até os cachorros latiam menos, parece que todos gostavam de ouvir as conversas que saiam dessas rodas.
   - Iê iê... o céu tá estrelado, mas tá fazendo um friozinho.
   - É verdade...
   - Sim, já ia me esquecendo de dizer o que foi que aconteceu ontem... – Pimpa falou.

CONTINUA ABAIXO...

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