DURMA

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SE UM DIA VOCÊ ACORDAR E ME VER SORRINDO PARA VOCÊ, APENAS VOLTE A DORMIR, NÃO SE PERGUNTE COMO EU CONSEGUI ENTRAR NA SUA CASA, SÓ DURMA.

- Já estava no final da madrugada, perto de amanhecer, mas ainda um pouco escuro. Como o teto da minha casa não é forrada, quando vai amanhecendo, as brechas das telhas vão aparecendo e a casa vai ficando clara por dentro, mesmo com as portas estando fechadas, vocês sabem... Aí, nesse dia, acordei com meu cachorro Bolinha latindo igual doido. Eu ainda tava bêbada de sono, enxergando meio embaçado, mas consegui ver que, de frente a minha cama, tinha a sombra de um homem, ele tava olhando pra mim e sorrindo. Na hora eu nem estranhei, mas o cachorro tava latindo muito, aí quando eu percebi o que estava acontecendo, me alertei e me sentei na cama de uma vez, com os olhos arregalados, mas a sombra não estava mais lá. Fiquei com medo.
- E o que você fez?
- O melhor a se fazer.
- O quê?!
- Me cobri com o lençol e fingi que não estava ali. Só saí da cama quando amanheceu de vez.
- Olhe... – Zé levantou o dedo indicador. Quando ele fazia isso, todo mundo já sabia que ele iria fazer uma análise importante, ou daria algum aviso, então todos se calavam e prestavam atenção. – Uma coisa é certa, casa prende alma. Se você morar em 10 casas diferentes, não importa onde você morra, sua alma vai voltar para uma das 10 casas que você morou, e essa casa pode ser a que você mais gostou de morar quando estava vivo. Eu tenho certeza que esse cabra que Maria viu no quarto dela, era José do Santo.
- Valha, Zé!
- Antes, beem antes de você morar nessa casa, ela era de Maria Moca e José do Santo.
- “Maria Moca” hahahahah – Pimpa estava realmente se divertindo com tudo aquilo.
- Não ria, não. Ela era realmente moca, surda, não ouvia nada – Pimpa ficou séria, sentiu-se levemente culpada por debochar do nome da falecida.
- Maria Moca e José do Santo eram um casal desmantelado, viu. Moravam de favor na casa que era de tia Solidad, quase todo dia, os dois estavam bebendo e as vezes iam lá para casa, fuxicar as tramoias que eles faziam. Eles andavam pelas casas, curando o povo com planta e água benta. Não curavam ninguém desse jeito, pelo menos não quem estivesse com alguma doença séria, mas recebiam muito dinheiro para fazer isso...
- Por falar nisso, Zé, me lembrei de uma coisa, mas isso aconteceu mesmo, não foi coisa de espírito não. – Maria, como sempre, cheia de notícias...

CONTINUA...

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