Sign of the Times

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They told me that the end is near
We gotta get away from here

POV ARIZONA

— Arizona... E-eu sinto muito... - a voz de April preenche a sala.

Com o cenho franzido, viro meu rosto para a tela. Um "não pode ser" deixa minhas cordas vocais antes de meus olhos focarem na imagem em minha frente.

Eu sinto muito.

— April, por favor me diz que isso é brincadeira...

Tento limpar as lágrimas que escorríam por minhas bochechas porém sem sucesso, já que nunca paravam.

Eu sinto muito.

— Por favor, Kepner...

Com os olhos focados agora em minha amiga, capturo os verdes completamente preocupados e marejados também, ela larga o aparelho no suporte e vem me aninhar nos braços de forma protetora, deixando-me chorar e chorando junto. Logo somos abraçadas por Owen também.

— Eu sinto muito, Ari, muito mesmo... - ela beijou meus cabelos — Mas vamos resolver isso, ok? Estou aqui do seu lado, Zona, e não vou sair nunca.

Após longos minutos de lágrimas, seco minhas bochechas com as mãos e, ainda o queixo tremendo, agradeço aos ruivos antes de baixar o olhar para colocar minha roupa.

— Por favor não contem a ninguém. - distribuo o olhar entre ambos — Nem para Bailey, Alex ou Richard. Ninguém. Por favor. - fungo colocando meu blazer — Eu ainda vou decidir o que fazer e daqui uns dias... Faremos outros exames.

[...]

— Como tem tanta convicção disso sem os resultados? - Amelia questionou secando as lágrimas que escorriam pelas bochechas. — Você está dizendo como se soubesse que é o pior, Zona.

Amelia, Alex, April e Richard estão sentados na espaçosa sala de Robbins, atônitos com a notícia repentina que mudará - e já mudou - para sempre a vida de Arizona.

[...]

Silêncio.

Respirações pesadas.

E então, depois de intermináveis minutos, ele veio: O choro.

— Por favor, não chore...

— Como pode me pedir isso, Arizona?! - ela gritou na linha em meio aos próprios soluços — Você não nos deixou visitá-la quando perdeu a perna, as únicas notícias suas que tínhamos era por Callie, você mal nos ligava!

— Barbara, por favor... - a voz de meu pai é embargada e cautelosa.

— Não, Daniel, não me peça para ter calma, não agora!

Espero mais alguns segundos antes voltar a falar.

— Não está sendo fácil para mim também, mamãe - permito que mais algumas lágrimas caiam —, eu não sei o que fazer... Independentemente do resultado do exame eu tenho medo de... Vocês sabem...

Fecho os olhos por alguns segundos imaginando como seria se não pudesse ver Sofia crescer e preciso me segurar para não soluçar. Lembro-me de quando Tim se foi e o mundo todo virou de cabeça para baixo, meus pais perderem a única filha viva seria definitivamente uma dor imensurável, assim como foi com Timmy.

Escuto meus pais conversarem baixinho e, quando o coronel pede para minha mãe ir tomar uma água, suspiro sabendo que iria chorar ainda mais tanto pela situação quanto pelos meus problemas com autoridades.

— Papai... - começo cautelosa.

— Ari, minha filha, o que está se passando na sua cabecinha? - perguntou calmo, me surpreendendo.

Abro a porta da varanda e sento na cadeira com uma carteira de cigarro e um isqueiro que havia comprado ao sair do trabalho. Andrew está de plantão então ninguém me viu ou veria nesse estado.

Tiro esses poucos segundos para refletir acerca do misto de sentimentos que me assombraram desde que descobri e tudo se resumiu a uma palavrinha com quatro letras mas que, em minha vida, já ocupou muito espaço: Medo.

— Eu tenho medo d-de morrer e não ter passado esse tempo com a Sofia... - tapo minha boca quando um soluço alto me atinge, levando embora qualquer controle que tinha — Eu tenho tanto medo que ela me odeie por não poder ficar do lado dela, por estar do outro lado do país e não ter ido para Nova York quando ela me pediu... - minha voz fica em um fio — Sofia é a coisa mais importante da minha vida, mas eu não posso fazer ela ficar aqui contra a vontade dela, não posso fazer isso com a Callie também, ela tem a guarda, eu deixei a nossa filha ir e não posso voltar atrás. - murmuro entre lágrimas.

Mais silêncio.

Mais respirações pesadas.

Mais choro.

— Venha morar conosco, Ari. - diz minha mãe.

Mais silêncio.

Meus pais moram na zona rural de Nova York, cerca de 40 minutos de carro da área urbana, 50 quando chove. Sempre quiseram mudar para uma fazenda quando o coronel se aposentou e, ao saberem  que a neta moraria em NY, decidiram se partir.

— Assim você pode ficar com a Sofia, nós dois e Callie a hora q-

— Não. - interrompo o mais velho — Não coloque Callie no meio disso, por favor, ela não vai saber de nada.

— Como assim, Robbins?

Travo. Como conseguiria explicar para os meus pais sem entrar em detalhes sobre sentimentos que nem eu mesma entendia?

— Eu não quero que ela saiba. - digo simples, curta e grossa — Callie Torres não faz mais parte da minha vida, eu não vou contar a ela. Nem a Sofia. Os únicos que irão ficar sabendo disso são vocês e alguns amigos, mais ninguém.

— Ficou maluca, Arizona? - questionou ele subitamente impaciente — Onde foi parar o bom soldado na tempestade? Onde está sua honra? Você deve isso a ela, aquela mulher te tirou do chão quando você não conseguiu sair sozinha, o mínimo que você pode fazer é contar a verdade!

— Papai, é mais... complicado do que parece, por favor não entre nesse assunto outra vez, ok? - peço com a voz firme apesar dos pesares — Eu não quero falar sobre isso então por favor respeite meu pedido.

Outra vez, silêncio.

Minutos se passam - inclusive chego a olhar para ver se a chamada ainda estava conectada - até que escuto a voz doce de minha mãe.

— Quando você vem, Ari? Qual é o plano?

De fato a melhor opção era ir. Não poderia pedir a guarda de minha filha dizendo "ei, Torres, estou com câncer! Posso ficar com a Sof enquanto faço o tratamento?", era completamente inviável.

— Amanhã eu preciso fazer alguns exames, ainda tenho que terminar minhas cirurgias marcadas, me demitir e pedir uma carta de recomendação pra tentar arrumar um emprego aí então... Acredito que no máximo daqui duas semanas.

— Ok... - ela prossegue — Quer seu poster da Cindy Crawford na parede do seu quarto?

Gargalho no telefone junto com os dois, permitindo que por alguns minutos toda a energia negativa fosse embora, ainda que momentaneamente.

— Eu adoraria, mamãe!

Once In a LifetimeOnde histórias criam vida. Descubra agora